Não é oficial ainda, há negativas protocolares das partes, mas dificilmente Ernesto Valverde não será o próximo técnico do Barcelona. Educado, cortês, pouco afeito a polêmicas e considerado como representante de uma maneira de jogar que causa tanto orgulho entre os torcedores do Barça quanto os resultados de campo, o treinador teve uma passagem longa e de sucesso pelo Athletic Bilbao. Por outro lado, como ainda não comandou times de primeiro escalão na Europa, faltam em seu currículo títulos de expressão.
Valverde, de 53 anos, foi um atacante de bom nível nos anos 1980 e 1990. Passou por times menores como Espanyol, Alavés e Mallorca. Seus momentos mais marcantes foram no clube que treinou até o fim da atual temporada e no que deve assumir nos próximos meses. No Athletic Bilbao, marcou época entre 1990 e 1996. Antes, no Barcelona, entre 1988 e 1990, foi comandado pela lenda Johan Cruyff e fez parte de um grupo que, depois de sua saída, conquistou o primeiro título europeu da história do clube. O tempo em que esteve no Camp Nou, aliás, é visto como decisivo para a escolha do Barça.
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– Aqui existe uma concepção bastante bairrista, ou "barcelonacentrista" do futebol. Acham que o estilo do Barcelona, a maneira de jogar, é algo muito próprio. Tem de ser alguém que conheça o clube, que saiba como funciona – lembra Thiago Arantes, jornalista brasileiro radicado na Espanha e comentarista da BeIN Sports.
A estratégia faz algum sentido se olharmos para as conquistas do Barça. Nas campanhas dos cinco títulos europeus do clube, em quatro o técnico era um ex-jogador que vestiu azul e grená: Cruyff, Guardiola (dois títulos) e Luis Enrique. Apenas Frank Rijkaard, campeão da Liga dos Campeões em 2006, foge à regra. Há a avaliação de que apenas quem entrou em contato com a ideia de sempre propor o jogo, valorizar o passe certo, o futebol bem jogado, poderá reproduzi-la e mantê-la viva.
Depois de deixar os campos, Valverde começou a carreira de treinador no Bilbao, em 2002. Teve sucesso, principalmente, lá e no Olympiacos, da Grécia. Ainda teve passagem marcante pelo Espanyol, levando o clube à final da Copa da Uefa (hoje Liga Europa). Na decisão, a equipe foi derrotada pelo Sevilla.
No Olympiacos, venceu o campeonato grego três vezes e tornou-se ídolo da torcida. Em Bilbao, fez boas campanhas, como a classificação à Liga dos Campeões de 2014-2015, garantida com a quarta colocação na Liga Espanhola da temporada anterior. Em 2015, ganhou a Supercopa Espanhola diante do próprio Barça, com direito a goleada de 4 a 0 em casa no jogo de ida.
O Bilbao de Valverde se notabilizou pela busca do ataque, bem ao estilo que os catalães apreciam. Há quem credite parte do sucesso à herança que o treinador recebeu de Marcelo Bielsa, a quem sucedeu sem fazer grandes modificações no jeito de jogar. Com poucos recursos, esteve à frente de um time competitivo. Há, porém, alguma contestação a sua escolha.
– Eu diria que o Barcelona é areia demais para o caminhão dele. Nunca foi um técnico de equipes grandes. Sempre foi de times médios, pingou bastante na Espanha. Não é um técnico que você olha para os times e vê algo muito ousado. É inteligente, trabalha bem, mas fica por aí – analisa Júlio Gomes, blogueiro do portal Uol que viveu em Madri.
No Camp Nou, Valverde tentará colocar de volta nos trilhos um Barcelona decepcionado pela má campanha nesta temporada. Seu perfil educado é considerado como ideal para não causar enfrentamentos com um vestiário em que as lideranças são fortes e evidentes. Nomes como Piqué, Iniesta e Messi costumam ditar rumos por lá.
– As ideias dele têm protagonismo, ele não. Não vai se meter em confusão com jogador, com a imprensa. Não parte para o conflito, como o Luis Enrique, que teve discussão com o Messi e várias outras com a imprensa. Tem personalidade no sentido de exigir que a equipe execute o que ele quer – afirma Arantes.
* ZH Esportes