Mesmo tomando um gol logo aos oito minutos de jogo, Claudio Ranieri bate palmas e manda o seu time pra cima do Manchester United em pleno Teatro dos Sonhos, como é conhecida a casa dos diabos vermelhos, para mais uma vez encararem de frente um gigante do futebol inglês. Apesar de ser a grande surpresa da temporada na terra da rainha, o jeito de jogar do Leicester não é nada inovador.
As Raposas se diferenciam pela aplicação moderna que os comandados do italiano dão ao seu sistema de jogo. Para os numerólogos, a formação da equipe varia entre os batidos 4-4-2 e o 4-2-3-1. O Leicester se defende com duas linhas de quatro muito próximas e sempre fazendo pressão em quem tem a bola, começando pelos atacantes. Quando a recuperam a transição é rápida e objetiva. Muito parecido com o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp, hoje no Liverpool. E isso não é mera coincidência.
Leia mais:
Promessa da base alemã morre em acidente de carro aos 19 anos
Leicester fica no empate com o United e festa do título é adiada
Conmebol apresenta taça da Copa América Centenário
Quando Ranieri foi demitido da seleção da Grécia em novembro de 2014 após uma derrota para as Ilhas Faroe nas eliminatórias da Euro 2016, ele entrou em contato com Klopp para assistir a treinamentos do Borussia durante a intertemporada de inverno. O treinador admitiu ao jornal inglês The Telegraph ter aprendido bastante no "estágio" com o alemão e aproveitou na época para observar Pep Guardiola no Bayern de Munique e Roger Schmidt, técnico do Leverkusen. O italiano buscou novos conceitos no jogo coletivo e obediente da escola alemã.
O título da Premier League vai coroar sua carreira no clube em que talvez isso fosse mais improvável. Antes de chegar ao Leicester, Ranieri teve uma sequência de tradicionais times europeus: Napoli, Fiorentina, Valencia, Atlético de Madrid, Chelsea, Parma, Juventus, Roma, Inter de Milão e Monaco. Apesar do invejável currículo e de uma boa passagem no Chelsea pré Roman Abramovich, o italiano não acumulava grandes conquistas na carreira.
Foi quando a tragédia grega o colocou na direção das Raposas e ele resolveu aproveitar a oportunidade, sem a pressão dos trabalhos anteriores, para se reinventar. O pequeno Claudio que cresceu em Roma morando em cima do açougue do pai e ficou conhecido na Itália como "gente boa demais para ganhar títulos" está próximo de conquistar a liga mais disputada do velho continente.
Com o empate de ontem, Ranieri e o elenco até outro dia desconhecido dos Foxes dependem de um tropeço do Tottenham hoje contra o Chelsea para entrarem de vez na galeria dos imortais do futebol inglês.
O pequeno que não se "acadelou" e vencerá na terra dos gigantes. Encarnando o espírito de Davi contra Golias no modo serial killer e derrubando galalau por galalau. E pensar que, em agosto do ano passado, Charles Aránguiz disse não ao Leicester de Claudio pelo tamanho do clube. Mal sabia ele que estava dizendo não às páginas da história.