A Uefa, a Fifa do futebol europeu, tocou na lógica da Eurocopa. Ao contrário das clássicas 16 seleções, escancarou a porta e chamou mais oito na histórica edição 2016, com 10 cidades francesas como sub-sedes (10 de junho a 10 de julho). Ao contrário de 31 partidas, serão 51.
Pelo largo vão passar Albânia, Ucrânia, Irlanda, Islândia, Áustria e outras nações nanicas do planeta bola. Ninguém reclamou. Há R$ 1,2 bilhão para ser dividido entre todas, cortesia do organizador – três vezes o faturamento conjunto da endividada dupla Gre-Nal.
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Cada vitória, fora outros gordos incentivos, vale R$ 4 milhões. O empate fica por R$ 2 milhões. A Conmebol disponibilizou R$ 75 milhões em prêmios para as 16 seleções da Copa América Centenário, nos EUA. A diferença pró-Europa é de R$ 1,125 bilhão.
Os resultados de campo, ao menos nesta primeira semana e depois de duas rodadas quase completas nos seis grupos – Islândia e Hungria (13h) e Áustria e Portugal (16h, jogam neste sábado – não refletem a euforia do torcedor, os estádios lotados e coloridos e a massiva audiência na TV mundial. Até os hooligans ingleses reapareceram, minoria em relação aos 2,5 milhões de fãs aguardados nas arenas. Não haviam sido contidos pela leis britânicas.
Eles voltaram bêbados como nunca, mas foram surpreendidos em Marselha, na Costa Mediterrâneo, por grupos de russos acostumados aos combates de ruas, treinados como soldados, muitos deles integrantes de forças de choque de partidos de extrema direita. Os anfitriões do Mundial de 2018 se comportaram como bandidos na França, 20 foram deportados. Bem-vindo à Rússia da próxima Copa do Mundo.
Os escores ficaram concentrados no 1 a 0 e no 2 a 1. Goleadas, o que não é sinal de grande desempenho, não apareceram. Se sobrou paixão, partidas disputadas até o último segundo, faltou bom futebol, espetáculo, grandes jogadas, gols e partidas memoráveis, clássicas, como Inglaterra e País de Gales (2 a 1) . A Alemanha campeã da Copa do Mundo do Brasil de 2014 e sem um título continental desde 1996, na Inglaterra – talvez o melhor torneio da história da Euro – se mostrou burocrática com uma discreta vitória de 2 a 0 sobre a Ucrânia e um esquálido empate sem gols com a Polônia.
Pedir caras novas, surpresas, jogadores desconhecidos, quase é impossível nesta fase do futebol mundial. Todos as estrelas da Euro são familiares. Vivem nas nossa salas 10 meses por ano. Vestem as camisas famosas dos melhores times nos globalizados campeonatos nacionais do continente.
Os três grandes atletas dos primeiros sete dias, a terceira rodada arranca neste domingo, com Suíça e França e Romênia e Albânia, ambas às 16h, são o francês Payet, 29 anos, o espanhol Inistea, 32 anos, e o croata Modric, 30 anos, todos peças de meio-campo. Nada de Cristiano Ronaldo, o número 2 do mundo estreou discretamente numa das zebras, Portugal e Islândia, 1 a 1.
De acordo com um modelo estatístico aplicado pelos economistas do Goldman Sachs, que estudou cada jogo das 24 seleções desde 1958, a França tem 23,1% de chances de vencer a Euro 2016. Alemanha (19,9%), Espanha (13,6%) e Inglaterra (10,5%) chegam depois. Mas o banco de Wall Street alerta para a imprevisibilidade do futebol e nem a instituição confia 100% no seu Excel. Em 2014, apostava no Brasil. Oferecia 48,% ao time de Felipão. Os alemães tinha só 11,4%. Que acredita na França?
Natural da Ilha Reunião, no Oceano Índico, perto de Mandagascar, a 11 horas de voo de Paris, Dimitri Payet, na seleção desde os 24, foi escolhido duas vezes o melhor da França em duas rodadas. Marcou dois gols. Jogador de meio-campo, hábil, múltiplo e com um ótimo chute, ele é um destes atletas que amadurecem mais tarde. Viveu 10 anos da carreira no país de adoção. Foi chamado ao primeiro mundo do futebol em 2015 por um time periférico de Londres, o West Ham. Custou R$ 50 milhões. Vale três vezes mais.
Os torcedores o adoram. Sua falta é um míssil. Fez uma grande Premier League, entrou no 11 ideal da temporada, com 12 gols, 13 assistências em 39 jogos. Zidane, histórico camisa 10 francês, o melhor entre os melhores, pediu por ele. O quer no Real Madrid. Antes, Marcelo Bielsa, quando treinava o Olimpique, de Marselha, ofereceu a Payet o centro do seu time. Hoje a seleção francesa não vive sem ele.