As eliminações na primeira fase da Copa do Brasil e na semifinal do Gauchão motivaram uma reunião extraordinária do conselho deliberativo com a direção do Inter. Os atuais gestores reconheceram os maus resultados e apresentaram justificativas para algumas decisões. Na exposição, passaram informações novas sobre o clube, principalmente a respeito das questões financeiras. As mais impactantes foram as dívidas executadas pela Fifa.
Segundo o presidente Alessandro Barcellos, o clube tem, no total, cerca de 6 milhões de euros (algo em torno de R$ 18 milhões) em pagamentos a fazer sob pena de proibição de contratar ou registrar atletas. Uma dessas dívidas, no valor de R$ 3 milhões, foi uma ação vencida pelo jogador Bruno Sabiá, um meia-atacante que esteve na base e no sub-23 entre 2013 e 2015. Nem sequer entrou em campo pelo time principal. Para pagá-la, foi necessário usar parte do valor obtido na venda de Yuri Alberto ao Zenit-RUS.
Bruno Sabiá tem 28 anos e jogou, depois do Inter, em Oeste, Capivariano, Taubaté, Mirassol, Marília e Comercial, todos do interior paulista. Além desses, esteve também no Itabaiana-BA. Voltou a São Paulo e atua no Barretos, na Série A-3.
As receitas geraram debate. O presidente reconheceu:
— Prometemos fazer mais com menos. A parte do menos temos conseguido. Nos falta o mais.
A referência são as economias apresentadas por ele. Segundo o presidente, o Inter reduziu em R$ 4,5 milhões o custo mensal da folha salarial na comparação de janeiro a dezembro de 2021. No relatório apresentado pelo dirigente, o clube gastou, no ano passado, R$ 16 milhões a menos do que em 2019 e R$ 23 milhões a menos do que em 2020. Com os valores corrigidos pela variação do dólar, a "economia" totalizou R$ 65 milhões.
Afora a questão financeira, Barcellos admitiu erros que culminaram em prejuízos, como a não participação na Libertadores de 2022 e a eliminação na primeira fase da Copa do Brasil. A competição nacional estava prevista no orçamento do clube para o ano, e a receita precisará ser buscada em outras fontes.
Um dos pontos polêmicos levantados pelos conselheiros foi a renovação de contrato com Lindoso. O volante estava com vínculo por encerrar no ano passado, mas foi estendido por mais uma temporada. Em março, porém, ele acabou emprestado ao Ceará com pagamento de parte dos salários sob responsabilidade do Inter até que certos gatilhos sejam atingidos.
— Lindoso foi titular em 60% dos jogos das últimas duas temporadas. Era uma liderança do vestiário. Já fez alguns sacrifícios pelo Inter. Em um jogo, estava com gesso na perna e fez tratamento a noite inteira para estar à disposição. Resolvemos renovar. Então veio a nova comissão técnica e não contava com ele em seu estilo — justificou Barcellos.
A reunião tratou também sobre o futuro. A falta de um executivo e de um coordenador foi cobrada. Paulo Bracks foi demitido do cargo há quase um mês e não houve anúncio de substituto. De acordo com o presidente, Bracks "contribuiu para o processo de adequação da folha salarial à realidade do clube, mas tinha dificuldades em outras valências, como avançar nas tratativas de mercado". Até por isso, a ideia da direção é de não contratar um "superexecutivo" com plenos poderes. O plano é dividir essa responsabilidade com um coordenador técnico, tendo Paulo Autuori como principal candidato ao cargo.
Tanto Barcellos quanto o vice de futebol, Emilio Papaléo, garantiram que há um "ótimo ambiente" no vestiário. Eles disseram que os jogadores respeitam e gostam do trabalho de Alexander Medina. Inclusive, para os dirigentes, a declaração de Taison após o Gre-Nal ("É hora de ver quem quer ficar de verdade no Inter, e quem não quer, tem de sair") vai ao encontro desta confiança.
São reflexos de quem não joga. Enquanto não volta aos gramados, o clube se vira entre cobranças e explicações.