A foto de Megan Rapinoe empilhando premiações após a vitória dos EUA por 2 a 0 sobre a Holanda — além do troféu do tetracampeonato das norte-americanas, a capitã levou a bola e a chuteira de ouro e foi eleita a melhor jogadora da final de Lyon — representa muito mais do que a coroação de uma grande campanha. Ativista e defensora dos direitos LGBTQ+, ela não perdeu oportunidades para se posicionar contra preconceitos. No início da Copa, protagonizou polêmica com ninguém menos do que Donald Trump, o presidente dos EUA, ao dizer que não visitaria a Casa Branca caso fosse campeã da competição. O norte-americano rebateu: "Ela deveria vencer antes de falar".
De cabelo lilás, a capitã venceu. E mais: marcou seis vezes, chegou à marca história de 50 gols pela seleção, deu três assistências e usou sua imagem para reivindicar igualdade. Em sinal de protesto, não colocou a mão sobre o peito e nem cantou o hino antes das partidas do Mundial. No sábado, véspera da decisão, fez duras críticas à Fifa pelo fato de a final da Copa feminina ter sido marcada para o mesmo domingo em que a Copa América e a Copa Ouro também tiveram seus campeões definidos.
A entidade, aliás, foi alvo de vaias quando o nome do presidente Gianni Infantino foi anunciado para a premiação. No estádio em Lyon, com público de quase 58 mil pessoas, um coro pediu "equal pay", pagamentos iguais na tradução. A mensagem é semelhante à que Marta já havia deixado ao apontar para um símbolo de igualdade em sua chuteira preta, sem patrocínio esportivo estampado, ao marcar seu 17º gol em Copas e se tornar a maior artilheira do torneio entre as categorias masculina e feminina. Depois, ela explicou: era um gol de todas as mulheres.
Antes mesmo de começar, a Copa do Mundo de 2019 já era considerada um marco para o futebol feminino mundial. Com o fim do torneio, há a certeza de que a mensagem de igualdade reforçada por jogadoras e pelo público não parará de ecoar com o tetra norte-americano. No Brasil, por exemplo, as disputas das Séries A1 e A2 seguem para a dupla Gre-Nal: o Grêmio está a dois jogos de subir para a primeira divisão, e o Inter tem classificação encaminhada para a fase eliminatória na disputa pelo título. Embora a diferença estrutural seja gritante — há 80 mil mulheres e mais de 1,5 milhão de jogadoras de base nos EUA, contra 3 mil adultas e 300 garotas brasileiras registradas —, que revelemos mais Martas e Megans. Não só pelo futebol, mas também no discurso de representatividade.