É exagerado, mas não deixa de ser correto. O Inter de Abel Braga tem Praxedes e mais 10. Desde que voltou ao Beira-Rio, o técnico campeão mundial de 2006 cravou os olhos no menino de 18 anos, fixou-lhe no time titular e não tirou mais.
A cada entrevista, não perde oportunidade de elogiá-lo. Até com a CBF "brigou" dias atrás por terem deixado seu meia em campo durante todo um jogo-treino da seleção sub-20. A partida desgastou seu atleta, que teve desempenho ruim. O treinador reclamou e avisou que ele seguiria entre os 11.
Aos 18 anos, o mundo da bola girou rápido para Praxedes. Em janeiro de 2020, ele foi um dos protagonistas da campanha colorada que culminou com o título da Copa São Paulo de Juniores, em cima do Grêmio, na inédita final gaúcha.
Pouco mais de 350 dias depois, é o dono da posição no grupo principal. Se fosse seguir o rumo natural, estaria recém iniciando na categoria sub-20, mas seu destaque na base foi tão grande que simplesmente saltou o sub-17 por falta de desafio. Para se desenvolver, teria de jogar com os mais velhos.
No domingo passado, marcou seu primeiro gol como profissional. Ele aproveitou um escanteio da direita e, de cabeça, deu a vitória para o Inter sobre o Goiás. Por causa da pandemia e das arquibancadas vazias, não ouviu a explosão do Beira-Rio, que certamente ocorreria quando a bola tocou a nova rede do estádio.
Mais habituado ao time principal, ele atendeu a reportagem de GZH por telefone, antes do treino, e falou sobre começo de carreira, planos para o futuro, Gre-Nal, Abel, Coudet e sonhos.
Queríamos lhe conhecer um pouco melhor. Verdade que você é jovem ainda, mas o que já fez no futebol? Como foi o início?
Comecei no Vasco com nove anos e joguei até os 11. Daí fui para o Fluminense, fiquei seis anos por lá até vir para o Inter.
O começo já foi no campo ou era futsal?
Era obrigado a jogar salão, por causa da idade. O campo era uma ou duas vezes na semana. Desde o Vasco já era assim, depois seguiu no Fluminense até 13, 14. Só então fiquei no campo.
Algum colega desse período virou jogador?
Sim, Joguei com Reinier (ex-Flamengo, atualmente no Borussia Dortmund), Talles Magno (atacante do Vasco), Marcelo Pitaluga (goleiro, recentemente transferido do Fluminense para a base do Liverpool). Estive com eles no Vasco e no Fluminense.
No campo já começou como meia?
Sempre fui meia. Joguei de 10 (armador). Com o Fábio (Matias, técnico do sub-20 colorado), fui para segundo volante, chegando de trás, vendo o jogo de frente.
Já percebeu que um ano atrás você estava jogando com o Fábio Matias no sub-20 e agora está como titular no time principal?
É uma coisa que todos os garotos sonham, e quando acontece, a gente fica pensando: "Pô, será que é assim mesmo, tão rápido?". Eu estava na Copa São Paulo, fui campeão e quando vi pulei para o profissional. Mal caiu a ficha.
E tudo um ano antes, porque em tese deveria estar no sub-20.
Verdade. Foi muito rápido, aconteceu muita coisa. Virou o ano e estou sendo titular do Inter no profissional. A vida é rápida.
Que diferenças percebeu entre o futebol de base o profissional?
O jogo profissional é mais rápido, tem mais força. Quando pega a bola, tem dois, três, quatro caras em cima de você. Tem que pensar rápido, ser mais dinâmico, ter mais velocidade. Precisa se adaptar. É um jogo em que se demorar um segundo a mais, leva porrada ou perde a bola.
Você falou no Fábio Matias e dias atrás conversamos com ele sobre sua adaptação ao time profissional. Ele comentou que via mais solto e que o próximo passo seria evoluir o aspecto ofensivo, como chutar de média distância. É por aí?
Antes, quero agradecer o Fábio, ele foi muito importante, ajudou na sub-20, orientou o que fazer para subir. Então, tenho essa chegada na área, essa finalização, mas são coisas que vamos adaptando, ganhando espaço, se soltando. Aos poucos vai mais. O Abel me dá confiança, moral, os companheiros também. As coisas vão acontecendo naturalmente.
Tem alguma diferença no seu jogo com Abel e Eduardo Coudet?
A questão é mais prática mesmo. O Coudet tinha um pensamento, o Abel tem outro. São dois ótimos treinadores. O Coudet também me abriu espaço, agradeço a ele, e muito do que faço em campo foi com ajuda dele.
Outro treinador que elogiou bastante foi André Jardine, que lhe convocou para a seleção sub-20. A pandemia tirou o Sul-Americano e o Mundial da categoria, mas a Olimpíada está confirmada. É seu desejo estar em Tóquio?
O Jardine dispensa palavras, é um excelente treinador. Sobre Olimpíada, pô, tenho 18 anos, estou no Inter. Claro que se for convocado vou querer ir, mas antes de tudo tenho que fazer meu trabalho no clube. Se eu fizer o trabalho bem feito aqui, vou ter oportunidade na seleção. Mas também tem que fazer bem aqui.
Qual Copa do Mundo vai ser a primeira do Praxedes?
É... então, é difícil falar. Quero jogar a próxima que tiver. Mas sei que tem que trabalhar muito, a competição é com os melhores jogadores.
Vale o mesmo para Europa?
Com certeza tenho desejo de jogar na Europa, mas antes tenho desejo de deixar minha história aqui no Inter. O momento é esse.
Algum time da Europa em especial?
Sempre admirei muito o Ronaldinho, no Barcelona, o Zidane no Real Madrid. O Liverpool vem ganhando tudo. É difícil, tem muito time bom.
Ronaldinho e Zidane são seus ídolos?
Ah, sem dúvida. São jogadores que admiro muito.
Você falou em fazer história no Inter. Na base, já conseguiu entrar para essa história, sendo campeão de uma Copa São Paulo e em cima do Grêmio...
Da base foi o melhor sonho. Sonho, não. Realidade, né?
Sim, mas no profissional são 11 jogos sem vencer o rival. Daqui a uma semana tem Gre-Nal. Como estão pensando nisso?
É jogo a jogo. Primeiro tem o Fortaleza neste domingo. Sabemos que vamos pegar o Grêmio ali na frente, que vai ser um jogo difícil, contra uma grande equipe. Mas antes tem o Fortaleza e depois tem o São Paulo ainda. Só então vem o Grêmio.
Alguns dias atrás, entrevistamos o Yuri Alberto, que já casou, tem filha. Você também já casou, tem filhos?
Graças a Deus, ainda não! (risos) Moro com meus pais e meu irmão.