Um dia depois da opção da população do Reino Unido por deixar a União Europeia, a repercussão da decisão começa a se espalhar por áreas além da política. No futebol, por exemplo, o impacto pode ser grande em todo o continente.
A mudança imediata está no limite de jogadores estrangeiros por cada time. Diferentemente do Brasil, a Europa adota um sistema em que todos os jogadores da Comunidade Europeia não são considerados estrangeiros – são tratados como comunitários. Com a saída do Reino Unido da União Europeia, os jogadores britânicos passam a impactar no limite de extra-comunitários dos seus times – como é o caso do galês Gareth Bale no Real Madrid, por exemplo.
Leia mais:
Como a saída do Reino Unido da UE afeta os brasileiros
David Cameron renuncia após resultado do referendo
Marta Sfredo: Brexit é tudo o que o Brasil não precisava
Por isso, o novo contrato de Bale com o clube espanhol pode sofrer alterações. Era esperado que o jogador anunciasse uma extensão contratual até 2023 com a equipe. Com a mudança, Bale passará a ocupar um dos três lugares como jogador extra-comunitário e, assim, a ideia do Real Madrid seria reduzir o período do novo vínculo.
Haverá também mudanças internas no Reino Unido. Atualmente, jogadores estrangeiros têm um processo complicado para ter a situação legal regularizada e poder atuar no país. Como os outros países da União Europeia não terão mais tratamento diferenciado, a tendência é que os times da Premier League tenham mais dificuldades para contratar europeus.
Para evitar um prejuízo à revelação de jogadores na base britânica, a Federação Inglesa (FA) adotou em 2015 um sistema para restringir a concessão de vistos para jogadores internacionais. São aceitos apenas atletas mais velhos e considerados de alto nível – em uma fórmula que considera o país de origem do atleta, levando em conta o ranking da Fifa, e o número de aparições na seleção nacional. Os clubes até podem entrar com pedidos de revisão em casos excepcionais, mas a regra é rígida.
Fórmula da FA para a concessão de vistos a estrangeiros:
De países do 1° ao 10° lugares no ranking da Fifa – ter disputado pelo menos 30% dos jogos de sua seleção nacional nos últimos dois anos.
De países do 11° ao 20° lugares no ranking da Fifa – ter disputado pelo menos 45% dos jogos de sua seleção nacional nos últimos dois anos.
De países do 21° ao 30° lugares no ranking da Fifa – ter disputado pelo menos 60% dos jogos de sua seleção nacional nos últimos dois anos.
De países do 31° ao 50° lugares no ranking da Fifa – ter disputado pelo menos 75% dos jogos de sua seleção nacional nos últimos dois anos.
O objetivo inicial da regra era limitar a contratação de jovens sul-americanos e africanos, por exemplo, o que reduziria o espaço de jovens locais. No entanto, a saída do Reino Unido da União Europeia fará com que o mesmo procedimento seja aplicado a jogadores europeus de outros países. Este era um dos motivos para a Premier League, primeira divisão inglesa, ser nos bastidores contrária à saída do bloco. Mesmo assim, a liga divulgou uma nota em que se diz confiante no futuro do futebol local.
"A Premier League é uma competição esportiva de muito sucesso e que tem um forte apelo doméstico e global. Isso continuará, independentemente do resultado do referendo. Com a natureza incerta da parte política e regulatória com a decisão, há pouco a comentar sobre as implicações até que elas estejam mais claras. Continuaremos a trabalhar com o governo e outros órgãos, independentemente do resultado de qualquer processo", diz a nota.
Segundo levantamento da BBC, um total de 332 jogadores europeus e não-britânicos jogou nas duas primeiras divisões britânicas na última temporada sem cumprir os pré-requisitos da FA com relação a estrangeiros.
Sem impacto nas seleções
Se os clubes podem sofrer com o "Brexit", o futebol de seleções nacionais não terá nenhum impacto. Ainda que formem apenas um país, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte jogam separadamente nas competições da Fifa. Desta forma, mesmo que eventualmente haja uma dissolução política do Reino Unido, a separação já ocorre no futebol.
*ZHESPORTES