O Aberto da Austrália faz a alegria de quem fica acordado até altas horas da madrugada. E mostra que o tênis, ao contrário do futebol, é legal de assistir mesmo sem ter alguém por quem torcer
Entre os muitos esportes que tentei praticar – quase todos sem o mínimo sucesso –, o tênis foi o que melhor enganei. Era um caminho natural para quem nasceu em Novo Hamburgo nos anos 1980: as raquetes e bolinhas faziam parte do cenário da mesma forma que os campos e goleiras. Sou, digamos, um "hipster" da geração Guga, e já acompanhava o craque desde antes daquele título incrível em Roland Garros, em 1997.
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Sou, também, um cara que gosta de ficar acordado até tarde. Por isso, as noites e madrugadas de janeiro são especiais, com a companhia do Aberto da Austrália por horas e horas a fio, até a manhã raiar. É uma tradição que se mantém há anos – e é renovada mesmo sem ter alguém que conte com meu apoio fiel, como era na época de Guga.
O tênis é um caso à parte quando se trata de torcidas, de certa forma similar à Fórmula-1. É possível acompanhar com gosto mesmo que ninguém mexa com a sua emoção em quadra (ou na pista). Você pode aproveitar Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray, sem precisar escolher apenas um deles. Pode assistir Serena Williams e Angelique Kerber sabendo que o importante é ver grandes jogos, mais do que escolher alguém que mereça sua torcida apaixonada durante três ou cinco sets.
É claro que existem aqueles atletas que contam com uma simpatia maior, mas o tênis, para mim, passa muito mais pela expectativa das partidas e dos títulos de Grand Slam do que, necessariamente, por quem está em quadra. Uma final que não reúna os melhores ainda assim vale a pena ser vista. Talvez seja a natureza do mais individualista dos esportes, um dos poucos em que, na hora do jogo, tudo depende apenas de quem está em quadra. Jogadores surgem, brilham, envelhecem e se aposentam. Passei madrugadas inteiras com Steffi Graf, Pete Sampras, Martina Hingis, Andre Agassi, Lleyton Hewitt, Juan Carlos Ferrero e vi o começo das grandes carreiras de Serena e de Federer. Pouco a pouco, os nomes mudam. Mas a chance de ver os melhores tenistas em ação segue a mesma.
*ZHESPORTES