Novidade mais polêmica da Fórmula 1 desde o abortado sistema de classificação de 2016, o sistema de proteção frontal do cockpit, conhecido como "halo", introduzido neste ano, chegou para ficar.
Desenvolvido no últimos dois anos pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) após uma série de acidentes mortais, o halo tem como objetivo proteger a cabeça dos pilotos em caso de choque com um objeto projetado no ar.
Nos testes realizados pela FIA, a estrutura de titânio em forma de quilha permitiu desviar uma roda lançada a 225 km/h. Apesar do sucesso, a nova peça não convenceu nem o público nem o paddock, a poucos dias do início da temporada, neste domingo em Melbourne.
Além dos puristas, que defendem que os carros de F1 sejam abertos por natureza, as maiores preocupações dos reticentes a este sistema são primeiramente estéticas. O diretor da Mercedes, Toto Wolff, pediu há poucos dias uma moto-serra para eliminar o halo.
"Acho que é preciso velar pela segurança dos pilotos, mas é preciso encontrar uma solução com melhor aparência", criticou.
"Sabíamos há algum tempo que isso precisava chegar e acho que depois de algumas corridas vamos esquecer completamente que está lá", avaliou por sua vez o piloto britânico Lewis Hamilton, atual campeão mundial.
- Difícil integração ao chassi -
Outros pilotos, como o espanhol Fernando Alonso (McLaren), consideram que "não deveria haver debate" sobre um elemento que melhore a segurança dos carros.
Integrar o halo ao chassi não foi fácil para os times, já que nem todos estavam preparados quando foi anunciada a introdução do dispositivo, que só é possível ser adquirido por meio de três fornecedores certificados.
"Foram meses de trabalho", confirmou à AFP o diretor esportivo da McLaren, Eric Boullier. "Foram colocados vários desafios quanto ao peso do veículo e a interação com sua eficiência aerodinâmica".
Também existe um custo que não se pode negar, "várias centenas de milhares, quiçá um milhão de dólares" para a Force India, segundo o diretor de operações da escuderia, Andrew Green.
Os pilotos temiam que a visão fosse prejudicada pela barra vertical que une o halo ao cockpit, justamente em frente aos olhos. Mas esse não é o caso.
Por outro lado, complicou a operação para entrar e sair do carro. Alguns times, inclusive, utilizam uma espécie de estribo para facilitar a tarefa dos pilotos.
- Problemas de visibilidade -
Alguns pilotos temem que o halo crie obstáculos na visibilidade das luzes durante a largada, um problema que pode piorar em pistas de grande desnível.
"Poderia ser um problema em uma curva como Eau Rouge (no traçado belga de Spa-Francorchamps). Quando estivermos atrás, no pelotão, não veremos se um piloto roda ou se bate contra o muro na frente", garantiu o dinamarquês Kevin Magnussen (Haas), um dos principais críticos ao dispositivo.
O tempo necessário para sair de um carro equipado com o halo também deixa alguns inquietos, sobretudo em caso de incêndio. Mas a FIA lembra que o dispositivo facilitará a extração do piloto de um carro capotado, já que ficará apoiado na estrutura.
"No ano passado, tivemos 42 acidentes mortais em corridas automobilísticas", lembrou o presidente da FIA, Jean Todt, em coletiva em Londres na semana passada. "Imagine como nos sentiríamos se acontecesse algo que o halo poderia impedir?", acrescentou.
Todt, por outro lado, não fechou a porta para possíveis mudanças. "Estou certo que seremos capazes de melhorá-lo no futuro", disse aos críticos.
Enquanto isso, a McLaren colocou com humor o nome de um patrocinador sobre o halo. A empresa é uma marca britânica de chinelos.
A marca, aliás, vai colocar à venda alguns chinelos denominados "edição Halo" com cores laranja e azul, as mesmas da histórica escuderia de Woking. Os lucros das vendas serão revertidos a instituições de caridade.
* AFP