Primeiro, surgiu a ameaça da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) de suspender a Divisão de Acesso. Depois, a saída de um técnico, a falta de patrocinadores, a renúncia à competição, uma retomada às pressas, o desmantelamento de um elenco e, principalmente, a escassez de pessoas para dividir os encargos do clube.
Essa sequência de acontecimentos culminou com o rebaixamento do Riograndense para a Terceirona gaúcha, após derrota por 3 a 0 para o Pelotas no domingo, na última rodada da primeira fase do campeonato.
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No início da tarde desta segunda-feira, enquanto aguardavam o pagamento do mês de abril e ansiosos por ir embora, alguns jogadores conversaram com a reportagem do "Diário". Eles relataram os meses difíceis vividos nos Eucaliptos.
– Foi a pior temporada da minha vida. Foi a pior coisa que me aconteceu até hoje. Vim pelo projeto do Bandeira (técnico), que era bom e com um time forte. Até a saída dele, o clima era bom. Depois, ficamos três dias sem luz e a falta de estrutura foi desmotivando todo mundo – recorda o experiente zagueiro Jonathas Costa, 31 anos, que foi um dos quatro atletas que permaneceram no Riograndense após a saída de Bandeira.
Questionado sobre a participação da diretoria do Periquito no dia a dia do clube, Jonathas Costa disparou contra os dirigentes:
– Não tem direção. Só um presidente que diz que é dirigente. O clube não tem o básico. Não tinha bola para treinar nem academia. O mês de fevereiro ainda não foi pago e eles ficam colocando a culpa uns nos outros. Se algum companheiro me perguntar referências sobre o clube, eu digo para não vir.
Segundo o goleiro Marcão, 20 anos, o descaso com os jogadores vai além da falta de materiais esportivos:
– Ninguém se preocupa com os atletas. Ontem (domingo), eu estava com 40°C de febre, tentei ligar para os dirigentes e ninguém veio. O zelador teve de sair da casa dele, de noite, para me cuidar. Não vou citar nomes, mas algumas pessoas aqui acabaram com o futebol.
Do lado alvejado, os dirigentes se defendem dizendo que apenas aceitaram o desafio de comandar o Riograndense para o clube não fechar as portas e ter de ficar dois anos afastado do futebol, e ainda pagar uma multa à FGF, conforme prevê o regulamento em caso de desistência:
– Tudo que eles (jogadores) pediram foi dado. A única coisa que faltou foi futebol. Tenho vídeos gravados deles na noite. A maioria saía à noite. Um atleta não pode fazer isso. Não estou dizendo que eles não devem se divertir, mas precisam se cuidar. Vamos pagar todas as dívidas as quais me comprometi até amanhã (terça). Sempre que eles me procuraram eu ajudei. É muito fácil transferir o fracasso para os outros – desabafou o presidente do colegiado que dirige o Riograndense, Dilson Siqueira.
Conforme Dilson, o clube deve antecipar as eleições para presidente marcadas inicialmente para julho. A ideia é começar a planejar e juntar recursos para a Terceirona desde o segundo semestre deste ano.
O conturbado 2016 nos Eucaliptos:
14/2 – A três semanas do início da Divisão de Acesso, o presidente da FGF, Francisco Novelletto, anuncia a suspensão do campeonato por falta de laudos dos estádios do Interior
18/2 – Por indefinição na Divisão de Acesso, Riograndense libera jogadores e comissão técnica por uma semana. Nesse dia, Estádio dos Eucaliptos estava sem energia elétrica devido à falta de pagamento
22/2 – Presidente do clube, José Luiz Coden, se afasta por recomendações médicas. Coden tem problemas de coração
24/2 – Jogadores se reapresentam após dispensa. Energia elétrica também retorna nos Eucaliptos
25/2 – Técnico Rodrigo Bandeira deixa o Riograndense e acerta com o Glória
25/2 – Riograndense anuncia a desistência de participar da Divisão de Acesso
29/2 – Riograndense muda de ideia, anuncia que jogará a Divisão de Acesso, forma colegiado liderado por Dilson Siqueira para comandar o clube a anuncia Lucas Fossatti como treinador
1º/3 – Com apenas oito jogadores remanescentes, clube recomeça as atividades
16/3 – Com elenco formado às pressas e sem pré-temporada, Riograndense estreia na Divisão de Acesso
21/3 – Sem alvarás e com notificação do Ministério Público, clube adia sua estreia nos Eucaliptos e inverte mandos de campo com adversários até 30 de março
1º/4 – Clube estreia em casa com portões fechados por ação do Ministério Público na Justiça e segue sem a presença de torcida até a 9ª rodada
14/4 – Estádio dos Eucaliptos recebe partida com público apenas na 9ª rodada
1º/5 – Riograndense termina na lanterna do Grupo A e é rebaixado para a Terceirona gaúcha