O Bom Senso F.C., ao menos aquele dos braços cruzados e notas oficiais com críticas ácidas à CBF, não existe mais. A falta de novos líderes contribuiu para que o engajamento dos atletas não fosse o mesmo de 2013, quando o movimento quase comandou uma greve de jogadores. A papelada já foi encaminhada para que o CNPJ fosse encerrado. Como principal legado, fica a aprovação do Profut, pela qual o grupo lutou com unhas e dentes em Brasília.
- O movimento não segue mais. A gente fechou - confirma Enrico Ambrogini, ex-gestor do Bom Senso que hoje trabalha no Espírito Santos F.C.
- Nós concordamos que os objetivos iniciais do movimento, pelas circunstâncias, não iam ser realizados pelo próprio Bom Senso. Decidimos que cada um ia seguir defendendo os valores que nos uniram. Vimos que a gente cumpriu a nossa etapa - avalia Rodolfo Mohr, ex-diretor de comunicação.
Curioso é que a última movimentação do site é uma nota oficial negando o fim do movimento, que havia sido noticiado na coluna Painel FC, da Folha de S. Paulo, em julho do ano passado. O documento cita a necessidade de "engajar toda a comunidade do futebol em torno de propostas concretas" para melhorar o esporte. Uma luta que ex-integrantes acreditam que possa ser retomada.
- O Bom Senso pode ser retomado a qualquer momento. A semente foi germinada, deu fruto e está ali. Faltou aparecer novos atletas para seguirem na luta - avalia Fernando Baptista, ex-diretor jurídico.
As pessoas mais próximas do movimento têm diagnóstico semelhante a respeito das lideranças. O grupo com Paulo André, Alex, Juan, Fernando Prass, Barcos, D'Alessandro, entre outros, saiu de cena. Alguns foram para o Exterior, outros se aposentaram, houve os que perderam espaço em suas equipes e, assim, não tinham o mesmo protagonismo de antes. Mais "cascudos", não tinham medo de eventuais retaliações de dirigentes, algo que muitos apontam como fator que bloqueia o surgimento de novos atletas engajados.
A clareza de ideias desses líderes, combinada com sua experiência, foi decisiva para o momento mais efervescente do Bom Senso, logo após sua criação em 2013. Foi quando comandaram manifestações em que os jogadores cruzaram os braços antes do início de jogos do Brasileirão, como forma de protesto pelo calendário inchado. Em um dado momento, quase deram início a uma greve. O receio de que times que lutavam contra o rebaixamento usassem a paralisação para buscarem uma virada de mesa impediu a medida mais radical.
Mesmo que não tenham gozado da mesma repercussão das manifestações contra os problemas do calendário, os últimos atos do grupo resultaram em sua maior conquista. Quando o Bom Senso percebeu que não havia discussão possível com a CBF para sanar o problema da escassez de jogos dos clubes pequenos e excesso dos grandes, focou seus esforços em outra reivindicação que estava na origem do movimento: o fair-play financeiro, que prevê punições esportivas a clubes que não cumpram exigências ligadas à gestão da entidade.
- O Bom Senso aprendeu a jogar um jogo em Brasília que a CBF sempre ganhava. O Profut não era uma transformação que dependia da CBF, como o calendário. Quando fomos conversar sobre calendário com a CBF, foi surreal. Não havia diálogo possível - destaca Eduardo Tega, gerente-executivo da Universidade do Futebol, entidade parceira do movimento que promove cursos de especialização.
Há quem avalie que, com o foco específico no Profut, o tema duro da legislação tenha afastado o engajamento dos atletas. Um diagnóstico do qual o principal líder, Paulo André, discorda (leia a entrevista aqui). Fato é que, pela dificuldade de transformar o calendário, a pauta mais visível do início do Bom Senso ficou um pouco para trás. Os ex-integrantes, porém, apontam a importância do movimento ao dar visibilidade à questão, ainda que existam visões mais negativas.
- Gostaria de poder dizer que a questão do calendário avançou desde o Bom Senso, mas os fatos me desmentem. Ano passado eu estive no grupo de trabalho da CBF, o que me rendeu alguns dissabores, exatamente por eu acreditar que poderia convencer os caras a adotar algumas coisas. Não vejo uma efetiva vontade dos atores em mudar o calendário. Os principais são os clubes, mas eles não demonstram - lamenta Luis Filipe Chateaubriand, consultor do movimento para assuntos de calendário.