Uma das expressões brasileiras mais populares é: "Nadou, nadou, e morreu na praia". E foi, literalmente, na costa litorânea da capital catarinense - ironicamente, a terra de Guga, nossa estrela do tênis - que acabou mais um sonho do país nesta modalidade esportiva.
Desde que Gustavo Kuerten abandonou as quadras devido às suas infindáveis dores, essa é a nossa sensação: vamos lutar pra valer, mas as chances são mínimas. OK, nós pensamos, antes do "mané cabeludo de roupas coloridas" começar a vencer e somar tudo o que conquistou, o cenário também era esse. O brasileiro não desiste nunca...
Porém, toda a tradicional esperança nacional esbarra na falta de um herói para sua superação através do esporte, um bom exemplo para um povo que já tem tantos problemas, uma distração positiva em meio ao caos. O nosso paradigma é Thomas Bellucci. Ele é o número 1 do país na modalidade e, ao mesmo tempo, figura que inspira pouca fé. Um tenista incrível, mas que parece ter apagões no meio dos jogos.
Desta vez, contudo, era diferente. A sorte parecia estar do nosso lado. A repescagem da Copa Davis (quando os atletas, enfim, disputam pelas suas nacionalidades e não individualmente) era contra a Croácia e esta não enviou os seus mais badalados competidores. Em meio à tanta chuva no Rio Grande do Sul, o tempo deu uma trégua em Florianópolis, permitiu a realização das partidas, com adiamento razoável, na bela estrutura no Costão do Santinho. A torcida compareceu e foi efetiva. Era o chão do Guga (saibro), com a presença do Guga, ídolo inspirando a todos.
A nossa dupla, com os campeões Bruno Soares e Marcelo Melo, parecia imbatível, e não foi. Restou a responsabilidade para Bellucci, na manhã de domingo. E ele teve lances incríveis, inflou os presentes, conseguiu desestabilizar o adversário Borna Coric e acabou desistindo no quarto set com dores nas costas. Bellucci traduz uma certa brasilidade. Com ele, tradicional alvo de piadas, fica sempre a sensação que dava e faltou pouco.
Assim, saímos do Grupo Mundial da competição. Assim, precisamos urgentemente construir um referencial neste esporte. O tênis é considerado elitista, pela estrutura que demanda. Nossas crianças necessitam ter a oportunidade de conhecer este jogo, tomar gosto por ele. Enquanto aguardamos políticas públicas para que isso se torne realidade, nos resta torcer para que o gaúcho Orlandinho supra esta lacuna.