Aos 38 anos, Felipe Melo tem muita história para contar. Nos planos do Inter para a próxima temporada, o volante viveu os altos e baixos do mundo da bola. Começou a carreira no Flamengo, participou na campanha que culminou no segundo rebaixamento do Grêmio. Jogou em clubes pequenos, médios e grandes do futebol europeu. Na Seleção Brasileira, levantou taça e disputou Copa do Mundo. Voltou ao Brasil para ser campeão com o Palmeiras. Desde o começo, colecionou polêmicas.
Confira a seguir um resumo da carreira de Felipe Melo.
Os primeiros passos
A carreira profissional de Felipe Melo começa no Flamengo, em 2001, em um time que tinha jovens como o goleiro Júlio Cesar e o zagueiro Juan. Entre os principais nomes do elenco estavam Edilson e Petkovic. O técnico era Zagallo. No clube carioca, ergueu seus primeiros troféus — a Copa dos Campeões e o Campeonato Carioca.
No segundo ano de carreira, nenhum título. Mesmo assim, chamou atenção do Cruzeiro, que comprou os seus direitos. Apesar de ter vencido o Brasileirão e a Copa do Brasil de 2003, foi perdendo espaço para jogadores mais experientes. Jogando menos do que gostaria, acabou emprestado ao Grêmio.
Eram tempos bicudos no Olímpico. O clube tinha pouco dinheiro e um time sem estrelas, e o volante fez parte da campanha do rebaixamento em 2004. Foi dispensado por ato de indisciplina. Nessa época conheceu o técnico Cuca, onde viria a ter problemas no Palmeiras. Foram 21 jogos e três gols com a camisa 10 tricolor.
Futebol espanhol
Na terra de Cervantes, perambulou por equipes de menor expressão. A primeira foi o Mallorca. Depois, jogou por Racing Santander e Almería. Apesar de jogar em clubes que estavam longe do topo da tabela, conseguiu se destacar para, logo na sequência, alçar voos mais altos na carreira.
Primeira passagem pela Itália
O bom rendimento no futebol espanhol resultou na ida à Itália. A Fiorentina tirou 13 milhões de euros da carteira para contratá-lo em 2008. Com ele, o clube toscano manteve o desempenho da temporada anterior, terminando o Campeonato Italiano na quarta colocação. Felipe Melo foi um dos pilares da equipe de Cesare Prandelli. Mas logo no começo de sua passagem pela Viola, o jogador mostrou o que seria um problema em sua carreira. Na terceira partida, contra a Juventus, foi expulso. Foram três vermelhos em 38 jogos.
Um ano em Florença foi o suficiente para atrair os olhares da Juventus. Ainda se reestruturando após ter disputado a Série B na temporada 2006/07, a Juve assinou com o meio-campista por 25 milhões de euros, um valor maior do que o pago pelo clube para ter o meia Diego, contratado na mesma época por 24,5 milhões de euros.
Foi uma temporada para esquecer para o clube de Turim. O brasileiro estreou com gol no 3 a 1 sobre a Roma, na capital italiana. Foi um dos raros momentos empolgantes do time na temporada. Apesar da fraca campanha — sétimo lugar no Italiano —, Melo seguiu para jogar em 2010/2011. Porém, expulsões desnecessárias e uma relação atritada com a torcida e com a imprensa selaram o fim de sua passagem pela Vecchia Signora.
— Apesar daquele cartão vermelho, ele foi muito bem na Fiorentina. A ida dele para a Juventus revoltou os torcedores. Já na Juventus, ele foi mal em campo, além de ter brigado com a torcida, que não gostava de ele ser um cabeça quente, e com a imprensa. Com tudo isso e o time indo mal, ele foi vendido para o Galatasaray — recorda Simone Lorini, repórter do site TuttomercatoWeb.
Seleção Brasileira
Na Seleção Brasileira, a possível contratação colorada foi do céu ao inferno. Entre 2009 e 2010, foi um dos jogadores de confiança de Dunga. A estreia ocorreu na vitória em amistoso contra a Itália por 2 a 0, em Londres.
Com a passagem do tempo, as críticas por sua titularidade se avolumaram. No dia em que foi convocado para a Copa de 2010, o jogador, insatisfeito com as ressalvas ao seu momento no futebol italiano, bateu boca ao vivo com o comentarista Paulo Vinícius Coelho, à época na ESPN.
No Mundial, ele se juntou a uma lista que conta com nomes como Barbosa, Telê Santana, Dunga, Roberto Carto Carlos, entre outros escolhidos como vilões para eliminações em Copas. Na partida contra a Holanda, foi expulso no segundo tempo. Depois daquele vermelho, nunca mais vestiu a camisa da Seleção.
Turquia
Sem sucesso na Juventus, Felipe Melo foi negociado com o Galatasaray. Seu empréstimo custou 1,5 milhão de euros na primeira temporada. Depois, o clube ainda pagou mais, 1,7 milhão de euros para renovar o empréstimo e, em 2012, finalmente foi adquirido por 6,5 milhões.
Nas quatro temporadas em solo turco, acumulou três campeonatos nacionais, confusões e histórias inusitadas. Em 2012, virou goleiro. Depois da expulsão do uruguaio Muslera, expulso por cometer um pênalti, o brasileiro precisou ir para o gol no final da partida. Na cobrança, ele se jogou para o lado direito, defendeu o chute e garantiu o 1 a 0 sobre o Elazigspor.
Uma das grandes polêmicas de seu currículo aconteceu nesse período da carreira. Em 2013, em um clássico contra o Besikitas, expulso (mais uma vez) no final da partida no clássico na casa do adversário, o volante deixou o gramado mostrando a camisa do Galatasaray para os torcedores rivais. Irada, a torcida invadiu o gramado à caça de Felipe Melo.
As vítimas não foram somente adversários. No ano anterior, o brasileiro brigou com o espanhol Alberto Riera durante um treino. O resultado do embate foi que Rieira parou no hospital com o rosto ensanguentado. E tem mais.
As confusões também foram fora de campo. Em 2014, de férias em Las Vegas, nos Estados Unidos, Melo foi jantar em um restaurante onde estava Coskun Birdal, jogador do rival Fenerbahçe. Em uma provocação ao volante, Birdal enviou um bilhete pelo garçom em que se lia "Fenerbahçe campeão". A "sobremesa" foi um boletim de ocorrência na delegacia após grande confusão no restaurante.
— Os torcedores do Galatasaray o amam. Ele sempre deu tudo de si em campo, jogou com o coração, e os torcedores aqui adoram esse tipo de jogador. Por isso, os problemas de indisciplina são relevados — explica Cagri Davran, jornalista turco .
Volta à Itália
Polêmicas à parte, a retomada do bom nível na Turquia rendeu a ele um retorno à Itália. Desta vez para defender a Inter de Milão. Foram duas temporadas (2015/16 e 2016/17). Em uma época de predomínio na Juventus, Felipe Melo não alcançou o mesmo destaques dos tempos de Fiorentina.
— Foi um período de muitos problemas na Inter. Ele até começou bem, mas depois acumulou faltas inúteis e cartões vermelhos. Acabou ficando à margem do elenco — conta Lorini.
Chegada ao Palmeiras
Sem espaço na Inter, o meio-campista encontrou abrigo em um milionário Palmeiras em 2017. Em São Paulo, empilhou vitórias, títulos e confusões, é claro. A primeira delas logo na sua apresentação.
— Se tiver que dar tapa em uruguaio, eu vou dar. Se tiver que dar porrada, eu vou dar porrada — declarou.
Difícil não imaginar o que aconteceu na partida entre Palmeiras e Peñarol, pela Libertadores. Teve tapa na cara de uruguaio e muita confusão. O processo pela agressão em Matías Mier foi arquivado na semana passada, o que permitirá que ele possa entrar no Uruguai para disputar a final da Libertadores contra o Flamengo, em 27 de novembro.
Essa será a segunda decisão continental de Melo com a camisa do Palmeiras. No ano passado, eles venceram a competição vencendo o Santos na final. Pelo clube paulista, agregou em sua galeria de troféus o do Brasileirão de 2018 e os da Libertadores, Copa do Brasil e Paulistão de 2020.
O jogador voltou a ter atrito com Cuca. Em 2017, os dois teriam tido uma forte discussão no vestiário. Assim como nos tempos de Grêmio, o treinador afastou o meio-campista. Um áudio do jogador criticando o técnico vazou nas redes sociais. Adjetivos como covarde, mau caráter e mentiroso foram utilizados por Felipe Melo para descrever o atual comandante do Atlético-MG.
Outro momento marcante de sua passagem pelo clube aconteceu no ano passado, quando Vanderlei Luxemburgo o deslocou para a zaga. A mudança não teve continuidade com Abel Ferreira, e Felipe Melo, hoje, é o principal pilar defensivo do meio-campo palmeirense.