A pergunta é repetida por toda estudante de jornalismo, amigo em mesa de bar, familiar, por qualquer pessoa curiosa com o nosso trabalho e o meio onde atuamos.
A verdade é que gostaríamos que esse questionamento nem existisse. No nosso mundo ideal, a presença da mulher no futebol deveria ser tão natural que não haveria necessidade de falar sobre preconceito. Mas fatos como o da terça-feira escancaram que é um tema presente, recorrente, muitas vezes velado, que precisa ser debatido.
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Porque lugar de mulher é no futebol e, como está tão em voga ultimamente, onde mais ela quiser. Ainda bem. A atuação seja como repórter, jogadora, treinadora, torcedora, no futebol ou em qualquer modalidade esportiva, é pauta constante na Redação da RBS TV. Somos seis mulheres trabalhando aqui hoje. E queremos ser mais.
No início desse ano, a nossa equipe, homens e mulheres juntos, lançou uma série de reportagens, que acabou se tornando uma campanha, chamada #JogaQueNemMulher.
A ideia era mostrar o Campeonato Gaúcho de futebol feminino e acabou virando uma bandeira da atuação da mulher no futebol de forma mais ampla. O nome veio para fazer um contraponto àquela clássica expressão: "joga que nem homem!". E pasmem! Quem batizou o produto foi um homem.
A pauta do preconceito contra a mulher tem de ser recolocada constantemente em discussão, por todos. O machismo está na sociedade inteira, não só no esporte.
Está em todos os lugares, todas as profissões. Todas as mulheres que conhecemos já foram alvo de comentários machistas. Então, desejamos que tenhamos força e resistência para desconstruir tudo isso. O machismo, o racismo, o sexismo, a homofobia, todo o tipo de preconceito. Precisamos de uma sociedade que nos aceite e respeite enquanto indivíduos.
Guto Ferreira se desculpou, pessoalmente, e em público, ao vivo no Globo Esporte. Atitude importante que nos aproxima do mundo que queremos viver, onde se erra e se assume os erros, e ainda se possibilita que temas como esses recebam a relevância e a discussão que merecem. Aquela entrevista coletiva passou. Aquela atitude preconceituosa está superada.
Mas outras entrevistas virão, outras repórteres perguntarão e nós continuaremos debatendo e ressaltando a importância da presença das mulheres e, principalmente, a igualdade de gênero no esporte. Para que aquela pergunta realmente não precise mais existir.
Ou talvez, nas futuras gerações, venha de outra forma: como as mulheres conseguiram acabar com o preconceito contra elas no futebol? Estamos trabalhando para isso. Nós, mulheres e homens.
*ZHESPORTES