As manhãs de Laureane Dornelles e Daniel Bartelle costumam ser iguais. Eles acordam bem cedo e saem para treinos de corrida, natação ou bicicleta. A rotina pode parecer comum – afinal, muita gente aproveita as primeiras horas do dia para praticar alguma atividade física. A diferença é que os dois vão a extremos: são pelo menos três horas de trabalho a cada sessão, muitas vezes antes mesmo de o sol raiar. Tudo com um objetivo em mente: fazer um bom resultado no Ironman Brasil, em Florianópolis, neste domingo, para conseguir a classificação ao Ironman World Championship, no Havaí, que reúne os melhores competidores da prova de todo o mundo.
Para chegar lá, eles terão de superar os limites do corpo. O Ironman é a mais famosa prova de triatlo do planeta – pela tradição e pela exigência. São 3,9 quilômetros de natação em mar aberto, 180 quilômetros de bicicleta e uma maratona completa, 42,195 quilômetros, tudo pelas estradas cheias de subidas e descidas de Hawai'i, a Big Island do estado americano. As distâncias são as mesmas nas competições regionais, cada uma com as suas próprias características.
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Nada que assuste os dois gaúchos. Mesmo que sejam atletas amadores e não consigam se dedicar da mesma forma que os triatletas profissionais, Laureane, 55 anos, e Daniel, 42, apostam alto na preparação para o sonho de chegar ao Ironman.
– Me dei isso, de chegar ao Havaí, como objetivo. Sempre escuto muito o "coach" Lucas, e para mim a planilha de treinos é algo sagrado. Sou CDF de treino. Mantenho a alimnetação regrada o tempo inteiro, sem abrir mão nenhum dia – disse Daniel, engenheiro civil que começou a disputar triatlos há dois anos. – Competir é saúde, e sempre gostei disso. Sou muito competitivo, quero superar os meus limites sempre – continuou, destacando que antes das corridas de rua, gostava de velocidades ainda mais altas: andava de kart e competiu no antigo Campeonato Brasileiro Fórmula-Ford.
Laureane, por sua vez, sempre praticou esportes – e descobriu o triatlo depois de 10 anos de rústicas e maratonas. Aposentada do mercado financeiro, ela uniu o gosto pelas três modalidades para começar a competir.
– Sempre gostei muito de esporte. Nado desde nova, e hoje estou na equipe máster do Grêmio Náutico União. Comecei há correr há 11 anos, e no ano passado disputei meu primeiro triatlo. Antes disso, sempre que viajava, aproveitava para pedalar, então foi algo que veio naturalmente – explicou a atleta, que também acredita na classificação para a prova no Havaí. – Olhando na minha categoria, tenho que terminar no máximo em segundo lugar. Acho que dá.
Foco para aguentar mais de nove horas de disputa
As três provas do Ironman costumam ser completadas em pleo menos 9 horas por homens na categoria de Daniel, enquanto Laureane espera finalizar a disputa abaixo de 13 horas. O que exige, além de muito preparo físico, foco e preparação mental para aguentar a intensidade da disputa.
– Passa, o tempo inteiro, um filme dos treinos. Tu passas por altos e baixos. Do nada, o batimento cardíaco sobe, teu ritmo aumenta e tu tens de administrar. Vai ter momentos de euforia, e de repente tu pensas que não vai conseguir chegar. É muito intenso, e 50% da prova é cabeça. É preciso saber dosar.
Para conseguir dosar os esforços, os dois têm seguido à risca, desde o ano passado, a planilha de treinos de Lucas Pretto. Ex-triatleta profissional e atualmente dono de um estúdio, Pretto confia na capacidade dos seus dois pupilos – e usa sua própria experiência para conseguir passar a eles tudo que é preciso para chegar lá.
– Os dois são muito dedicados e têm chances de conseguir o resultado. Eu participei de Mundiais de Triatlo, mas não consegui chegar ao Ironman. Agora quero levar a Laureane e o Daniel para lá. Tomara que dê certo.
O que é o Ironman
Principal competição de triatlo do mundo, o Ironman foi criado no Havaí em 1978 por John Collins, comandante da marinha americana. Morador de Honolulu, ele e amigos discutiam quais atletas eram mais bem preparados, nadadores, ciclistas ou corredores. Para tirar a dúvida, Collins decidiu organizar uma prova que combinasse os três eventos de longa distância que eram disputados na ilha de Oahu – onde fica a capital havaiana: uma prova de quilômetros de natação em mar aberto, uma volta de bicicleta pela ilha e a maratona de Honolulu.
A partir de 1981, a prova passou a ser realizada – com as mesmas distâncias e formato – na ilha Hawai'i, a maior do arquipélago havaiano, e mudou de fevereiro para outubro no calendário em 1982. Desde então, não houve mais grandes mudanças. O que mudou foi o prestígio do evento: em 1990, foi criada a World Triathlon Corporation, que organizou o Ironman World Championship, com diversas provas ao redor do mundo que servem de classificação ao Ironman havaiano. Florianópolis é a sede da qualificatória brasileira – Palmas, Maceió, Rio de Janeiro e Fortaleza recebem eventos Ironman 70.3, com metade das distâncias da competição principal.
Os americanos Dave Scott e Mark Allen, com seis vitórias cada, são os maiores vencedores entre os homens. O australiano Craig Alexander, com o tempo de 8h03min56s (2011), é o recordista da prova. Entre as mulheres, Paula Newby-Fraser, que competiu pelo Zimbábue e pelos Estados Unidos, é a maior campeã, com sete triunfos. A fluminense Fernanda Keller é a melhor atleta brasileira na história do Ironman, com seis medalhas de bronze no Havaí em 23 participações, recorde feminino.
* ZH Esportes