Mais capítulos sobre o caso Victor Ramos começam a surgir. Desta vez, vindos do México, país da equipe Monterrey, dona dos direitos do zagueiro emprestado ao Vitória. O jogador é protagonista de uma polêmica entre CBF, Vitória e Inter por conta de sua transferência para o time baiano, no início deste ano. Com o aval da CBF, a transação foi feita de forma doméstica (ou nacional, já que não saiu do Brasil), quando o atleta não retorna ao país do clube de origem após o empréstimo (Victor Ramos estava no Palmeiras em 2015), operação contestada pelo clube gaúcho.
Em carta timbrada endereçada à Federação Mexicana de Futebol, com o brasão da equipe mexicana e assinatura do diretor jurídico e representante legal, Antonio Gutiérrez (leia no final da matéria), o Monterrey acusa a Confederação Brasileira de Futebol de "faltar com a verdade" por conta de uma autorização que Vitória e CBF teriam usado na transferência do jogador. O clube mexicano alega que autorizou o procedimento exigido pela Fifa. Ou seja: via TMS, o sistema de transferências, configurando uma transição internacional, e não doméstica, como foi feito pelo Vitória.
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"A afirmação (da CBF, de que o Monterrey teria conhecimento sobre a transferência doméstica), sem dúvida, falta totalmente com a verdade e é notoriamente improcedente, porque a autorização que concedemos foi emitida com a finalidade específica de que foi apresentada para a Fifa, em virtude que o clube brasileiro Vitória havia nos informado que apresentaria uma instrução e solicitação, via sistema TMS, para obter a validation exception (um pedido de exceção à Fifa para que se aprovasse a inscrição de Victor Ramos, já que a janela mexicana estava fechada), que seria necessária para obter legalmente a habilitação do jogador para jogar neste país sul-americano", escreveu Antonio Gutiérrez.
A carta teria sido entregue à federação mexicana, já que apenas as federações dos países "se conversam". Não seria possível, por exemplo, que o Monterrey acionasse diretamente a CBF. O motivo da acusação feita pelos mexicanos, no entanto, seria por conta das inúmeras versões e/ou distorções que cercam o caso no Brasil e perante a Fifa. O time do México arcou, em 27 de setembro, com uma multa de cerca de R$ 10 mil (3,2 mil francos suíços) por não "cumprir as obrigações estipuladas do Regulamento sobre o Estatuto e Transferência de Jogadores da Fifa" no âmbito do TMS sobre o empréstimo de Victor Ramos ao Vitória.
Isso porque o Vitória chegou a dar entrada no TMS para fazer a transferência do zagueiro via internacional e não houve conclusão no sistema. O clube baiano, inclusive, teria feito um documento endereçado à cúpula da Fifa, na Suíça, pedindo a "validation exception", mas também não entregou e realizou a inscrição via procedimento doméstico. Por este motivo, o Inter protocolou uma documentação junto ao STJD em função de possíveis contradições do diretor de registros da CBF, Reynaldo Buzzoni, no caso. Uma troca de e-mails revelou que Buzzoni orientou a direção do Vitória sobre a necessidade de Victor Ramos retornar ao time dono de seus direitos, como manda a Fifa (nesta situação, configurando transferência internacional), o que, na prática, não aconteceu. Em entrevista recente à Rádio Gaúcha, Buzzoni garantiu não haver nada de errado e afirmou ser correta a transferência doméstica. O STJD entendeu da mesma forma e arquivou o caso. O Inter, apesar de não falar abertamente, não descarta, após o esgotamento do âmbito desportivo, ir à justiça comum.
Procurado pela reportagem, o presidente recém eleito do Monterrey, Duilio Davino, não se manifestou, assim como o presidente Luís Manuel Salvador, que está deixando o cargo. Antonio Gutiérrez, segundo informações obtidas no clube mexicano, estaria fora do país. A CBF também não retornou o contato.
* ZHESPORTES