Sou fã de Renato Portaluppi. Sou grato a Renato Portaluppi. Anos depois de aprender a perder, ele me ensinou a ganhar.
Não é fácil aprender a perder. Um desafio para as entranhas lá onde nos sentimos ameaçados pelo desamparo e onde não brinca a certeza de que vamos perder tudo. Arde tanto que já nem podemos olhar diretamente. Então, vem a arte, o esporte, a cultura e oferecem suas metáforas para que a gente possa pensar e sentir de verdade. A canção diz.
O poema diz. O teatro diz. O esporte diz. E precisamos, urgentemente, dizer.
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Não era fácil ser criança gremista nos anos 1970. O Inter era octacampeão gaúcho, tricampeão brasileiro, um timaço com Falcão e companhia. Também não é fácil ser criança em década nenhuma, e aquelas derrotas ensinavam o menino a perder. Nós perdemos sempre, dizia a arte com o Mário de Andrade e, aos poucos, aprendia-se que não há professora melhor do que a derrota. Uma vitória é efêmera, dura um instante, a derrota reverbera, e a gente sempre volta a ela para se relançar ainda mais forte para o jogo.
Daí veio o final dos anos 1970 com o time de Telê Santana, prenúncio dos 1980 com Baltazar e equipe na conquista do primeiro título nacional. Depois, Renato e grupo na conquista do campeonato mundial e, agora, era preciso aprender a ganhar. Não é fácil aprender a ganhar. Precisa escalar o respeito pelo adversário, vencer o sentimento de culpa. Isso também não se faz diretamente, e o Portaluppi ensinava a picardia, a brincadeira.
Também é complexo enfrentar o tempo e, nele, a paternidade. Quando perguntado sobre ela, Freud respondeu que valia tentar, mas, por mais que se fizesse, a perfeição era impossível. Renato se mostra um paizão, mas não é fácil ser paizão. O limite volta e meia pesa para mais ou para menos, precisa até ser impopular de vez em quando. Ao chamar a filha para dentro do campo, na semifinal da Copa do Brasil, Renato parece ter se atrapalhado nas doses. Agora, ele corre o risco de ser multado, e nós, de perdermos o mando de campo na final. Assim é a vida que grita por fora sempre que claudicamos por dentro.
É mesmo um jogo de xadrez exercer as artes de ganhar e de perder.
*ZH ESPORTES