Embalado por um acordeon e cantando "arriba la celeste", um grupo de 91 uruguaios dançava em passos miúdos, em frente ao Beira-Rio. Mais do que um alento ao Uruguai, que entrará no campo da Arena do Grêmio nesta quinta-feira (20), às 20h, contra o Japão, pela segunda rodada do Grupo C da Copa América, o ritual soava como uma comemoração ao que eles estão prestes a viver. Ou melhor, uma celebração por quem eles verão de perto.
Foram mais de dez horas e 810 quilômetros de viagem entre Salto, no noroeste uruguaio, e Porto Alegre para encontrar dois ilustres conterrâneos: Cavani e Suarez.
— A gente adora os dois, mas amamos o Cavani, que é mais identificado com a cidade. A família dele ainda mora lá, e ele até vai visitá-la nas férias. O Cavani tem uma relação mais afetiva com Salto. O Suarez tem um monumento em uma esquina da rua, mas pouco vai para lá. Mesmo assim, são quase deuses para nós — contou Annii Falletti, 50, advogada.
Antes de assistirem aos dois craques nascidos na cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, os torcedores aproveitaram o dia de sol para conhecer Porto Alegre. Passaram pelo Centro Histórico, pela orla do Guaíba e terminaram o passeio no Beira-Rio para conhecer também o estádio que recebeu a Copa em 2014.
O roteiro foi bem parecido ao de Fabian, 51 anos, e suas filhas, Isabela e Vanessa. O trio garantiu ingressos para acompanhar a seleção uruguaia em toda a primeira fase. Porto Alegre, portanto, é o segundo destino da família, que hoje mora nos Estados Unidos e usou as férias de verão das estudantes para viajar ao Brasil. O caminho começou em Belo Horizonte, onde o Uruguai bateu o Equador por 4 a 0 no domingo (16), e terminará no Rio de Janeiro, contra o Chile, na segunda (24). Os três aproveitaram a manhã ensolarada para passear na Redenção e ficaram surpresos com as semelhanças que encontraram com relação ao seu país de origem.
— O clima é parecido, a cultura, o mate. Compramos até uma mateira e uma cuia aqui — falou o engenheiro civil, exibindo uma foto da aquisição, antes de perguntar o que significava a palavra "tchê", estampada no porongo.
As gurias, de 16 e 19 anos, apostam em uma final entre Uruguai e Brasil. As duas são unânimes: é a melhor equipe de Óscar Tabárez que elas já viram jogar. O treinador, aliás, é idolatrado por qualquer torcedor quando o assunto é a seleção.
— Temos um grupo muito unido. O Tabárez inspira algo que parecia ter se perdido na seleção: o respeito. Agora, os jogadores estão desejando chegar na seleção, almejam isso. Antes, era uma obrigação. O sentimento é de amor ao Uruguai agora — opinou Claudio Repetto, 39 anos, técnico eletrônico.
O clima no parque era amistoso entre gaúchos e uruguaios. Tanto que o professor universitário Ronaldo Herrlein Junior, 54 anos, se aproximou de Repetto e de sua esposa para falar sobre sua simpatia pelo país vizinho e aproveitou para fazer uma brincadeira.
— Hoje, os gremistas torcerão pelo Uruguai. Aí vocês nos ajudam a convencer o Cavani a jogar a Libertadores no Grêmio. Só seis meses, não precisa mais — riu o torcedor.
Herrlein vestia uma camiseta celeste do Grêmio. Mas, na hora do jogo, usará o uniforme uruguaio comprado a muito custo. Foram cinco tentativas frustradas em lojas pelo Centro de Porto Alegre: o produto estava esgotado. Segundo ele, os vendedores relataram que a procura nos últimos dias foi enorme.
Para a partida desta noite, a Arena deve receber um público de, aproximadamente, 35 mil pessoas. Há uma estimativa que 15 mil uruguaios estarão no estádio gremista.