Antes de ir para o Beira-Rio, na segunda-feira passada (11), Marcelo Prates pegou "um trapo velho", um pouco de tinta e pintou três palavras, uma em cima da outra, que repercutiram nas redes sociais: "Força Daniel Heitor".
O colorado de 40 anos, motorista de aplicativo, queria mostrar seu apoio a alguns jogadores criticados pela torcida por falhas recentes. Teve receio que sua atitude fosse ridicularizada, mas encontrou solidariedade entre outros torcedores.
Para sua surpresa, no final do jogo, recebeu um agradecimento especial de Daniel. O goleiro lhe entregou a camisa que usou na vitória por 1 a 0 sobre o América-MG. Marcelo atendeu a reportagem de GZH antes de pegar a estrada. Iria para Não-Me-Toque encontrar seu filho Matheus, que é cadeirante, e lhe dar de presente o uniforme do goleiro.
Como foi a ideia da faixa?
Foi contra o Colo-Colo. Minha cadeira fica bem na mureta, na linha da pequena área. Vi o Daniel fazer o pênalti na minha frente. Na hora xinguei, fiquei brabo. Mas depois passei cuidando ele durante o resto do jogo. Estava com semblante entristecido, abalado. E isso também me deixou triste. Vi que, quando terminou o jogo, nem ficou para comemorar aquela virada épica, saiu direto para o vestiário. Aquilo mexeu comigo. Me botei no lugar dele. Um cara que veio da base, sofreu, ficou anos esperando uma chance.
É um voto de confiança então?
Estamos em um ponto da temporada em que brigamos pelo título da Copa Sul-Americana, e as coisas estão nos favorecendo. Tivemos um gol no final, ganhamos de virada do Colo-Colo. E agora estamos tão perto do título. Eu também estava magoado com o Daniel e com outros. Mas me toquei de uma situação. Esses são os jogadores que temos agora. São eles que podem nos levar a alguma conquista.
Quando pensou em fazer a faixa?
Foi um ato sem planejar, com boa intenção. Mas acho que ajudou, deu força ao Daniel, ajudou a levantar outros jogadores, como Heitor. Peguei um trapinho, uma tinta que tinha guardada, e escrevi "Força Daniel e força Heitor". É o grupo que temos.
Fazer isso te preocupou?
Quando fiz, já tinha pensado. Sei que vão brincar comigo, vão tirar onda da minha cara, vou sofrer na rede social. Mas azar. Levei o trapinho e botei na mureta.
Como foi a reação?
O pessoal que trabalha no estádio passou na frente e deu risada. A torcida não via tanto. Mas aí o câmera da TV filmou e apareceu a faixa ao vivo. Bah, comecei a receber mensagem, os caras folgando em mim. Respondi: "Agora é hora de apoiar, de estar juntos. Não é hora de vaiar".
E a repercussão nas redes?
Foi ótima. Fiquei muito feliz com a resposta da torcida. Muitos compraram a ideia. Vários colorados agradeceram a iniciativa. Achei que iam me demolir, mas o pessoal colocou: "Isso aí, torcedor raiz". Não imaginava que um pedacinho de trapo velho, com três palavras, ia conseguir tanto engajamento. Chamamos a torcida para perto. Agora é hora de estar perto.
Os jogadores notaram?
Daniel viu o cartaz. Quando terminou o primeiro tempo, vi que ele olhou bastante, talvez tenha até pensado em ir lá. Mas o segundo tempo parecia roteiro de filme. Começou a chover, ele fez aquelas defesas, ganhamos com gol no final. Com a chuva, fiquei só eu na mureta. Daí o Daniel caminhou para o meu lado. Quando chegou perto, tirou a camisa e me deu de presente. Vi que estava emocionado, com os olhos marejados. Ele agradeceu o apoio. Respondi que acreditava nele, apoiava. E repeti que estávamos perto de um título, então vamos apoiar. Ele me disse: "Vamos brigar mesmo". A esposa do Daniel mandou mensagem agradecendo. A família estava abalada. Isso tudo foi ainda melhor do que ganhar a camiseta.