
Os grupos de Inter e Grêmio se reapresentaram na tarde desta sexta-feira (13) tentando esquecer a confusão ocorrida na noite anterior, no Gre-Nal 424, que era para ser histórico por ser o primeiro válido pela Libertadores, mas acabou marcado pela briga generalizada no final da partida. Do lado azul, nenhum jogador concedeu entrevista coletiva, ainda que após o jogo o capitão Geromel tenha se dito envergonhado pelo ocorrido. No CT Parque Gigante, o meia D'Alessandro conversou com a imprensa depois do treinamento e garantiu que essa não era a imagem que os atletas queriam passar do clássico.
— Nada justifica o que aconteceu. Deste lado, estamos envergonhados, e imagino que do outro também estejam — afirmou o camisa 10 colorado.
No entendimento de Benno Becker Júnior, membro da Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte e vice-presidente da Federação Sul-Americana de Esportes para a Paz, os clubes precisam conscientizar os jogadores de que as agressões foram desmedidas. Ele sugere, no entanto, que essa interação com o grupo não seja feita "de cima para baixo", ou seja, de dirigentes ou comissão técnica para os jogadores, mas sim das lideranças do elenco para os demais companheiros.
— É importante que esses líderes, os jogadores mais populares do grupo, disseminem essa mensagem de paz de maneira horizontal. Porque se for o treinador ou algum diretor ou presidente falando, torna-se algo assimétrico. Esses detalhes sociais de dentro do elenco, mais sensíveis, devem ser falados pelos próprios atletas. Facilita o entendimento e a absorção entre eles — avalia o psicólogo do esporte, que já foi funcionário de Inter e Grêmio.
Quem trabalha neste meio garante que o mais importante, neste momento, é que os dois clubes tomem medidas para evitar que incidentes como o da quinta-feira se repitam. A avaliação é de que, se houver provocação e acirramento de ânimo de um lado, o outro responderá com violência. Para que esse tipo de situação não volte a acontecer, o professor de psicologia Eduardo Cillo afirma que seria interessante uma ação com algumas lideranças das duas equipes para conversarem e acalmarem a tensão.
— Existem muitas maneiras de fazer essa autocrítica, mas todas elas passam por discutir o que aconteceu e reconhecer que passou do ponto e não pode ocorrer mais. Uma possível articulação conjunta dos dois clubes, colocando os dois capitães em uma situação social fora de campo, poderia ajudar com que o foco seja no jogo em si — ressalta Cillo, que já trabalhou como psicólogo esportivo em clubes como Botafogo, Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG.
Esse ponto ganha ainda mais força porque Inter e Grêmio se enfrentarão novamente no próximo sábado, pela quarta rodada do segundo turno do Campeonato Gaúcho. Depois, as equipes terão também mais um embate pela fase de grupos da Libertadores, no Beira-Rio, e se o acirramento dos ânimos não estiver controlado, novas confusões podem acontecer.
Porém, os psicólogos avaliam que punições específicas para determinados atletas não são as medidas mais efetivas, até mesmo porque a briga envolveu diversos atletas. Além disso, multas e conversas em particular podem ter efeito imediato, mas não em longo prazo, fora que gera desgaste com dirigentes ou comissão técnica.
— Os clubes têm de partir para um processo educacional mesmo, de mostrar o descontrole e o papel deles na sociedade, como ídolos e exemplos para muita gente. Por isso, a fala dos treinadores, dos presidentes, dos líderes do elenco são tão importantes agora. Dependendo de como eles vão lidar com isso, a temperatura poderá esfriar ou esquentar ainda mais — destaca o psicólogo do esporte Eduardo Cillo.
Consequências dentro de campo
As oito expulsões no Gre-Nal 424, pela segunda rodada da fase de grupos da Libertadores, podem causar prejuízos mais longos do que apenas uma partida de suspensão para jogadores de Inter e Grêmio. De acordo com o Regulamento Disciplinar da Conmebol, atos de agressão por parte dos atletas podem acarretar em suspensão de, no mínimo, dois jogos. Porém, caso haja interpretação de que houve alguma conduta violenta grave, a punição sobe para, ao menos, cinco partidas.
Assim, a dupla Gre-Nal ficará atenta ao julgamento de seus atletas pela Comissão Disciplinar da Conmebol, que avaliará a conduta dos jogadores no clássico, que terminou com oito de cada lado em campo. Do Inter, foram expulsos Victor Cuesta, Moisés, Edenilson e Praxedes, enquanto os gremistas punidos pela briga foram Pepê, Caio Henrique, Luciano e Paulo Miranda.
Como a suspensão automática de um jogo é certa, os treinadores dos dois clubes terão de lidar com os desfalques para a próxima rodada da Libertadores — seja ela contra quem e quando for. Isso porque a competição teve os jogos da semana que vem adiados devido à pandemia de coronavírus.
Essa suspensão temporária do torneio pode, até mesmo, forçar um novo Gre-Nal no retorno da Libertadores, caso apenas a terceira rodada seja adiada e os jogos da quarta rodada ocorram normalmente. O clássico está marcado para 8 de abril, e a Conmebol ainda não divulgou como será o novo calendário da competição em razão da doença.
Desta forma, Eduardo Coudet não contaria com cinco titulares: Victor Cuesta, Moisés, Edenilson (expulsos no clássico), além de Musto e Marcos Guilherme (suspensos pelo terceiro amarelo), atuando praticamente com um time misto contra Grêmio ou América de Cali. A possível escalação tem: Marcelo Lomba; Saravia (Rodinei), Rodrigo Moledo, Bruno Fuchs e Uendel; Rodrigo Lindoso; Nonato, Boschilia e D'Alessandro (Patrick); Thiago Galhardo e Guerrero.
Do lado azul, Renato Portaluppi também teria desfalques, embora apenas Caio Henrique dentre os quatro expulsos seja titular. Assim, a provável equipe para encarar Inter ou Universidad Católica teria: Vanderlei; Victor Ferraz, Geromel, Kannemann (David Braz) e Cortez; Lucas Silva (Maicon) e Matheus Henrique; Alisson, Jean Pyerre e Everton; Diego Souza.