Depois de passar 15 dias treinando no CT do Real Madrid em Valdebebas, na capital espanhola, os quatro gaúchos que venceram a Peneirinha Gillette em 2012 voltaram para casa cheios de histórias. Leonardo Rodrigues, Luiz Ezekiel Baptista, Pedro Rios e Roberto Rebechi passaram pelas seletivas que percorreram o Estado entre setembro e novembro do ano passado e ganharam a viagem para a clínica de futebol do clube madrilenho - ao lado de jovens jogadores do mundo todo e nos mesmos gramados em que treinam Cristiano Ronaldo, Bale e Di Maria.
Os meninos partiram de Porto Alegre em 14 de julho, acompanhados da família. Na chegada a Madri, a separação: no aeroporto de Barajas os quatro foram apanhados por uma van do Real Madrid e levados direto ao CT, enquanto os pais e irmãos se encaminharam para um hotel no Centro. E assim, separados, eles passaram os 15 dias seguintes. Os meninos, com os dois campeões de Santa Catarina, ficaram hospedados na própria Ciudad Deportiva Real Madri, onde participavam dos treinos e também faziam aulas de espanhol ou inglês. Os pais não puderam assistir a nenhum treinamento dos gaúchos.
- Ele ficou o tempo todo com os outros garotos, separado de mim. O controle feito pelo clube espanhol é rigoroso. Só falava com o Pedro por uns 15 minutos por dia, ao telefone, para saber se estava tudo bem- contou Márcio Rios, pai de Pedro, 13 anos, de Santa Maria.
Enquanto os meninos estavam concentrados no CT dos merengues, as famílias aproveitaram para passear por Madri e por outras cidades próximas, como Toledo, Segóvia e Barcelona. Em apenas um dos dias os jovens craques puderam deixar o bairro de Valdebebas e se dirigir ao centro de Madri, onde fica o estádio Santiago Bernabéu. No tour pela casa do Real, eles ganharam 900 euros (cerca de R$ 2.900) para fazer compras em uma loja do clube. Todos aproveitaram para comprar bolas, chuteiras, abrigos e camisas oficiais, devidamente marcadas com seus nomes. Mas de todos os momentos vividos em Madri, certamente, o dia em que puderam acompanhar o treinamento dos ídolos ficará marcado para os meninos.
- O Modric (o meia croata Luka Modric) e o Di Maria jogaram muito. E o Cristiano Ronaldo é muito marrento. Erravam um passe e ele reclamava, xingava. Depois, não conseguia dominar a bola e chutava ela para cima. Mas o que ele faz nos jogos, ninguém consegue. Ele sempre salva o Real. Tem que engolir, né? - conta Roberto, 13 anos, atualmente jogando entre os sub-14 do Novo Hamburgo.
A viagem mostrou a Léo, Ezekiel, Pedro e Beto um estilo diferente de jogar futebol - mais tático, com menos dribles -, mas também deu a eles a segurança de que seu futebol está bem próximo do que é praticado nas escolas de craques do Velho Mundo. Os pais, orgulhosos, garantem que os observadores do time espanhol afirmaram ter visto nos gaúchos uma habilidade com a bola bastante distinta da dos europeus. E que as portas para uma possível ida para a Europa ficaram abertas.
Lembranças do Real
Veja o que contam os quatro selecionados:
"Com os espanhóis, era fácil de se comunicar. Mas com os russos e os mexicanos tinha que ser por sinais. Para pedir a bola, tinha que apontar para a bola e depois para nós."
Leonardo Luchesi Rodrigues, 10 anos
"Lá o futebol é diferente, mais rápido. Mas eles não sabem jogar. Havia um (menino) que não tinha força nem para bater bola."
Luiz Ezekiel Baptista, 10 anos, Canoas
"A maior diferença que percebi nos treinamentos é a disciplina tática. Aqui, a gurizada vai onde está a bola e dá porrada. Lá, o treinador pedia para dominar e passar em seguida, para fugir da marcação e não armar contra-ataques. Ele pegou no meu pé porque eu queria driblar."
Roberto Badermann Rebechi, 13 anos
Taquara
"Um dos observadores se aproximou, ao fim do treino, e me disse que eu tinha todas as características de um jogador europeu (cabeça sempre erguida e fácil toque de bola). Falou também que, se eu continuar jogando dessa forma, serei profissional."
Pedro Rios, 13 anos
Santa Maria