Para Marcelo Moreno, a Bolívia só vai evoluir no futebol quando não jogar mais em La Paz. A altitude de 3,6 mil metros acima do nível do mar sempre foi a principal aliada do país. É nela que seus clubes conseguem as vantagens que o levam adiante na Libertadores e é "em cima da montanha" que a seleção alcança suas maiores glórias, como o inesquecível 6 a 1 sobre a Argentina de Messi em 2010.
Mas, na visão do centroavante que ainda deixa saudades em torcidas como Grêmio e Cruzeiro, apesar de ser uma "arma fundamental para o time", ela é mal utilizada. Com tantos jogadores longe do país, ela acaba prejudicando o desempenho de uma equipe acostumada a conviver no nível do mar.
– É difícil. Jogo na China, estive no Brasil, a cada vez que chego lá, passo dificuldades, as mesmas que os adversários sentem – conta o boliviano, que passou por Porto Alegre no recesso do Campeonato Chinês para visitar parentes de sua mulher antes de se apresentar à seleção de seu país para dois jogos: Brasil em Natal e Equador em – olha só! – La Paz.
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Depois de aceitar voltar ao time nacional com a saída de Julio César Baldevieso, virou peça-chave no time de Ángel Guillermo Hoyos, que assumiu a equipe em setembro e conquistou quatro pontos contra Peru e Chile. Agora, com sete, está a seis pontos da zona de classificação para a Copa de 2018.
– Vamos em busca desta última vaga. Ela tem que ser nossa – promete o centroavante.
Para o jogo na Arena das Dunas, quer "fazer um bom jogo" diante de um Brasil renovado a partir da chegada de Tite. Mas nada de retranca:
– Nosso técnico nos diz sempre: "prefiro perder atacando do que não criar nada".
Contra a nova Seleção, Moreno encontrará três colegas de futebol chinês, Gil, Paulinho e Renato Augusto. No emergente futebol oriental, a situação será cada vez mais comum. A ideia dos asiáticos não é criar uma liga de espetáculos com craques veteranos, como faz a Major League Soccer-EUA, com Pirlo, Lampard e Kaká. A ordem é manter um torneio competitivo, trazendo jogadores de preferência no auge da forma, técnicos consagrados e que todos eles sirvam de professores do esporte para os jovens, com resultados expressivos, como o título da Liga dos Campeões da Ásia do Guangzhou Evergrande, comandado por Luiz Felipe Scolari. A seleção nacional pretende disputar a Copa do Mundo de 2018 como uma espécia de aprendizado e ganhar força em 2022. Vale lembrar: o país foi terceiro lugar no quadro de medalhas na Olimpíada carioca. Falta só o futebol.
– Estou há duas temporadas na China e noto a evolução dos meus colegas de time e dos adversários. Tenho certeza: em três anos, será uma das ligas mais competitivas do mundo – avisa.
A promessa de crescimento, a qualidade de vida no país e os altos salários serão alguns dos atrativos.
Mas mesmo assim, Marcelo Moreno não teria problemas em deixar o país. Com contrato vencendo em dezembro, tem propostas para renovar seu contrato com o Changchun Yatai, atual lanterna da Liga, e de outras equipes chinesas. E teve seu nome ligado, como ocorre em todas as janelas de transferências, a clubes brasileiros. O da vez é o Corinthians, que teria interesse em contar com o centroavante a partir de janeiro de 2017.
– Estou aberto a consultas a partir de dezembro – alerta o atacante, brincando ao falar mais próximo do gravador da reportagem de Zero Hora em entrevista realizada no Shopping Moinhos.
Pode até não ser prioridade, mas voltar ao Brasil não está descartado. A saudade dos familiares influencia e a viagem para a China é longa. Os planos de ter filhos em breve devem pesar na decisão.
Apesar de deixar claro ter preferência por Grêmio e Cruzeiro, onde teve maior destaque nos últimos anos, Moreno garante ser "profissional", a ponto de jogar pelos rivais Inter (de quem recebeu sondagem) e Atlético-MG.
– Uma situação assim é de se pensar, e não só em dinheiro. Mas também na estrutura do clube, no técnico, se a nossa característica se adaptaria ao estilo da equipe – explica.
De lá, acompanha o futebol brasileiro, principalmente nas partidas de meio de semana. Às 9h45min de quinta-feira, horário local, vê as transmissões ao vivo. Só não consegue ver os jogos de domingo, que passam nas madrugadas. Então, assiste às reprises pela Internet.
Por isso, não se surpreendeu quando foi abordado por um torcedor na escada rolante:
– Volta para cá, Moreno. Precisamos de alguém para fazer gol – pediu o gremista.
– Calma, o Luan está aí, está correspondendo – respondeu o atacante.
– Ah, o Renato está colocando ele aberto, longe da área – insistiu o torcedor.
– No último jogo já mudou. Vai dar tudo certo, mas obrigado pela lembrança – rebateu Moreno.
Depois, perguntado sobre o momento do futebol, que cada vez menos dá espaço para os centroavantes mais fixos na área, não fugiu:
– Depende do centroavante. Tem treinador que gosta de um cara mais posicionado, que faz parede para o jgoador que vem de trás. E outros, não. No mercado, não tem esse centroavante que os clubes procuram. Está escasso – opina.
E não perde a bricadeira. Novamente, aproxima-se do gravador e fala alto, sorrindo:
– Pelo que vi o Grêmio jogar, tanto com o Roger quanto com o Renato, me encaixaria bem. Ó, meu contrato vence em dezembro, hein?