Jupiter, Flórida - Embora o time nacional de beisebol de Israel tenha muitos lançadores, rebatedores e receptores excelentes, o grupo sofre escassez de algo que poderia ser considerado essencial: israelenses.
Apenas três dos 28 jogadores são de Israel, sendo o restante de americanos com experiência profissional em beisebol e raízes judaicas, recrutados para representar uma terra que apenas alguns deles já visitaram.
Os requisitos de qualificação são bastante elásticos para o World Baseball Classic, torneio de 28 países que começou recentemente. Os jogadores não precisam ser cidadãos do país participante; basta serem qualificados para a cidadania, e para Israel isso inclui qualquer um com pais ou avós judeus. Um não judeu casado com uma judia também poderia jogar.
"Se ao menos pudéssemos fazer com que uma boa menina judia se cassasse com Albert Pujols, ele poderia estar na primeira base para nós", brincou Peter Kurz, secretário-geral da Associação de Beisebol de Israel (e nascido nos Estados Unidos).
O beisebol está engatinhando em Israel. Talvez 1.000 pessoas - com idades entre 7 e 60 anos - pratiquem o esporte, afirmou Kurz. O país possui apenas um campo de beisebol. A maioria dos jogos acontece em campos de futebol ou terrenos desocupados, com a bola sendo escondida pelo mato ou redirecionada por pedras.
Mas o país tem uma equipe nativa. No ano passado ela até mesmo recebeu uma rodada dos campeonatos europeus, vencendo alguns jogos. Shlomo Lipetz, de 33 anos, um destro de barba espessa, arremessou em duas partidas de um "doubleheader" (quando duas equipes fazem dois jogos seguidos), fazendo 214 arremessos contra a Grã-Bretanha.
O World Baseball Classic, no entanto, é algo muito maior. Quando Israel recebeu um convite para jogar numa rodada classificatória, uma decisão precisava ser tomada: eles deveriam criar um time inferior e levar suas pancadas, ou voltar-se aos Estados Unidos, onde a grama é mais verde com jogadores judeus?
"Perguntei ao nosso pessoal: 'Se pessoas que nunca vieram ao nosso país vestirem a camisa de Israel, isso irá incomodar vocês?'", contou Kurz. "Nossos rapazes apoiaram. Claro, alguns disseram que deveríamos ter vários israelenses, e eu respondi: 'Escute, nós queremos vencer'."
Um propósito maior foi citado. Os jogos do torneio serão transmitidos em Israel. Como eles ficariam se o time fosse uma farsa? Há anos, a Associação de Beisebol de Israel vem tentando fazer com que mais pessoas pratiquem o esporte. Hoje ela possui um fundo de construção. A associação espera levantar US$ 4 milhões para construir um complexo de beisebol na cidade de Ra'anana.
O torneio Classic pode ser uma grande oportunidade.
"Muitos judeus nos EUA citam Sandy Koufax como seu modelo preferido de judeu", diz um folheto de arrecadação de fundos. "Agora, a Equipe Israel fará história com os primeiros jogadores da 'Major League' (a liga principal americana) a representar Israel, criando novos atletas judeus servindo de modelo para a juventude judaica do mundo todo."
Três jogadores de origem judaica da Liga Principal, recém-aposentados, foram chamados: Brad Ausmus (que tem mãe judia), Shawn Green (que não jogava durante o Yom Kippur) e Gabe Kapler (que possui uma estrela de Davi tatuada na panturrilha esquerda).
Os três decidiram que Ausmus, ex-receptor de 43 anos, seria o técnico da equipe. Green, de 39 anos, defensor e rebatedor de 39 anos que se aposentou após a temporada de 2007, seria um técnico-jogador, assim como Kapler, de 37 anos, aposentado há apenas um ano.
Green, que fez mais home runs na liga principal do que qualquer judeu desde Hank Greenberg, vinha tentando ressuscitar sua rebatida dinâmica.
"Deixei o jogo por vontade própria", disse ele. "Acho que, se eu quisesse, poderia ainda estar jogando. Mas teremos de ver como será essa recuperação."
O World Baseball Classic já foi realizado duas vezes, em 2006 e 2009. O Japão venceu as duas edições. Desta vez, o núcleo da competição acontecerá em março. Doze países receberam vagas nos 16 finais, incluindo potências como Estados Unidos, Japão, República Dominicana e Venezuela. Dezesseis outros países irão disputar outras quatro vagas em rodadas eliminatórias até 19 de novembro na Flórida, Alemanha, Panamá e Taiwan.
Originalmente, os jogos de Israel estavam marcados para novembro, após o final da temporada americana. Isso teria permitido que a equipe tentasse recrutar os jogadores de origem judaica da liga principal, incluindo Ryan Braun, o atual jogador mais valioso da liga; Kevin Youkilis, do White Sox; Ian Kinsler e Scott Feldman, do Rangers; Ike Davis, do Mets; e Craig Breslow, do Red Sox.
Mas com as partidas antecipadas para o final de setembro, apenas jogadores menos conhecidos e de ligas menores estariam livres para participar. Como a Equipe Israel poderia encontrar os judeus em mais de 240 times espalhados por mais de doze ligas? Nem todo jogador de origem judaica é convenientemente identificável por nomes como Kaplan ou Perlman. Alguns são mais camuflados: Cody Decker, Joc Pederson, Charlie Cutler.
Felizmente, há pessoas que mantém registros de tais informações. Scott Barancik possui um site chamado jewishbaseballnews.com. O site mantém uma lista não só dos jogadores de beisebol judeus, mas publica também uma lista de "não-judeus" - visando eliminar a confusão causada por nomes que apenas parecem judeus, como David Eckstein ou Madison Bumgarner.
Esse trabalho exige pesquisas consideráveis, e Barancik, que é jornalista, às vezes recebe e-mails irritados acusando-o de ser "um árbitro injusto de quem é ou não é judeu". Ele disse usar a definição da "Jewish Sports Review", revista que lista jogadores que têm pelo menos um dos pais judeu - desde que o atleta não pratique outra religião e concorde em estar na lista.
Sheldon Wallman, coeditor da revista, afirmou que sua publicação foi a primeira a identificar Brad Ausmus como judeu após receber a dica de uma fonte confiável.
"A mãe dele me telefonou", explicou Wallman.
Segundo Ausmus, que não foi criado como judeu, era mais provável que sua avó tivesse feito o telefonema. Ele ficou grato pelas listas publicadas, já que ajudar a montar a equipe israelense se tornou parte de seu trabalho. Existem cerca de 65 jogadores de ligas menores com alguma raiz judaica. Ausmus trabalha como assistente especial do San Diego Padres, e possui acesso a relatórios de contratações.
"Ficou óbvio que podíamos reunir um time muito bom, e quando começamos a entrar em contato com os jogadores, a grande maioria abraçou alegremente a ideia de jogar por Israel", disse ele.
Mesmo assim, houve alguns obstáculos complicados. O torneio World Baseball Classic, criação da Major League Baseball, exigia documentação provando que um jogador era realmente judeu. Naturalmente, a questão "Quem é judeu?" é assunto delicado em Israel desde o nascimento do país. Rabinos ortodoxos insistem que um judeu de nascimento deve ser filho de uma mãe judia.
Os guardiões das regras do torneio são bem menos específicos. Mesmo assim, os potenciais jogadores e suas famílias partiram em busca de evidências. Os judeus são um povo, mas as evidências oferecidas quase sempre tendiam a ser religiosas. Jake Lemmerman, um promissor atleta do Dodgers, apresentou certificados de seu bar mitzvah e de sua confirmação, um ano depois.
Para alguns, mal havia documentos. O defensor Cody Decker, que nunca teve um bar mitzvah, vem de uma família que comemora tanto feriados judeus quanto cristãos; seu avô já chegou a servir costeletas de porco no Rosh Hashana. Ele enviou o certificado de bat mitzvah de uma tia.
A Equipe Israel, disputando classificatórias com a França, África do Sul e Espanha, pareceria um concorrente de peso.
"Somos os liliputianos contra os Gullivers, e precisamos encontrar os feijões mágicos", declarou o técnico da África do Sul, Rick Magnante (que é americano). Mesmo misturando as metáforas, ele fez uma observação válida.
"Os israelenses têm 100 jogadores judeus americanos para escolher", continuou ele. "Eu lhe pergunto: onde está o campo de jogo equilibrado?"
Ele não estava acusando Israel de qualquer coisa errada; ele estava meramente com inveja. Há apenas um punhado de sul-africanos jogando beisebol profissional nos Estados Unidos. "Eu gostaria que tivéssemos mais deles", explicou Magnante.
Nos dois primeiros torneios do World Baseball Classic, muitos países trouxeram jogadores de volta às suas raízes - ou de seus ancestrais. Mike Piazza, que nasceu em Norristown, Pensilvânia, jogou pela Itália; Alex Rodriguez, nascido em Nova York, concordou em jogar pela República Dominicana em 2009, embora tenha se retirado por motivo de saúde; Andruw Jones, nascido em Curaçao, jogou pela Holanda.
A Espanha retomou seu passado colonial, usando jogadores da Venezuela, México e Cuba.
"As regras permitem que um país vasculhe um pool mais amplo de talentos", disse Paul Archey, vice-presidente de operações internacionais da Major League Baseball. "A prioridade é desenvolver o jogo globalmente."
The New York Times
Beisebol israelense busca talentos com origem judaica
Time nacional sofre com escassez de jogadores que nasceram em Israel
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