A fome de bola anda grande na gurizada dos bairros Conquista, Jardim Vitória e Vila da Paz, em Cachoeirinha. Nem chuva, nem a escuridão dos finais de tarde impedem que cerca de 60 meninos e meninas participem das aulas de futebol promovidas pelo industriário Erik Machado Córdoba, 27 anos, três vezes por semana.
– Sempre fui um apaixonado por futebol. Como meu filho Taylor (nove anos) e seus amigos não tinham opções para se divertir perto de casa e com segurança, resolvi dar aulas de futebol. O pessoal gostou e foi tudo crescendo muito rapidamente – conta Erik, que ainda é pai de Hillary, seis anos.
E de fato, foi tudo muito acelerado. O projeto denominado Relíquias – nome escolhido pelas crianças – ganhou essa proporção em apenas oito meses.
Material escasso
E nem as condições climáticas desmotivam. A bola rola mesmo no escuro e com piso molhado, já que a quadra de asfalto na Rua Brasil Aquino Pedroso não tem iluminação, nem cobertura. Ou seja, no inverno, as aulas têm de encerrar bem mais cedo.
O material para praticar o esporte também é escasso. Além de ajudarem nas aulas, a esposa de Erik, Kátia, e o amigo Márcio Fraga auxiliam na busca por bola, coletes e tênis.
– Aqui é tudo na base da ajuda. Muita coisa, eu tiro do meu próprio sustento. Outras, eu mesmo faço. As goleiras, por exemplo, eu que soldei. Hoje, estamos com três bolas, uma delas furada – conta Erik, que deixa dois números para quem puder ajudar: (51) 8414-8720 e (51) 9396-7049.
Histórico de superação
As dificuldades que Erik e sua família têm para levar lazer e esportes às crianças de Cachoeirinha são pequenas se comparadas com as que ele viveu em 2009. O industriário participava de um torneio de futebol quando recebeu uma péssima notícia: sua casa havia incendiado.
A determinação do industriário é admirada por alguns dos vizinhos, como o pintor e letrista Edemilson Iohann, o Polaco, que tem três filhos no projeto.
Esquecidos
– Essas aulas são muito boas. Assim, as crianças ocupam a cabeça, não ficam só na frente do computador. Eu vi o Erik se criar aqui no bairro e sei que, entre várias opções ruins, ele escolheu o trabalho e a família. O que ele faz é sensacional, porque somos esquecidos. Se nós não fizermos, ninguém vai fazer – elogia Polaco.
*Diário Gaúcho