A forma com que vemos o surfe sofrerá mudanças a partir de quinta-feira (6). Pela primeira vez na história do Circuito Mundial da modalidade, uma etapa da temporada será realizada em uma piscina de ondas artificiais. É o sonho de Kelly Slater sendo realizado em seu rancho na cidade de Lemoore, a 160 quilômetros do litoral, no interior da Califórnia.
O projeto, desenvolvido em segredo por quase uma década pelo surfista americano através da empresa Kelly Slater Wave Company (KSWC), foi lançado oficialmente em dezembro de 2015 e impressiona pela perfeição da onda, com a formação de tubos e possibilidade para execução de manobras de borda e aéreas.
Com uma proposta completamente diferente, o Surf Ranch Pro será realizado em até quatro dias, com um formato fora dos padrões da Liga Mundial. Quase um espetáculo, a palavra "inédita" define bem a etapa mais aguardada do ano.
Além de ser o primeiro evento valendo pontos na corrida pelo título, é também o primeiro com venda de ingressos para o público assistir das arquibancadas, com direito a alimentação e acomodação. Será a primeira etapa que não depende da natureza, e a primeira vez que os melhores surfistas do mundo competirão em igualdade de condições.
O evento contará com apresentações especiais em todos os dias. A banda de rock-americana Blink-182 é a atração principal na sexta-feira. A programação até domingo já está definida. A ordem de entrada será pelo ranking mundial, com os líderes sendo os últimos a estrear. No horário de Brasília, o campeonato está marcado para começar às 13h, com transmissão dos canais ESPN.
Entenda o formato de disputa
- Diferentemente de todas as demais etapas do Circuito Mundial de Surfe, o Surf Ranch terá apenas um atleta por vez na água. Tanto no masculino quanto no feminino, o evento será dividido em duas fases: qualificação e final.
- A primeira terá três rodadas. Em cada uma delas, o surfista pega duas ondas: uma para a direita e uma para a esquerda. Ao fim da classificatória, cada atleta terá surfado seis ondas. A melhor direita e a melhor esquerda entram para o somatório final de cada um. Avançam à decisão os oito surfistas que obtiveram a melhor combinação das duas ondas.
- A fase final será constituída por três rodadas, em sistema igual ao da fase qualificatória: três entradas para cada surfista, com duas ondas em cada, uma esquerda e uma direita. Cada surfista soma a melhor esquerda e a melhor direita. O melhor somatório vence.
- A competição masculina contará com 36 atletas, e a feminina terá 18 surfistas.
Favoritos
- Os grandes favoritos ao título do evento representam a bandeira brasileira: Filipe Toledo e Gabriel Medina. Ambos são líder e vice- líder do campeonato, respectivamente. Além de serem os melhores surfistas da atualidade, a piscina criada por Kelly Slater não é novidade para eles.
- No primeiro grande evento que marcou a história da onda artificial, o Future Classic – The Test, os paulista fizeram dobradinha no pódio. Medina ficou em primeiro e Filipinho em segundo.
- Outro ponto que torna os brasileiros favoritos é o potencial da onda. Os surfistas podem aproveitar as ondas tubulares para abrir seu leque de manobras aéreas, além de garantirem longos tubos, especialidades de ambos.
A ciência por trás da onda
Um tipo de "locomotiva" é uma das grandes responsáveis pela formação da mais longa e melhor onda artificial do mundo. Ela puxa um hidrofólio — uma espécie de pá gigante, projetada minuciosamente para ao mesmo tempo puxar e empurrar a água e formar a ondulação. Essa locomotiva é movida por mais de 150 pneus de caminhão a aproximadamente 30km/h.
Com a onda formada, amortecedores nas bordas da piscina deixam a água calma e preparada para a próxima onda, evitando que ela fique agitada após a quebra. Em três minutos, a piscina volta ao seu estado estático e está pronta para a próxima onda. A estrutura pode ser programadas para surfistas iniciantes, intermediários ou avançados. A onda pode chegar a até dois metros de altura.
O fundo também é projetado e cuidadosamente calculado para ajudar na formação da onda, pelo impulso dado pelo hidrofólio.
Duas grandes mentes lideraram a idealização do projeto: Kelly Slater, onze vezes campeão mundial, e Adam Fincham, engenheiro especialista em mecânica de fluídos na Universidade do Sul da Califórnia.