Para um turista, tão comum quanto caminhar pela Plaza Mayor, em Madri, ou pela Rambla, de Barcelona, é fazer uma visita guiada pelo Santiago Bernabéu ou pelo Camp Nou. Se for em um dia de clássico, grande gol! Visitar os estádios do Real Madrid e do Barcelona é como deixar os bits e LEDs da tela do Fifa Soccer para mergulhar na vida real, que, sabemos, tem muito mais gosto, cor e cheiro do que a tela de qualquer game.
A despeito das questões políticas e econômicas implicadas na maior crise separatista na Europa desde os Balcãs, há um aspecto bem prático que deve começar a preocupar os boleiros. Se a Catalunha, terra do Barça, se separar da Espanha, como indica o resultado do plebiscito de domingo, como fica o futebol?
Há quem diga que o Barça não seria o Barça sem o Real Madrid. Mais ou menos como o Grêmio não seria o Grêmio sem o Inter e vice-versa. Em caso de um Campeonato Catalão, o Barça perderia força por conta da baixa qualificação de adversários locais: Espanyol e Girona (que disputam a Primeira Divisão espanhola) e o Gimnàstic de Tarragona e o Reus Deportiu, da Segunda Divisão.
A Uefa também sairia perdendo, já que o novo país precisaria se filiar à entidade, e o Barça, esperar para voltar à Liga dos Campeões da Europa. No horizonte: queda de audiência na TV, o que significa, na prática, perda de milhões de euros. Aliás, euros? A moeda do novo país é tema para outro assunto.
Para os boleiros, o mais importante: a ausência da Liga Espanhola de craques como Jordi Alba, Gerard Piqué, Sergio Busquets e Martín Montoya – que, aliás, sairiam da seleção espanhola.
O Barça até poderia imitar o Swansea, equipe do pequeno País de Gales, que prefere disputar o Campeonato Inglês em vez da liga local, mas duvido, dada a emoção e o orgulho com que a população votou no referendo de domingo – jogar o Campeonato Espanhol seria uma traição do time que é uma instituição catalã.
A nós, reles turistas ou boleiros, resta o conforto de saber que vamos continuar tendo o Camp Nou e o Bernabéu para visitar. Mas, para percorrer os 624 quilômetros entre Madri e Barcelona, talvez tenhamos que mostrar passaporte e passar por imigração – se o novo país não entrar na União Europeia, o Tratado Schengen de livre circulação não estará valendo. Tempos difíceis.