Parece incrível, mas, em mais de cem anos de futebol, a Fifa elegerá na sexta-feira apenas o seu nono presidente. Cinco candidatos concorrem à cadeira de Joseph Blatter, banido do futebol pelos próximos oito anos, após denúncias de corrupção na entidade e em suas afiliadas.
O novo presidente será escolhido entre um empresário sul-africano ativista antiapartheid (Tokyo Sexwale), um xeque do Bahrein (Salman bin Ibrahim al Khalifa), um príncipe jordaniano (Ali bin Al Hussein), um francês ex-secretário da Fifa (Jérôme Champagne) e um suíço advogado da Uefa (Gianni Infantino).
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No dia 26, representantes das 209 federações que integram a Fifa votarão. Para estar apto ao posto, o concorrente precisa ter sido integrante de uma associação de futebol ou ter jogado ou ter sido técnico por pelo menos dois anos nas últimas cinco temporadas. Além disso, precisa ter apoio de associações nacionais de futebol.
O xeque do Bahrein Salman bin Ibrahim al Khalifa, 50 anos, que recentemente ganhou o apoio da Confederação Africana de Futebol (CAF), é apontado como um dos favoritos à presidência da Fifa, pois já somaria cem dos 209 votos: os 46 da Confederação Asiática de Futebol mais os 54 votos dos países da África.
Aquele candidato que obtiver mais do que dois terços dos votos (um total de 140 votos) em primeiro turno será eleito presidente da Fifa. Caso o pleito vá para o segundo turno (o que é provável) e, com mais de dois candidatos, haverá votações eliminatórias, com o representante menos votado sendo alijado da fase seguinte, sucessivamente. O novo presidente será aquele que atingir 50% mais um dos votos válidos.
Zero Hora apresenta os cinco candidatos à sucessão de Blatter, que ficou 17 anos no poder. Um deles comandará a entidade pelos próximos quatro anos, tendo como uma das missões recuperar a credibilidade perdida após a série de escândalos que emergiram no ano passado.
Salman bin Ibrahim al Khalifa, 50 anos (Bahrein)
Foto: Kamarul Akhir, AFP
Membro da família real do Bahrein, Salman bin Khalifa é daqueles dirigentes que colecionam cargos no futebol. Ele chegou à presidência da Confederação Asiática de Futebol depois de comandar a Associação de Futebol do Bahrein.
Desde 2013, é um dos vice-presidentes da Fifa. No ano passado, antes que as denúncias chegassem também ao francês Michel Platini, ele apoiou a candidatura do ex-camisa 10. Depois, decidiu se candidatar ao pleito de fevereiro.
Khalifa surge como um dos favoritos à sucessão de Blatter. Além dos 46 votos das entidades que integram a Confederação Asiática de Futebol, o xeque conseguiu o apoio da Confederação Africana da Futebol. Caso as 54 federações africanas cumpram o compromisso e votem em bloco, Khalifa já terá uma centena de votos para o primeiro turno da eleição - uma vantagem e tanto sobre os demais postulantes.
O xeque é homem de bom trânsito nos gabinetes de Zurique. Ele integra o comitê de finanças e o comitê estratégico da Fifa. Foi membro do comitê organizador do Mundial do Brasil, além de presidir a comissão disciplinar do Mundial do Japão, em 2008. O dirigente também é considerado um dos grandes responsáveis pela controversa escolha do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022.
Apesar de todos os votos que o xeque já soma para a eleição, ele recebe severas críticas de entidades ligadas aos Direitos Humanos. Khalifa já foi acusado de comandar a repressão a manifestantes pró-democracia em seu país, nos movimentos de 2011.
Além disso, pesa sobre ele denúncias de diversas instituições vinculadas à Human Rights Watch a respeito de coação a atletas do Bahrein, naquele mesmo ano dos protestos. De olho na eleição da Fifa, na semana passada, o xeque se viu obrigado a assinar um documento da Anistia Internacional, reconhecendo diversas organizações que defendem a diversidade em seu país.
Gianni Infantino, 45 anos (Suíça)
Foto: Fabrice Coffrini, AFP
Infantino é a aposta da Uefa (União das Federações Europeias de Futebol) para fazer frente a Salman bin Khalifa. A mais poderosa das confederações do futebol mundial passou a investir no suíço depois que Michel Platini (então presidente da Uefa) foi suspenso por suspeitas de corrupção.
Advogado de profissão, Infantino reformou os contratos comerciais e de licenciamentos da Uefa. Também foi um dos idealizadores do Fair Play Financeiro (lei que exige que os clubes estejam em dia com as suas obrigações financeiras). É o atual secretário-geral da entidade, cargo que ocupa desde outubro de 2009, e também membro do comitê de reformas da Fifa.
Gianni Infantino é considerado um dos principais dirigentes da entidade europeia nos últimos anos. Fala italiano, inglês, alemão, espanhol e árabe, o que é um trunfo nas recentes alianças em busca de votos para a eleição à presidência. Recentemente, esteve no Paraguai, em uma reunião das federações sul-americanas, firmando o apoio da Conmebol a sua candidatura.
O candidato suíço conta com pelo menos 98 votos assegurados para o primeiro turno da eleição: 53 da Uefa, 10 da Conmebol e 35 da Concacaf - organizações que já haviam declarado apoio a Michel Platini. Ainda que Infantino seja considerado na Europa como o "Plano B perfeito" à candidatura Platini, há sérias dúvidas se ele poderá liderar a entidade, uma vez que jamais presidiu uma federação.
Jérôme Champagne, 57 anos (França)
Foto: Patrick Seeger, DPA
Ainda que o candidato suíço seja Gianni Infantino, o francês Jérôme Champagne é apontado como o "projeto de continuísmo" do suíço Joseph Blatter na Fifa. Diplomata, ele foi adido cultural em Omã, além de secretário da embaixada francesa em Cuba, nos Estados Unidos e no Brasil.
Passou a trabalhar junto a Blatter e à Fifa na Copa de 1998, na França, como chefe do protocolo do Comitê Organizador Local do Mundial. Ao final da Copa, foi convidado por Blatter a ser um dos conselheiros da Fifa. Depois, assumiu como secretário-geral adjunto (de 1999 a 2010) e diretor de relacionais internacionais da entidade.
Em junho, depois que Joseph Blatter renunciou à presidência da Fifa, e antes do anúncio de Michel Platini (de quem Champagne é inimigo declarado) como candidato da Uefa, o diplomata tentou se candidatar, mas não reuniu apoiadores suficientes para tentar ser um dos postulantes ao cargo.
Champagne conhece como poucos a Fifa, porém, a proximidade a Blatter certamente atrapalhará os seus planos de eleição. Ainda que o francês faça força para mostrar que não está ligado à corrupção na Fifa, tampouco aos desmandos na entidade, até agora, nenhuma federação abriu voto ou intenção de voto ao candidato a ele.
Ali Ben Al-Hussein, 40 anos (Jordânia)
Foto: FABRICE COFFRINI, AFP
O príncipe da Jordânia, presidente da Federação Jordaniana de Futebol e vice-presidente da Fifa, Ali Ben Al-Hussein se candidata pela segunda vez ao cargo. Em maio, concorreu contra Joseph Blatter - mais o holandês Michael van Praag e o ex-jogador português Luís Figo, que acabaram desistindo da disputa - e, devido às denúncias contra o suíço, acabou fazendo frente na eleição.
Com 73 votos, levou a eleição para o segundo turno. Porém, antes da nova votação, ele desistiu da candidatura, sem muitas explicações. E Blatter teve o caminho aberto para a sua quinta eleição - ainda que, dias depois, tenha renunciado ao cargo, devido às investigações do FBI por corrupção na entidade.
Hussein estudou na Inglaterra e nos Estados Unidos. Apesar de sua educação ocidentalizada, ele defende questões arraigadas para os árabes, como o uso do hijab (o véu islâmico, que cobre cabelo e rosto das mulheres) para as jogadoras de futebol muçulmanas.
Ainda que tenha retirado a sua candidatura à eleição da Fifa, no segundo turno do ano passado, o príncipe ficou marcado por ser um ferrenho combatente a Blatter. Porém, com tal atitude, de ter abandonado o pleito, ele parece ter perdido a confiança de muitas federações da Ásia, que passaram a apoiar Salman bin Khalifa.
Tokyo Sexwale, 62 anos (África do Sul)
O empresário da extração e indústria de diamantes e político sul-africano, Mosima Gabriel Sexwale talvez tenha a mais curiosa das trajetórias dos candidatos que desejam a presidência da Fifa. Ativista político, ele lutou pelo fim do apartheid na África do Sul, esteve preso com Nelson Mandela na icônica Robben Island, a prisão para os militantes negros, na Cidade do Cabo. Ganhou o apelido de "Tokyo" ainda na juventude, quando praticava karatê.
Com a ascensão de Mandela à presidência do país, Sexwale se tornou ministro dos Assentamentos Humanos. É ligado a diversas atividades filantrópicas e é curador da Fundação Nelson Mandela. Em 2010, integrou o Comitê Organizador Local para a Copa do Mundo da África do Sul - quando passou a integrar-se ao mundo do futebol. Talvez por ter pouquíssima experiência como dirigente esportivo, não tenha recebido apoio da Confederação Africana de Futebol, que deverá votar em bloco no xeque Salman bin Khalifa.
Quando Joseph Blatter foi banido da Fifa, Sexwale lamentou a sua saída, considerando a obra do suíço como "monumental" para o futebol.
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