Dispensado do Vitória dias antes do seu time se tornar campeão baiano invicto, Argel Fucks afirma que precisa de um mês de férias. Está desde 2013 em "uma sequência forte". Pode aceitar uma proposta de um clube da Arábia ou esperar uma troca de treinador nas primeiras rodadas da Série A. Ele diz que não se incomoda em pegar time com risco de rebaixamento. Inclusive, faz o seu comercial:
- Se precisarem de um bombeiro no meio do campeonato, podem me ligar.
Leia mais:
Leandro Behs: "Se a Série B é um laboratório, é hora de o Inter ousar e partir para o 3-4-3"
Guerrinha: "Goleada e identidade"
Cacalo: "Excelente estreia"
Por que você foi demitido do Vitória mesmo com um aproveitamento de mais de 80%?
Aconteceu um desgaste natural. Eu não fui contratado por essa diretoria. Se falou que foi pela briga, da discussão contra jogadores do Bahia. A desclassificação da Copa do Nordeste e a saída da Copa do Brasil contribuíram. Mas já havia uma pressão grande. O Vitória hoje é um colegiado, há quatro ou cinco pessoas que mandam. O presidente não queria a minha demissão. Estávamos montando um time, temos só três jogadores do ano passado. Nós perdemos domingo, e eu senti. Eles me chamaram e fizeram essa colocação. Rescindimos. O Vitória é um time correto, cumpriu as obrigações comigo e minha comissão. Hoje, o que está acontecendo no futebol é chato. Se ganha de um, há críticas porque ganha de um. Se ganha de cinco, é porque o adversário era fraco. Se ganha dois clássicos de três, não está bom. Deveria ter ganhado os três.
Tudo está em cima do resultado hoje?
Nós, treinadores, não sabemos o nível de exigência, porque nunca está bom. Tem contrato, mas tem que ganhar o próximo jogo. Se não ganha, cai. Aconteceu isso com o Eduardo Baptista. Era líder da Libertadores. Perdeu o Paulista, e um jogo na Libertadores. Foi demitido. A paciência e a convicção dos dirigentes são curtos.
A convicção dura duas derrotas?
Exatamente. No futebol, do jeito que está, se o Mourinho vier para cá e perder três jogos no Inter, no Grêmio, no Corinthians, no Palmeiras, ele cai. Essa é a grande verdade. E outra coisa: os dirigentes vão quebrar os clubes. Geralmente, quando tem rescisão de contrato, ficam pagando dois treinadores. E tem clube que paga junto um terceiro. A gente fica de boca aberta.
Mas é falta de convicção?
Tenho plena certeza de que falta convicção. Eles não protegem o treinador nunca. Eu fui demitido de um clube com 79% de aproveitamento. Nós perdemos três jogos em 28 disputados. Temos o melhor aproveitamento dos clubes da Série A, com 85%.
Foi só falta de convicção?
No meu caso, foram as eliminações na Copa do Brasil e na Copa do Nordeste. O meu relacionamento com a direção é muito bom. A decisão não passou pelo presidente e pelo vice. Isso é o mais engraçado.
E quais os teus planos a partir de agora?
Neste momento, penso em dar uma descansada, uns 30 dias. Tenho uma proposta da Arábia Saudita. É o time em que estava o Hélio dos Anjos.
Quando define o futuro?
Vou esperar. Vamos conversar com o pessoal da Arábia, não é fácil morar lá. Se não acertarmos com ele, seguramente vamos esperar 30 dias. E do jeito que é o Brasileiro, neste período já terão caído cinco ou seis treinadores. Agora, a nossa preferência é a Série A. Estávamos há cinco anos na A e queremos ficar. Temos trabalho para isso, são bons. Se algum clube da Primeira Divisão que estiver na zona de rebaixamento precisar de bombeiro, pode ligar para mim. Tanto que fiz a minha rescisão e falei para o presidente do Vitória: se precisarem de um bombeiro no meio do campeonato, me liga. Vale para o Inter, Bahia, Corinthians, Palmeiras.
Eles só chamam a gente quando o bicho está pegando. Eu gosto disso. Mas também gostamos de planejamento. Fizemos isso no Inter e ficamos quase um ano. No Figueirense, dois títulos. No Vitória, montamos um time e fomos campeões invictos. Mas, claro, fomos chamados no Criciúma em 2013 e salvamos. Em 2015, o Inter. Depois de 5 a 0 em um Gre-Nal, os caras estavam estraçalhados. Ficamos em quinto lugar. Perdi o Sasha, Valdívia e o D'Alessandro.
No Vitória, no ano passado, conseguimos deixar o clube na Série A. Eu gosto dessa adrenalina, gosto de pegar um vestiário estraçalhado.