No início de novembro, o ex-volante Tinga esteve em Dortmund para visitar amigos e seu ex-clube, o Borussia. Dortmund fica a seis horas de Munique. Mas as perguntas que o ex-volante mais precisou responder foram:
- Quem é esse Douglas Costa?
- De onde saiu esse jogador?
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Os alemães, sejam de Munique ou de qualquer outro ponto do país, estão encantados com o meia-atacante criado em Sapucaia do Sul, forjado no Grêmio e lapidado no frio da Ucrânia. Não é para menos. Douglas chegou ao Bayern e jogou como se estivesse entre os amigos que dividem a casa com ele em Munique. Nem estranhou a troca do Shakhtar por um gigante do futebol, cuja casamata tem como inquilino Pep Guardiola, o melhor técnico do mundo.
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O começo na Alemanha é arrasador. Lidera o ranking de melhor jogador da Bundesliga conforme a revista Kicker (algo como a nossa Bola de Prata da Placar), à frente dos companheiros de Bayern Lewandovski, polonês goleador do campeonato, com 14, e Müller, campeão do mundo, craque e vice-artilheiro, com 11. Em 12 rodadas, Douglas fez só dois gols, mas deu 12 assistências - e isso tem valor de diamante por lá.
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A troca do Grêmio pelo Shakhtar em janeiro de 2010 foi o primeiro passo. Seu staff chegou ao Olímpico com a proposta de 6 milhões de euros por 80% dos direitos - o Grêmio ainda ficou com 20%, entregues depois ao comprar Marcelo Moreno dos ucranianos. Calculou-se que a gélida Donetsk seria o estágio ideal para o guri, à época com 19 anos. O Shakhtar oferecia um técnico romeno que falava português, Mircea Lucescu e vitrina na Liga dos Campeões. Além disso, estava numa cidade de porte médio e com rigores do inverno capazes de criar couraça no mais tropical dos jogadores.
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Douglas ficou cinco temporadas no Shakhtar. Em junho do ano passado, percebeu que a Ucrânia havia ficado pequena para o tamanho dos seus sonhos. Colocou em prática a segunda etapa do seu projeto. Nas férias em Porto Alegre, chamou o amigo de infância Lucas Kruel para um jantar. Lucas recém havia voltado de temporada na Austrália.
Professor de educação física, ele pretendia ficar um ano e meio no Brasil. Tocaria seu trabalho de treinamento funcional. Desenvolvido pelo Time Villeroy, o treinamento consiste em aumentar a capacidade física sem usar aparelhos de musculação. Douglas não deixou saída ao amigo:
- O Brasil perdeu a Copa desse jeito, virão mudanças e a minha vez vai chegar. Eu quero estar pronto. Vem para a Ucrânia comigo, para fazermos um trabalho extra.
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Duas semanas depois, Douglas desembarcou no Shakhtar com seu personal à tiracolo. Treinava com os companheiros no CT e, à noite, complementava o trabalho em casa. Quando estava em viagem, chegou a receber as aulas por Skype. O rendimento em campo cresceu. Em fevereiro, o Shakhtar encarou o Bayern nas oitavas da Liga dos Campeões. Segurou o 0 a 0 em casa. Mas levou 7 a 0 na Allianz Arena. Foi nesse confronto que Douglas entrou no radar de Guardiola.
As conversas entre os dois começaram semanas depois. O técnico telefonava para a Ucrânia, fazia perguntas, procurava saber o que o brasileiro pensava de futebol. No final de abril, o Shakhtar cedeu e topou a venda por 30 milhões de euros. Além do lucro de 24 milhões de euros, também percebeu que o meia-atacante havia ficado maior do que a Ucrânia.
Douglas chegou a Munique como uma aposta. Por isso, os alemães estão boquiabertos com seu início. Para ele e seu staff, no entanto, a mudança foi natural. Em junho, já na sua confortável casa em bairro nobre da cidade. reuniu-se com Lucas outra vez. Traçou novos objetivos. Entre eles, a Copa do Mundo de 2018 e a conquista da Liga dos Campeões. A curto prazo, estabeleceram metas de gols, assistências e jogos.
O êxito na Alemanha está ligado à sua disciplina germânica. Lucas trabalha com Douglas há 16 meses. Nunca escutou um muxoxo para treinar. Costuma ouvir do amigo sempre uma frase:
- Teu sucesso é o meu sucesso e vice-versa.
O empenho chega a assustar o personal:
- O Douglas é uma máquina, tanto no aspecto físico quanto técnico. Chego a ficar assustado.
Em campo, o jogador se beneficia das virtudes de Guardiola. Confessa aos mais próximos ficar espantado com a clareza das orientações do chefe. Para completar, a parceria em campo colabora: Lewandowski, Müller, Robben, Götze, Lahm e Thiago Alcântara, entre outros. Thiago, aliás, ficou próximo do meia. Tanto que se inspirou nele e contratou Lucas para fazer hora extra dos treinos em casa. Um indício de que a versão germânica de Douglas Costa já faz escola até mesmo na Alemanha.
Douglas é perigoso Matthias Dersch*
"Douglas Costa tem surpreendido a todos os especialistas na Alemanha. Ainda se procura uma dinâmica parecida com a dele na Bundesliga. Dificilmente, um defensor aparece com o ritmo e a técnica do brasileiro. Isso é claro. Notável, também, é a sua versatilidade. Ele é perigoso tanto na esquerda quanto na direita, e também centralizado. Para o Bayern, a contratação provou ser absolutamente correta, ainda mais em comparação a outros jogadores, da mesma categoria, já que pode realmente ser considerada uma "pechincha". Ele deixa o time menos dependente de Robben e Ribery, sempre propensos a lesões. E poderá manter a posição, em um futuro próximo, sem problemas, se o desenvolvimento seguir tão rapidamente assim. Atualmente, aliás, o Douglas já está à frente dos dois. O Guardiola gosta muito dele e o deixa realmente jogar."
* Matthias Dersch, é repórter do jornal Ruhr Nachrichten. Cobre o rival do bayern, o Borussia Dortmund, e a seleção alemã.
Velocidade, força e dinâmica*
"Assim que ele foi anunciado, alguns perguntaram "quem é Douglas Costa?". Claro que ele já era conhecido por causa do Shakthar Donetsk, mas a pergunta era por que o Bayern havia lhe contratado, o que foi respondido muito rapidamente. Incrível como ele se adaptou rápido tanto à questão filosófica quanto ao ambiente do Bayern e da Alemanha. Ele joga constantemente forte, com uma velocidade incrível, dinâmica, além de ter um elevado número de assistências. Logo convenceu a torcedores e jornalistas _ e os responsáveis (pela contratação) de sobremaneira. Aproveitou e fechou imediatamente a lacuna que havia com as ausências de Robben e Ribery, por lesão. E oferece opção, podendo substituí-los perfeitamente. Ele pode, inclusive, manter o nível da dupla Robben-Ribery, caso consiga manter a constância e mostrar o mesmo desempenho ao longo de várias temporadas."
* Torben Hoffmann, repórter da SKY Sports de Munique e ex-jogador profissional
NÚMEROS
1.430 minutos jogados
4 gols
53 chutes a gol
14 assistências
103,2 quilômetros (apenas na Bundesliga)
1.164 toques na bola
52% de vitórias no um contra um
602 passes certos
111 passes errados
84% de acerto nos passes
11 faltas cometidas
23 faltas sofridas
10 impedimentos
* Colaborou Guilherme Becker