Vanderlei Pereira apagou a luz da sala da presidência da Ponte Preta, no Estádio Moisés Lucarelli. Ia para casa, ainda sob efeito da adrenalina e da cerveja consumida com os jogadores na estrada entre São Paulo e Campinas. Horas antes, o time havia eliminado o rico e estelar Palmeiras do Paulistão. Era finalista do Campeonato Paulista e o adversário seria o Corinthians, em uma repetição da histórica final de 40 anos antes. Sem saber se eram os efeitos do álcool ou do êxtase, o presidente enxergou um vulto em um corredor. Aos poucos, foi tomando forma. Era um senhor. Começou o diálogo:
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– Senhor Vanderlei, meu nome é Arthur Lawson.
– O senhor é real?
– O senhor sabe quem sou. Não precisa mentir.
– Seu nome não me é estranho.
– Ok, fingirei que não conheço sua alma e me apresentarei. Sou um dos fundadores do Sport Club Rio Grande, no sul do RS. Meu nome batiza o estádio, inclusive.
– Desculpe, não lhe conheço.
– Conhece. Meu nome, meu estádio e meu clube.
O coração de Vanderlei estava saindo pela boca.
– Sr. Vanderlei, vim lhe apresentar uma proposta que seus antecessores nunca quiseram aceitar.
– Pois não.
– Se quiser ser campeão, apague todas as mentiras de seu clube.
– Como assim?
– O senhor sabe do que estou falando.
Alguns segundos de constrangimento:
– Mas como eu poderia fazer isso? Todo o marketing vive disso. Meus torcedores não perdoariam. Tentamos, há 117 anos, convencer o país de que a Ponte Preta é o mais antigo clube do Brasil em atividade.
– Senhor Vanderlei, tive a mesma conversa com o doutor Lauro de Moraes Filho, o presidente de 1977. O senhor lembra o que aconteceu, né?
Uma breve troca de olhares antecede a pergunta.
– O senhor aceita?
Após pensar, Vanderlei responde:
– Não.
– Então reforço a maldição: enquanto a Ponte Preta não admitir que o Rio Grande é o clube mais antigo do Brasil, não haverá taça no Moisés Lucarelli.
No domingo seguinte, em Campinas, Rodriguinho, meia do Corinthians, teve a maior atuação da carreira. Neste domingo, confirmou mais uma conquista.
Depois do apito final, o espírito de Arthur Lawson voltou a vagar pela sala da presidência da Ponte Preta – o segundo clube de futebol mais antigo do Brasil.
* ZH Esportes