Apenas um ano após a Olimpíada, na qual virou a queridinha da torcida brasileira, a seleção de futebol feminino vive uma crise sem precedentes.
A demissão da técnica Emily Lima, a primeira mulher a dirigir a equipe na história, após 13 jogos destampou um baú de descontentamentos entre as principais jogadoras do país, destacando-se insinuações veladas de machismo, críticas de falta de estrutura e anúncios de boicote de, até agora, cinco atletas à convocação do novo treinador, Osvaldo Alvarez, o Vadão (comandante da equipe no quarto lugar dos Jogos do Rio).
Com 117 jogos pela seleção, a atacante Cristiane, 32 anos, deu início à renúncia coletiva logo após a demissão de Emily e o anúncio da chegada de Vadão. Nas redes sociais, a atleta disse que encerrava “com muita dor” o seu ciclo na equipe em que foi vice-campeã mundial em 2007, duas vezes medalha de ouro no Pan-Americano, medalha de prata em duas Olimpíadas consecutivas e campeã sul-americana e da Copa América. E foi seguida pela zagueira Andreia Rosa, pela lateral-esquerda Rosana, pela meia Fran e pela lateral Maurine, que confirmou sua saída via Instagram.
– Eu quero dizer que encerro meu ciclo na seleção brasileira por vários motivos. Um deles é a saída da Emily. Eu gostava muito do trabalho dela.
À revista Trip, a treinadora falou sobre o boicote e avalia que "chegou o momento de elas se pronunciarem" pelos "anos fingindo que está tudo bem":
– Por um lado, enxergo de maneira muito negativa para a modalidade. A gente está perdendo forças nesse sentido, mas acho que chegou o momento de elas se pronunciarem, sim. São muitos anos fingindo que está tudo bem, ouvindo cobranças de "como vocês são amarelonas" da própria imprensa, cobrança da CBF... Sendo que o mínimo exigido, que seria suporte, elas acabam não tendo. Infelizmente não temos um coordenador que brigue por elas. Por isso, foi o momento adequado para que elas fizessem isso. Pena que nem todas vão ter a mesma coragem. Elas acabam se escondendo atrás de um status que é estar na seleção brasileira – disse Emily, que deixou o cargo com sete vitórias, um empate e cinco derrotas, além de ter conquistado o Torneio Internacional de Manaus, em dezembro de 2016, diante da Itália.
Emily preferiu não associar o retorno de Vadão como machismo da CBF. Mas avaliou como retrocesso a volta de uma comissão demitida. Fez ainda duras críticas ao coordenador Marco Aurélio Cunha, com quem diz ter tido dificuldades de convivência.
Cunha não atendeu nem retornou aos telefonemas da reportagem.
Em meio à polêmica, Vadão faz convocação com Marta e sem Cristiane
De volta à seleção depois de ser demitido pós-Olimpíada, Vadão evitou entrar em polêmica sobre o boicote das jogadores. Disse apenas que achou "louvável" a decisão das cinco atletas. E fez, na sexta-feira passada, a primeira convocação desde o retorno – com Marta e sem Cristiane – para a disputa de um torneio amistoso na China contra a seleção local e também Coreia do Norte e México. A competição está marcada para os dias 19, 21 e 24 de outubro. A seleção se prepara para a disputa da Copa América, em abril, para assegurar vaga na Copa do Mundo da França, em 2019, e Olimpíadas, em 2020.
Na primeira passagem de Vadão, o técnico permaneceu de 2014 a 2016. Os resultados são vistos pela cúpula da CBF como positivos por conta do título pan-americano e o quatro lugar nos Jogos Olímpicos do Rio, o que teria o credenciado a voltar.
Goleiras
Aline – ETO FC, Gyor (Áustria)
Bárbara – Kindermann (Brasil)
Daniele – Santos (Brasil)
Zagueiras
Bruna Benites – Houston Dash (EUA)
Rafaelle – Changchun Volkswagen Exc. Women's F.C (China)
Mônica – Orlando Pride (EUA)
Erika – PSG (França)
Laterais
Fabiana – Barcelona (Espanha)
Poliana – Houston Dash (EUA)
Camila – Orlando Pride (EUA)
Tamires – Fortuna Hjorring (Dinamarca)
Meio-campo
Thaisa – Grindavik (Islândia)
Andressa Alves – Barcelona (Espanha)
Andressinha – Houston Dash (EUA)
Maria – Santos (Brasil)
Gabi Zanotti – Jiangsu Suning Ladies Football Club (China)
Atacantes
Ludmila – Atletico de Madrid (Espanha)
Debinha – NC Courage (EUA)
Thais – Hyundai Steel Red Angels WFC (Coreia do Sul)
Bia Zaneratto – Hyundai Steel Red Angels WFC (Coreia do Sul)
Marta – Orlando Pride (EUA)