A Seleção Brasileira de Tite vem arrasando adversários sul-americanos. O último foi o Uruguai, mas vítimas como Argentina e Colômbia já estiveram no caminho da equipe liderada por Neymar. É possível dizer, então, que a Seleção Brasileira é favorita à conquista da Copa do Mundo? Os colunistas respondem abaixo:
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Maurício Saraiva
Se a pergunta for mesmo no singular, não, não é o favorito. Caso se avance para o plural, sim, é um dos favoritos, entre os três ou cinco fortes candidatos à conquista da Copa do ano que vem. Tite lida com jogadores que estão no mercado europeu atuando em alta performance nas principais ligas do planeta. Logo, mesmo o desconto de que o Brasil ainda não enfrentou os gigantes da Europa – a saber, em ordem decrescente de favoritismo, Alemanha, França, Portugal e Itália – não tira força da candidatura brasileira.
Na América do Sul, o time do Tite passou pelos quatro testes mais exigentes. Ganhou e goleou a Argentina, o Uruguai e o Equador, dois destes resultados na casa do adversário, e venceu apertado a Colômbia. O time está desenhado, as peças de reposição, conhecidas e afinadas, o contexto favorece o surgimento de novos jogadores – Vinícius Jr., do Flamengo, é um projeto a desenvolver para 2018, exagero meu – e a paz proporcionada pelo feliz casamento de desempenho com resultado faz girar o círculo virtuoso que leva ao sucesso.
Neymar assumiu protagonismo mundial, seus coadjuvantes encorpam puxados por ele. Mesmo onde ainda há titulares discutíveis – no gol, por exemplo –, o debate não é canibal. Torcida, imprensa, jogadores e comissão técnica estão na mesma levada, o que até constrange o comando da CBF a aparecer pouquíssimo, como tem de ser. Aliás, mérito de Del Nero. Em sua esperteza política pela própria sobrevivência, terceirizou a Seleção a Tite e está colhendo os frutos desta relativa tranquilidade que vive enquanto não atravessa fronteiras. O Brasil já é um dos favoritos num conjunto de favoritos. Não se diria nada parecido pouco mais de um ano atrás.
Luiz Zini Pires
Com Tite, sem Dunga, o Brasil renasceu. Ganhou impressionante protagonismo planetário em nove meses. A transformação impressiona. A Seleção assumirá como número 1 no ranking da Fifa nas próximas semanas. A lista não comete equívoco, é respeitada e serve de termômetro nas terras das seleções nacionais. O posto reflete imediatamente a valorização dos jogadores, do treinador e do país.
O ambiente na Seleção Brasileira melhorou 100%. Existe um diálogo natural entre o comandante e os comandados. A comissão técnica ouve. A qualidade dos treinos é outra, contemporânea, semelhante ao trabalho que os brasileiros que atuam na Europa fazem em seus clubes de origem. Os atletas aplaudem. Trabalham com prazer. A vida civilizada voltou ao CT, às concentrações, ao vestiário, nos aviões das longas viagens. Tite criou um ambiente ideal para a recuperação dos melhores atletas do país.
O Brasil mostrou poder ao golear o Uruguai no Centenário. A força aumentou entre quinta-feira e domingo, quando os mais atentos acompanharam os jogos das principais seleções do mundo nas Eliminatórias em busca de um dos 32 postos da Copa do Mundo da Rússia de 2018. Entre todas, da Alemanha a Argentina do genial Messi, passando por França e Itália, Inglaterra e Espanha, entre outras dezenas, a equipe de Tite destaca-se como a mais competitiva, organizada e promissora.
Quinze meses antes da abertura do Mundial de 2018, o Brasil é favorito. Normal. Favoritismo se ganha e se perde em meses, como títulos. Felipão desabou em 2014 quando ficou escravo do seu instável grupo de 2013, campeão da Copa das Confederações. A Seleção não está pronta ainda. Faltam Gabriel Jesus e Douglas Costa. Precisa encontrar dois zagueiros. Marquinhos e Miranda não são confiáveis. É legal ser favorito. O fracasso se é comportar como favorito. Você lembra de Ronaldinho, Ronaldo Fenômeno, Adriano e Kaká em 2006, na Alemanha? Ainda bem que Tite é de outra turma.
Diogo Olivier
Não, não e não.
É quase oba-oba misturado com soberba imaginar que a Seleção Brasileira é favorita para a Copa do Mundo. Tite faz um trabalho extraordinário. Em curto espaço de tempo, mudou o jeito de jogar com praticamente os mesmos jogadores da Era Dunga, melhorando todos eles a partir de uma ideia coletiva clara, atualizada e, essencialmente, conectada com a história do nosso futebol. Passou com sobras por cima de adversários de primeira linha, como Argentina e Uruguai. Mas daí a imaginar que o trabalho de reconstrução está pronto, sem confrontá-lo com adversários europeus? Nem pensar. Seria uma arrogância e apostar em passe de mágica, não importando anos de trabalho sério alheio, como ocorre em muitos países. E posso apostar que Tite sabe muito bem disso.
Em 2014, o mais grave pecado da comissão técnica de Felipão foi ter alardeado favoritismo após o triunfo na Copa das Confederações. Cobri toda a preparação da Seleção, desde a Granja Comary. Vi todos os treinos e participei de todas as entrevistas. O 7 a 1 teve muito a ver com isso. Para que se preocupar com a Alemanha se somos os melhores? Vamos para dentro deles, com Bernard no lugar de Neymar, acreditando na mística de um mineiro no Mineirão. Neste ciclo, a Seleção não terá nem a Copa das Confederações para medir forças com, por exemplo, Portugal de Cristiano Ronaldo. Outra questão é o momento. Falta um ano e meio para a Copa. Jogadores que agora estão arrasando podem estar em má fase até lá. Paulinho demoliu na Copa das Confederações de 2013 e fracassou na Copa, assim como Fred. Como estará Neymar em junho de 2018? Lesionado, em forma, em crise? E Gabriel Jesus? É impossível fazer previsão com tanto tempo de antecedência, a menos que se use muitos "se": se isso, se aquilo.
Portanto, calma. Devagar com o andor. Menos.
Escolha a sua própria expressão para dizer que não somos favoritos.
*ZHESPORTES