O drama do último jogo na segunda divisão em 2005 para o Grêmio passou por outros momentos delicados durante toda a campanha. Mano Menezes estreou com derrota no primeiro jogo da competição, teve que encarar, como mandante, jogos com portões fechados (e no Beira-Rio), quase caiu quando sofreu a humilhante derrota de 4 a 0 para o Anapolina e teve de buscar uma recuperação que os próprios gremistas passaram a duvidar. A confiança começou a voltar quando, na estreia da fase semi-final, o time foi ao ABC paulista e ganhou do Santo André por 1 a 0, batendo, assim, um adversário que tinha uma excelente campanha até então e aparecia como uma espécie de favorito a subir.
Para voltar à primeira divisão, o Grêmio precisou travar disputa particular e forte com o estado de Pernambuco. O Sport Recife ficou para trás ainda antes da fase semifinal com direito a uma vitória tricolor que é tida pelos jogadores como símbolo da arrancada. Entretanto, foi contra Santa Cruz e Náutico – unidos – que se deu uma guerra em que a última batalha foi nos Aflitos. O Santa foi inimigo nas duas últimas fases. Os confrontos da semi serviram para acirrar ânimos, pois ambos se classificaram para o quadrangular decisivo.
Aí, sim, os duelos extrapolaram os limites dos gramados. O clima hostil que seria visto na final contra o Náutico aconteceu com intensidade igual semanas antes no jogo contra o Santa Cruz no Estádio do Arruda. Ali, o Grêmio deu um drible desconcertante no adversário ao trocar de hotel em segredo na véspera do jogo e livrar seus jogadores de um ensurdecedor foguetório que durou a noite inteira com toques de ineditismo total.
O hotel ficava à beira-mar em Jaboatão, e uma bateria de foguetes foi disparada na madrugada de uma jangada que, por um problema na detonação dos fogos, se incendiou, causando riso nos dirigentes e outros integrantes da delegação gremista que estavam na beira da piscina saboreando o despiste, enquanto os atletas dormiam, tranquilos, no Cabo de Santo Agostinho.
A imprensa pernambucana também deixava o jornalismo de lado e se engajava numa exagerada disputa. Os repórteres gaúchos foram proibidos de ver o treino do Santa Cruz e, nas rádios, alguns profissionais pernambucanos acusavam os colegas do Rio Grande do Sul de terem espionado a movimentação, embora nós sequer tivéssemos passado do portão.
Um dia depois, mais dissabores e tensão. O vestiário do estádio fora reduzido em muito no seu espaço, sem os aparelhos de praxe e com um cadeado evitando a passagem dos jogadores para o gramado antes do jogo. A polícia não mostrava nenhum empenho para solucionar o caso, e ninguém se sentia seguro.
A irritação dos gremistas aumentava, o que se mostrou combustível para a partida. Com a bola rolando, toda a perturbação pernambucana se mostrou sem efeito. Com casa cheia contra si, o Grêmio saiu ganhando com um gol de Lipatin, Galatto defendeu um pênalti, e o time só cedeu o empate depois de uma fortíssima pressão. A igualdade no placar, porém, merecia comemoração e flauta gaúcha contra o ressentimento do Santa Cruz e do estado de Pernambuco que ainda sonhava e não abandonaria sob hipótese nenhuma este sonho de ter dois clubes ocupando as vagas no Brasileirão 2006.
O clima estava armado contra o Grêmio para mais batalhas... até o final.