Ganhar uma Libertadores é um feito grandioso, sejam quais forem as circunstâncias. Mas, nos últimos dois anos, a reta final tem tido ainda mais peso. Pela segunda temporada consecutiva, os quatro semifinalistas já conquistaram o torneio continental na sua história — em 2019, Boca Juniors (6), River Plate (4), Grêmio (3) e Flamengo (1) somam 14 troféus. Um fenômeno parecido ocorreu ano passado, com os mesmos Boca, River e Grêmio, enquanto o outro representante brasileiro entre os quatro era o Palmeiras.
A presença de times de tradição pode não ser uma simples coincidência. Em 2017, a Conmebol mudou o formato da Libertadores e a transformou em uma competição que dura quase o ano todo. No primeiro ano, Lanús e Barcelona-EQU chegaram. Mas, desde então, só grandes potências econômicas do continente foram longe — Grêmio e River, por exemplo, estiveram entre os quatro nas três edições desde a mudança no calendário.
— Competições mais longas premiam invariavelmente quem tem mais estrutura, um projeto mais forte, inclusive no aspecto financeiro. Permite menos surpresas — avalia Lucho Silveira, comentarista do DAZN.
Além da força financeira, Lucho destaca que Grêmio e River, os dois que chegam à semifinal pelo terceiro ano seguido, contam com Renato Portaluppi e Marcelo Gallardo, os dois técnicos mais longevos de Brasil e Argentina, respectivamente, em seus cargos.
Um processo similar ocorreu na Copa do Brasil. Desde 2013, o torneio de mata-mata nacional tem o calendário estendido ao longo da temporada — e, ao mesmo tempo, conta nas fases decisivas com os times que se classificaram à Libertadores. Conhecida por ter campeões de menor expressão (Criciúma, Juventude, Paulista, Santo André), a Copa do Brasil só teve grandes do futebol nacional como campeões desde a alteração: Flamengo, Atlético-MG, Palmeiras, Grêmio e Cruzeiro.
Na Libertadores, os casos de quatro campeões como semifinalistas não são tão comuns. Em 2014, houve um caso extremo: San Lorenzo (que terminaria com a taça), Nacional-PAR, Bolívar e Defensor não haviam conquistado nenhum troféu quando chegaram à semifinal.
Antes de 2018, a última edição que havia tido quatro campeões como os melhores foi 2009 — Cruzeiro, Grêmio, Estudiantes e Nacional-URU.
O português Jorge Jesus, que chegou ao Flamengo em julho, disputa a primeira Libertadores da carreira depois de ter consolidado a sua carreira no futebol europeu. Para ele, a dimensão dos jogos é comparável ao ambiente da Liga dos Campeões.
— A paixão nestes jogos é muito maior. Na Europa, os estádios são cheios, mas a torcida não tem o calor do jogo como aqui no Brasil. A paixão deles, respeitando adversários, uns aos outros. Isso que é bonito — disse o técnico, depois do empate com o Inter, que garantiu o time carioca na próxima fase.
Para Renato, a manutenção do estilo de jogo é o diferencial para o Grêmio:
— Temos um esquema que joga assim há quase três anos e tem seis títulos. A confiança é total no meu grupo. Sempre falo para eles que isso aqui é Grêmio. Tem de pensar grande. Eu cheguei em 2016 e coloquei na cabeça deles que o Grêmio tinha de pensar grande e ganhar.
Exatamente por conta da dilatação do calendário, a Libertadores não terá jogos em setembro. Grêmio e Flamengo se enfrentarão nos dias 2 e 23 de outubro. As partidas entre Boca e River estão marcadas para os dias 1° e 22.