Vamos direto ao ponto. O presidente da CBF não comparece a uma reunião técnica do comitê executivo da Fifa de medo de ser detido e ninguém fala nada no universo dos clubes brasileiros? Ele também não foi ao Mundial Sub-20, na Nova Zelândia, onde a seleção perdeu na final contra Sérvia. Não foi à Copa do Mundo feminina, no Canadá. Não foi à Copa América, no Chile. Ainda não apareceu nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Marco Polo Del Nero não vai a lugar algum. Está sitiado em seu próprio país e confortavelmente acarinhado pelo silêncio dos inocentes.
O homem que comanda uma grife mundial - ainda temos nosso discreto charme, apesar do 7 a 1 - mal pode pegar a ponte aérea Rio-SP. Desde o Fifagate não se deslocou nem até Porto Alegre, para o amistoso de despedida da Seleção Brasileiro rumo a Copa América, contra Honduras. Desmarcou a viagem em cima da hora, diante das informações de que seria alvo de protestos organizados pelas redes sociais. Se não queria passar por constrangimentos decorrentes das suspeitas de recebimento de propinas, fez muito bem. A vaia ia correr solta mesmo, tanto no Aeroporto Salgado Filho quanto no Beira-Rio.
Del Nero faltou à reunião na Suíça desfraldando a desculpa esfarrapada de um suposto dever de ficar no Brasil para prestar esclarecimentos a uma CPI cujo presidente, o senador Romário, estava em viagem ao Exterior. Não havia agenda alguma na investigação parlamentar que necessitasse da sua presença. Ao Rio Grande do Sul, não veio de vergonha. Se não tem tranquilidade legal e moral para viajar fora e dentro do país, que volte para a federação paulista. No circuito Bragança Paulista, Limeira e Sorocaba talvez ainda tenha algum miserável resquício de crédito. É óbvio que Del Nero tem de largar o osso e renunciar. Mais óbvio do que isso, impossível. Sua credibilidade é zero.
O ponto de partida da revolução tem de ser a sua saída, por representar o mesmo grupo instalado no poder há décadas. Por que ele continua no Palácio da Barra, então? Porque tem apoio político dos grandes clubes. O futebol brasileiro são os clubes. O dia em que estas instituições seculares tiverem a exata dimensão do que (e de quem) representam, ditarão as regras sem ter de negociar migalhas. Em vez de aproveitar o cenário caído dos céus para uma guinada transformadora, tomando as rédes do processo e forçando a realização de uma liga independente, premissa básica para o fortalecimento do futebol nacional, como acontece na Europa há décadas, nossos dirigentes preferem negociar vantagens. Que talvez nem virem realidade.
Qual a garantia de que o tal conselho técnico, propina política paga por Del Nero aos clubes para se manter no poder, será perene depois que a poeira baixar? O que for decidido ali vai durar quanto tempo? Até o cartola da vez na CBF voltar? Negociar com um homem que é a antítese do Brasil que sonhamos é também legitimá-lo. É não se conectar com o momento do país, que tenta punir não só o ladrão de galinhas, mas o graúdo de gravata Hermés e Rolex no pulso. Além do mais, é só ver de que lado está Eurico Miranda. O chefão do Vasco está fechado com as conversas de gabinete e no silêncio de apoio a Del Nero. O bom senso indica ir para o outro lado da força. Ainda há tempo para quebrar o silêncio de apoio a Nero e seu sobrenome sugestivo. Antes que ele passe de inocente a cúmplice.
*ZHESPORTES