Foi dentro do mar que o gaúcho Paulo Ricardo Souza, 26 anos, encontrou o caminho que o levaria a superar as dificuldades impostas pela paralisia infantil. Acometido pela doença aos quatro meses de vida, o menino nascido em Capão da Canoa decidiu que o surfe seria a solução para reverter o preocupante quadro. Embora tenha ficado com sequelas na perna esquerda, braço esquerdo e parcialmente na perna direita, iniciou no bodyboard e, depois, passou para o adaptado, com os joelhos na prancha - modalidade em que hoje coleciona conquistas.
Neste domingo, na Praia dos Molhes, em Torres, Litoral do Rio Grande do Sul, teve a oportunidade de mostrar suas habilidades ao público do Campeonato Brasileiro de Surfe, que teve como vencedor o baiano Bino Lopes. Antes da bateria da final, Paulo entrou na água acompanhado de outros três companheiros da modalidade.
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O caminho para chegar até o surfe de joelhos não foi fácil. Paulo só conseguiu andar sozinho aos seis anos. Aos nove, conheceu o bodyboard e se apaixonou.
- Deitado, deslizando, eu era igual a qualquer um dos meus amigos que estavam ali. Aquilo fez eu ver que minha limitação não me impedia de fazer nada e que era apenas um obstáculo para eu superar - relembra.
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Foram 13 anos no bodyboarding. Até que, em 2012, conheceu a ONG Adaptsurf, do Rio de Janeiro, que incentiva a prática adaptada. Em apenas dois anos, Paulo se tornou campeão brasileiro de surfe na modalidade de joelhos. Em setembro de 2015, participou do torneio mundial, na Califórnia - lá, no entanto, não subiu ao pódio. O troféu ficará para as próximas participações.
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Paulo garante que nunca teve problemas ao entrar no mar. Remar e pegar ondas é uma tarefa que domina e não acha difícil. Alguns incômodos já ocorreram devido a questões de acessibilidade da praia, mas nada que o impeça de desbravar diferentes picos pelo mundo.
- O surfe mudou completamente minha vida. Saí de uma criança que achava que não poderia fazer as coisas com seus amigos para uma que viu que, dentro d’água, era igual a todo mundo. Minha limitação não iria me impedir de fazer nada. Era só algo que teria que adaptar - aponta.
E está enganado quem pensa que ele parou no surfe. O gaúcho do Litoral Norte pratica e compete na natação, stand up paddle e, recentemente, entrou para o jiu-jitsu. Vontade de vencer é o que não lhe falta.
*ZHESPORTES