Masato Uchishiba havia sido campeão olímpico do judô no peso meio-leve em 2005. Chegava ao Mundial de Cairo, no Egito, com absoluto favoritismo para voltar ao lugar mais alto do pódio. Mas no último passo do seu caminho estava um gaúcho de 1m63cm e 66 quilos. O dia 10 de setembro de 2004 era do surpreendente João Derly, à época com 24 anos, colocar o Brasil no topo do mundo pela primeira vez.
O então atleta da Sogipa e hoje deputado federal se tornava, há exatos 10 anos, o primeiro brasileiro campeão mundial de judô - dois anos depois, ele repetiria o feito no Mundial do Rio de Janeiro. O dia transformou a realidade do esporte na Sogipa, no Rio Grande do Sul e no Brasil.
Entrevista com João Derly, bicampeão mundial de judô
Quais lembranças aquela vitória ainda te traz?
Foi um momento maravilhoso da minha vida. Há 10 anos, exatamente hoje, se tu falasses que um gaúcho pudesse ganhar de um japonês, seria chamado de louco. Imagina ser campeão do mundo em cima do japonês campeão olímpico? É inimaginável. É um privilégio ter trazido essa conqusita. Coroa o esforço, a dedicação que eu tive. Abriu portas para que o esporte crescesse no Estado. No meio de todas as dificuldades, coroou o esforço enorme. Meu, da minha família, do próprio clube, que de alguma forma me dava a estrutura física.
Como aquele resultado mudou a tua vida?
Foi um marco. Não só pra mim, mas para a consolidação do judô no Rio Grande do Sul. A partir dali, consegui ter patrocínios. Ajudou na manutenção para que eu pudesse dois anos depois defender o título. Ainda sou o único brasileiro bicampeão do mundo. Começamos a profissionalizar, com equipe multidisciplinar, nutricionista, psicólogo. Começaram a vir atletas de outros estados para cá. Hoje, somos referência no país. Mudaram as minhas condições para disputar o título novamente dois anos depois.
Foste o primeiro brasileiro campeão mundial de judô. O que isso representa pra ti?
No início, até me assustei. Claro, tu te dedicas, mas quando acontece tu pensas se foi tão merecedor. Ser a primeira pessoa do teu país a conseguir esse feito. Fiquei assustado. Me trouxe uma responsabilidade enorme. Pensei justamente quando aconteceu em deixar um legado, tinha que deixar algo para as próximas gerações. Tentar dar mais condições estruturais para que os próximos atletas, até as crianças, pudessem se espelhar em mim, na minha dedicação. Isso foi o que valeu muito dos títulos. Deixar algo palpável, uma continuidade de briga até o final.
Dez anos depois, você acha que o judô brasileiro está em um outro patamar?
A CBJ não tinha patrocínio. Quando fui campeão do mundo, em dois dias, tudo já tinha sido pago, tinha voltado tudo com o patrocínio. A estrtura da CBJ se desenvolveu muito. Hoje, há atletas da base viajando para o Exterior, competindo, fazendo intercâmbio. A partir dali, a estrturua da CBJ cresceu absurdamente. O resultado tem tido continuidade. Seguiu com o feminino, que não tinha tantos resultados e hoje consegue resultados até melhores que o masculino.
*ZHESPORTES