Uma história de promessas não cumpridas, estrutura precária e descaso de dirigentes é a que conta o meia Cristian, principal líder do grupo de jogadores do Mogi Mirim que, devido aos salários atrasados, decidiu não jogar contra o Ypiranga, pela Série C do Brasileirão, no último sábado.
Contatado por ZH, o jogador de 37 anos falou sobre a difícil situação financeira da equipe e disparou contra o presidente Luiz Henrique de Oliveira. O dirigente afirmou, ainda no sábado, que estuda acionar os atletas na Justiça por abandono de emprego. Agora, o Mogi busca uma solução para seguir na Série C e evitar possíveis sanções decorrentes de novas derrotas por W.O..
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– O jogador brasileiro é humilde. Ajuda a mãe, tem a mulher, o filho para alimentar. É vida real. O filho quer comida. Quatro jogadores estão há cinco meses (sem receber). Um está há sete meses. Cinco estão há três meses. Os que estão há dois meses, são só três jogadores. Nunca que a gente não iria para um jogo se fossem só dois meses, chegando ao terceiro mês – diz o meia, nascido em Uruguaiana e com passagens por grandes clubes como Palmeiras e Ponte Preta.
– Alguns atletas têm direito a romper o contrato, porque iam para o terceiro mês (sem receber). Mas 80% do elenco rompeu e o clube vai cobrá-los. A partir do momento que eles se negam a participar do jogo, eles romperam o contrato. Tem jogadores aí que estão trabalhando a mando, para sabotar. Não é de agora que vem a sabotagem no Mogi Mirim. De forças ocultas, de pessoas que querem tomar o clube e não entram no caminho da negociação – disse Oliveira, ainda no sábado.
Cristian relata que o ambiente tenso, normal de clubes nesta situação, se agrava com promessas não cumpridas por Oliveira:
– Isto já vem de conversas que a gente tem há um mês. Ele sempre diz que na quarta-feira vai pagar. Chega a quarta e ele não paga.
O meia afirma que, antes do jogo contra o Bragantino, no dia 5, já houve ameaça dos jogadores de não entrar em campo. Na véspera da partida, porém, o Mogi teria pago parte de um salário para quatro atletas. Foi o suficiente para garantir a participação na partida.
Na semana passada, o presidente teria prometido pagamentos na sexta-feira, mas não apareceu no clube. De acordo com Cristian, só foi se reunir com os jogadores para tratar do assunto uma hora antes do jogo. Teria afirmado que poderia preencher um cheque, mas que ele não teria fundos. Ainda segundo o meia, disse que os jogadores jovens que estão alojados no clube seriam colocados na rua se não entrassem em campo, ameaça da qual teria voltado atrás após a partida.
Cristian relata, ainda, que a situação financeira se refletiu em questões estruturais básicas, como a alimentação dos atletas:
– Teve um dia, nesta última semana, que o café da manhã para os jogadores que estão no alojamento foi café preto e um pão de hambúrguer velho.
ZH tentou contato com a assessoria de imprensa do Mogi, mas não teve sucesso. Ao Estadão, o clube afirmou que busca recursos para fazer um acordo com os jogadores. Uma reunião marcada para esta terça-feira (15), com presença do Sindicato dos Atletas do Estado de São Paulo (Sapesp), deve procurar saídas para a situação. O Mogi já foi à CBF e estuda pedir para inscrever atletas da base que garantam a sequência na Série C. Após a partida de sábado, Oliveira afirmou que "o Mogi não tem mais jogador".
ENTENDA O CASO
– Devido aos salários atrasados, os jogadores do Mogi Mirim não entraram em campo para o jogo contra o Ypiranga, pela Série C do Brasileirão, no último sábado.
– Se desistir da Série C, o Mogi Mirim pode ficar dois anos sem participar de torneios organizados pela CBF (a sanção não valeria para competições estaduais).
– No caso de desistência, todos os jogos de que o Mogi participou na Série C serão anulados.
* ZH Esportes