Tem Brasileirão da Série B em Porto Alegre. O ginásio Tesourinha recebe até domingo a Copa Loterias Caixa de Futebol de 5, uma parceria com a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais, e que reúne oito clubes de todo o Brasil em busca de duas vagas à elite nacional.
Logo na primeira rodada, o único representante gaúcho largou na frente: a Acergs (Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul ) goleou a Escema (Escola de Cegos do Maranhão) por 4 a 0, com três gols de Leonardo e um do colombiano John Hernadez. A divisão de acesso do futebol para deficientes visuais é também um campo aberto para as contratações de estrangeiros. Se no Campeonato Brasileiro temos Bolaños, Seijas, Mina, Guerrero, Romero, Pratto, entre outros, na Série B do Futebol de 5 todos os oito times têm pelo menos um gringo. São 12 estrangeiros entre os mais de cem atletas inscritos na segunda divisão. No Ismac (Instituto Sul-Matogrossense para Cegos Florivaldo Vargas), o craque do time é o camisa 11, o argentino Maxi Espinillo.
– A turma do Ismac me viu jogando pela seleção argentina e me contratou para disputar a Série B. Cá estou – contou o simpático argentino de Córdoba. – Porto Alegre é bonita, é? Sou torcedor do Boca Juniors. Gosto de Grêmio e de Inter. Meus ídolos Schiavi e Pato Abbondanzieri jogaram pelos times de vocês – emendou o atacante, que perdeu a visão aos quatro anos de idade, devido a uma infecção.
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Todos os clubes são também entidades de apoio aos deficientes visuais. Sobrevivem graças ao investimento de empresas, via renúncia fiscal, e de algumas verbas governamentais. Alguns atletas chegam a receber R$ 600 por mês para jogar.
– Espero que o apoio ao nosso esporte realmente cresça, pois os resultados estão aí. Temos uma seleção brasileira que ganha a medalha de ouro há quatro Paraolimpíadas – comenta Paulo Welter, zagueiro de 51 anos da Acergs.
Deficiente visual de nascença, Welter lidera o projeto para levar a equipe à primeira divisão.
– Temos boas chances. Trata-se de um trabalho novo, mas que já vem dando resultado – diz o zagueiro. – Espero que a Acergs suba, para ter maior visibilidade junto aos empresários, e que o meu Inter não caia. Porque a coisa tá feia – brinca o colorado, que até anos atrás frequentava o Beira-Rio em dias de jogos.
Entre uma conversa e outra, nas arquibancadas do Tesourinha, o árbitro usa o alto-falante do ginásio para pedir silêncio aos jogadores de outros times, que não estão em quadra:
– Silêncio, pessoal. Por favor, assim vocês acabam atrapalhando quem está jogando.
No Futebol de 5, a bola leva um guizo para que os atletas saibam onde a bola está. Só deficientes B-1 podem atuar, ou seja, aqueles que nada enxergam (ou que "enxergam" apenas o som) ou que veem apenas alguma luminosidade – por isso, todos utilizam vendas nos olhos, para que ninguém tire alguma vantagem.
– É mais difícil jogar o futebol de 5 do que o futsal – conta o goleiro Christian Welter, da Acergs, e filho do zagueiro Paulo. – É preciso estar sempre orientando a defesa, a área é muito pequena e você nunca sabe onde eles vão chutar – emenda o goleiro de 22 anos, que joga com o pai há sete anos e é o único "vidente" (como são chamados os atletas que tem a visão perfeita) da equipe gaúcha.
Além de um trampolim para a Série A, o torneio no Tesourinha também serve como garimpo para a futura seleção brasileira. O técnico Fábio Luiz, dono de quatro medalhas de ouro nos Jogos Paraolímpicos (três como goleiro, uma como treinador), veio a Porto Alegre a fim de assistir ao torneio.
– Terminamos um ciclo na seleção e, agora, precisamos observar outros atletas. Teremos torneios importantes a partir de março e precisamos manter o elevado nível da seleção, afinal, desde 2007 conquistamos todos os torneios possíveis – afirma Fábio Luiz, espécie de Rei Mídas do Futebol de 5.
Ainda que o gaúcho Ricardinho, o melhor jogador do mundo não esteja no torneio (ele atua na Série A, pela Agafuc, a Associação Gaúcha de Futsal para Cegos), Fábio sonha encontrar um novo Ricardinho em Porto Alegre.
– Há jovens promissores, que estamos observando. Cheguei a jogar com Ricardinho, ele é um fenômeno – finaliza o técnico paraibano.
A Série B do Futebol de 5 nacional vai até domingo e a entrada no Tesourinha é grátis.
*ZHESPORTES