Esqueça enormes condomínios luxuosos, segurança reforçada, área isolada. Não é esse o ambiente em que vive o treinador que pretende repetir Cesar Luis Menotti e Carlos Billardo e conquistar uma Copa do Mundo para a Argentina.
Alejandro Javier Sabella, 59 anos, vive em La Plata, distante 57 Km de Buenos Aires, em Tolosa, bairro de classe média da cidade. Nada de ostentação. Quem passa pela rua, jamais imagina que ali mora o homem que comanda o milionário time argentino.
Sabella é simples. Simplicidade essa que o fez conquistar uma legião de fãs na cidade. Os vizinhos falam do ilustre morador com devoção: "Já cruzei com eles várias vezes pela rua, ele vai ao supermercado, tem uma vida muito tranquila - relata Cesar
Quiroga, 44 anos, adestrador de cães que diariamente passa em frente à casa do treinador.
Em abril do ano passado, o bairro de Tolosa viveu uma tragédia. Dezenas de moradores tiveram suas casas invadidas pela água da chuva e perderam tudo. Sabella foi uma espécie de embaixador da região. Fez com que nada faltasse à comunidade. Pediu sigilo, mas os próprios moradores fizeram questão de contar e enaltecer o fato.
Quinto Pelluccioni, 50 anos, é vizinho de Sabellla desde que o treinador se mudou para La Plata, suas filhas são amigas desde a infância de Silvana Rossi, esposa de Sabella: "Alejandro é especial, querido por todos. Meu pátio é colado ao dele. Às vezes, ele faz churrasco com a família e convida alguns vizinhos.
Não demora, um casal que caminha tranquilamente pela rua, percebe que Sabella é o motivo da conversa e se aproxima. O garoto revela uma relíqua sua: "Tenho um autógrafo do Sabella, até com uma dedicatória. Ele é muito simples, atende a todos sempre - revela Gabriel Radimak, acompanhado da namorada Augustina.
Em janeiro de 2009, iniciou a trajetória de Sabella rumo a seleção argentina. Sem clube e descansando em casa, recebeu a visita de três dirigentes do Estudiantes, de La Plata. Após a saída de Leonardo Astrada, o time precisava de um treinador: "Precisávamos de alguém com identificação com o clube, como o Sabella sempre foi identificado conosco, decidimos pela sua contratação - lembra Eduardo Vera, orgulhoso de ser o diretor de futebol que participou da negociação.
A escolha não poderia ter sido melhor. No mesmo ano, Sabella levou o Estudiantes ao título da Libertadores em cima do Cruzeiro. Mas nem tudo foram flores na relação do treinador com o clube: "Por que me perguntas da saída? Me pergunte de qualquer outra coisa de Sabella, não de sua saída - pede Vera, que até hoje não digeriu o pedido de demissão do treinador em janeiro de 2011.
Se por um lado o episódio desagradou a direção, por outro, não mexeu em nada com a devoção da torcida.
Os vizinhos lembram o dia em que a calmaria do bairro deu lugar a uma invasão: "A torcida tomou conta das ruas, milhares de pessoas. Passaram à tarde e à noite pedindo para ele não ir embora - lembra o entusiasmado Pelluccioni.
A invasão deixou marcas. Há uma pichação em um muro, em frente à casa de Sabella, com os dizeres "Gracias Campeón".
A sede do Estudiantes em La Plata estampa com orgulho fotos e quadros do treinador. Afinal, o time argentino tem um motivo a mais para torcer pela seleção. Toda a comissão técnica tem passagem pelo clube. Desde o treinador, passando pelos auxiliares até o preparador físico.
O que todos esperam para este domingo é que o time argentino seja como o seu treinador: simples, cativante e campeão.