A vida de Zé Ricardo deu uma guinada profissional excepcional em 2016. O técnico, responsável por garantir o terceiro caneco do Flamengo na Copa São Paulo de Futebol Júnior em janeiro, termina a temporada como comandante da equipe principal, trabalho valorizado e dever cumprido.
Após superar a desconfiança inicial, quando era apontado apenas como interino, as poucas horas de sono e o frio na barriga, o treinador já projeta um 2017 repleto de grandes desafios. No entanto, não se intimida.
Com a Libertadores e o Mundial de fundo, ele crê em conquistas e voos altos no ano que vem.
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Qual o balanço que você faz de seus primeiros meses de trabalho como técnico efetivo do Flamengo?
Acredito que consegui fazer um trabalho bem consistente. O nosso grande objetivo foi o título brasileiro, mas ele infelizmente não veio. Por outro lado, asseguramos a vaga direta na Libertadores, que é algo que vai nos ajudar na programação do nosso planejamento para 2017. As dificuldades existiram, mas com a ajuda de todos do departamento de futebol e dos atletas, conseguimos estabelecer uma relação de trabalho muito boa e isso resultou em um bom ambiente e crescimento coletivo. Confira o bate-papo abaixo:
Qual foi o principal impacto sentido nessa transição da base para o profissional?
Sem dúvida nenhuma, mesmo com a longa experiência com trabalhos na base, que dá uma boa bagagem, assumir de uma hora para outra uma equipe do tamanho do Flamengo, com 40 milhões de torcedores, bate um nervosismo. As primeiras noites foram difíceis de se dormir, até porque minha primeira partida seria dois dias depois que fui chamado. As primeiras 15 noites foram de pouco sono (risos). Mas valeu a pena todo o sacrifício. Foi importante todo o apoio que recebi do departamento do clube para que pudesse iniciar minha trajetória. A energia que recebi dos profissionais das categorias de base, não só do Flamengo, foi muito importante.
Qual era o seu maior receio no primeiro momento?
Acredito que era fazer com que o grupo de atletas entendesse nossa filosofia de trabalho, além da própria recepção dele. As exigências no futebol profissional são muito maiores. Só tinha uma certeza naquele momento: colocar em prática tudo o que aprendi ao longo da minha caminhada e passar ao grupo que isso poderia dar certo. O primeiro desafio foi tentar devolver a confiança deles, que no primeiro contato que tive percebi que estava abalada. Vi que era um grupo muito técnico, com jogadores inteligentes e que não tinha como dar errado se as ideias fossem alinhadas. Me coloquei sempre ao lado deles, nunca a cima. Em determinado momento do Brasileiro tive a convicção que apresentamos um grande futebol.
Em qual momento ou jogo sentiu que as pessoas já não te viam mais como interino e sim como técnico do Flamengo de fato?
Teve uma partida que me marcou, que foi contra o Sport, na abertura do returno. Fizemos um final de turno em um bom nível e tivemos 10 dias para trabalhar para esse compromisso. Foi a partida sob meu comando que a gente tenha produzido menos. Aquilo me deixou em dúvida do motivo de não ter dado certo. Conversamos, os atletas entenderam que aquele jogo não era a maneira como o Flamengo deveria se apresentar, não só pelo resultado em si. Na partida seguinte, contra o Grêmio, já apresentamos um nível muito interessante. Dominamos boa parte das ações e foi a estreia do Diego e do Leandro Damião. A partir dali fizemos uns 12 ou 13 jogos sem perder. Posso te dizer que esse momento foi emblemático.
Há um tempo se falava que os treinadores brasileiros estavam defasados e não havia renovação. Vê uma mudança nesse cenário, sobretudo aqui no Rio com o seu sucesso e do Jair Ventura no Botafogo?
Esse é um assunto um pouco polêmico. Na verdade, não existe uma receita ideal. Apenas acho que a troca de experiência, seja aqui ou fora, é válida. Acredito que a reciclagem é o caminho. Não sei se isso é uma tendência, até porque tudo na vida existe o ciclo de renovações. Estou muito tempo já na estrada, como o próprio Jair. Mas existem outros no Brasil. O Corinthians agora está apostando no Carille, que é jovem, o Micale, na Seleção Olímpica, o Roger Machado, Eduardo Baptista, todos muito talentosos. Tem espaço para todo mundo.
A torcida pode sonhar alto?
Pode. Essa é a nossa tarefa. Não vai faltar empenho e dedicação de todos.
Como analisa o grupo do Flamengo na Libertadores?
Acredito que o último integrante da chave seja o Atlético-PR. Torço para isso. O clube vem se estruturando e tem um técnico excelente. A Católica tem um jogo tático muito consistente, ganhou o Clausura, o Apertura e tem o Salas como comandante. Já o San Lorenzo ficou com o vice na Argentina e tem o Diego Aguirre como técnico. Ele conseguiu dar uma identidade para a equipe, que há algum tempo tinha perdido. É um adversário difícil de ser batido. Vai ser uma competição muito complicada. Mas para eles também será complicado. Chegamos forte na competição e pensando grande.