O Cruzeiro acaba de anunciar um técnico português, Pauilo Bento. Tentou Ricardo Gomes, ouviu um não como resposta, observou o marcado, vasculhou e pegou um avião para buscar do outro lado do Atlântico alguém para comandar o time.
Nesta quarta-feira, vimos pela TV os últimos dois times brasileiros na Libertadores se encararem por vaga na semifinal. Nas casamatas, as orientações vinham em espanhol. Ou seja, entre os oito melhores do continente, não há um técnico brasileiro.
Quase sempre, a realidade nos manda recados. Aponta o futuro imediato. Nós é que, na grande maioria das vezes, não percebemos. Estamos tão aturdidos com o dia a dia que nem percebemos os sinais.
Mas no caso da crise dos técnicos brasileiros me parece absurdo que a CBF não perceba os sinais que chegam. Acredito até que perceba, mas decidiu ignorá-los. Já passou da hora de a entidade intervir, de exercer o papel que propala, de gestora do futebol brasileiro.
Quem sabe a CBF rompa a bolha mágica que criou – e na qual vive um mundo um tanto fantasioso – e coloque a mão na massa. Está na hora de ela realmente se preocupar com a formação dos nossos técnicos, de capacitá-los, de treiná-los e apontar para eles os caminhos do futuro. Chega de esperar que os técnicos procurem sozinhos as soluções para um futebol que ainda acredita ser possível ganhar só com a alegria e a técnica. A esmagadora maioria deles não tem nem condições de pegar um vôo até a sede luxuosa da entidade, na Barra da Tijuca. Quem dirá para fazer um intercâmbio na Inglaterra, na Alemanha ou na Espanha.
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Me pergunto por que a CBF, cm a conta recheada por patrocínios milionários, não organiza simpósios e cursos para os técnicos das Séries A e B. Quem sabe enxuga o calendário um pouco e leva os treinadores para um ciclo de estudos na Granja Comary. Um quinhão do que ela arrecada poderia bancar a vinda, por exemplo, de um Jose Mourinho para um intensivo com os técnicos da Série A. O preparador do Atlético de Madrid, que assombra a Europa, também teria muito a ensinar para os nossos profissionais em um curso de imersão. Talvez um Guardiola pudesse passar um dia na CBF explicando suas idéias.
Que tal para aqueles técnicos que não estão na elite um curso subsidiado e com edições nas Capitais? Os professores os técnicos da Série A e também argentinos e uruguaios?
Precisamos agir. Há muito tempo, os clubes procuram no Exterior jogadores talentosos. Agora, ter de importar técnico me parece um pouco demais. Os sinais estão bem claros. É só enxergá-los.