Airton Ferreira da Silva se descobriu com o vírus HCV no início dos anos 2000 e foi tranquilizado pelos médicos do Grêmio. O zagueirão mitológico do Olímpico, de 1954 a 1967, sofreu com o duro efeito colateral dos remédios e, três meses depois, perigosamente, desistiu do tratamento. Apavorada, a família buscou ajuda. Tinha de convencê-lo a retomar a medicação. Ligaram para Larry Pinto de Faria, o atacante não menos histórico do Inter, de 1954 a 1961. Larry foi um dos primeiros do futebol gaúcho a obter o diagnóstico de hepatite e empreendeu uma cruzada para que os colegas se submetessem ao teste.
Larry e Airton se enfrentaram em muitos Gre-Nais e, depois da carreira, ambos continuaram sendo tratados com idolatria na cidade e mantinham alguma amizade, nada tão íntimo. Mas o colorado atendeu ao chamado da família de Airton e foi visitá-lo na casa do zagueiro, justo no Largo Fernando Kroeff, na frente do Estádio Olímpico.
- Disse a ele que era necessário tomar os remédios, expliquei o que já sabia sobre a hepatite e tentei convencê-lo - contou Larry.
Não deu muito certo. A família voltou a ligar e, por outras duas vezes, o ex-atacante procurou o ex-zagueiro no quintal do estádio do Grêmio. Numa das vezes, Airton estava sentado numa mureta dentro do Pórtico dos Campeões, ou seja, dentro do Olímpico. Meio acanhado mas determinado, Larry foi ao seu encontro, e ali conversaram longamente. Por fim, Airton acabou retomando o tratamento e viveu cerca de 10 anos mais. Morreu no ano passado, aos 78 anos.
Chega a ser um pequeno recorde os 11 anos de convivência consciente de Larry com o vírus, que deve ter sido pego no Fluminense ou no Inter dos Eucaliptos.
Nas Laranjeiras, o departamento médico era quase todo da Seleção Brasileira. E lá ele jogou com Castilho, Bigode, Telê Santana, Carlyle, Didi e Joel, craques do início dos anos 50. No Inter, conviveu com Bodinho, Oreco, Salvador e Chinesinho.
- Teve gente que ficou doente nos dois times - disse Larry, sem citar nomes.