O Inter voltou de Santiago, no Chile, com três pontos conquistados diante do Palestino, na sua estreia na Libertadores, em partida morna tecnicamente, na qual mostrou coisas boas — e outras nem tanto — na parte tática.
Vencer sempre é bom, principalmente em jogos fora de casa. Dá confiança ao grupo, afirma certezas e ajuda a eliminar dúvidas. Com os próximos três jogos no Beira-Rio, Odair Hellmann, agora, terá uma boa perspectiva de trabalho. No intuito de evoluir a cada partida, vamos destacar um fator que deu certo e outro que não funcionou taticamente.
Como o próprio técnico disse em coletiva depois da vitória, a estratégia do Inter era defender-se com suas linhas mais baixas e chamar o adversário para o seu campo, a fim de encontrar espaços no ataque para as corridas de Pottker e Nico López.
Com base nesta estratégia, vem a análise do Esquemão: será que o time realizou as ideias do treinador e as executou com qualidade? Não há "certo" ou "errado" na hora de pensar o jogo. Todas as formas regulamentares de jogar futebol são válidas. Então, dentro dessa ideia reativa, o que deu certo e o que não funcionou adequadamente para o Inter?
CERTO: COMPACTAÇÃO DEFENSIVA
Fala-se que uma equipe joga de forma "reativa" quando ela permite que o adversário controle a bola e "reage" às ações do rival. O modelo de jogo do Inter não é, necessariamente, reativo. Ele varia de acordo ao adversário. Contra o Palestino, ficou bem estabelecido que a ideia era compactar atrás e permitir que seus extremos contra-atacassem para pegar o adversário desorganizado. Isso funcionou.
Na média, o Inter encaixa 13 contra-ataques por jogo. Na estreia da Liberadores, foram 20 — a maior marca do Colorado no ano. Mesmo encaixando mais contra-ataques que sua média, apenas um resultou em finalização (5%). Em 2019, contra o Veranópolis, pelo Gauchão, foi o melhor aproveitamento nesse quesito: 30% dos contra-ataques resultaram em finalizações.
Na arte abaixo, vemos como o Inter se defendeu em seu campo. Foram 15 tentativas de desarmes, sendo apenas três no campo do Palestino. A maioria (80%), ocorreu no campo defensivo. O único contra-ataque que terminou em finalização foi no final da partida, com a participação de D'Alessandro, que deu um pique de mais de 40m para chutar para fora.
ERRADO: PASSES LONGOS
Há uma cultura no Inter, desde 2016, de iniciar as jogadas com uma bola longa. Paulão era um jogador que insistia nisso, e essa característica ficou no modelo de jogo, mesmo com a mudança de elenco e de treinadores. Não importa quem jogue, o Inter não gosta de tocar curto.
Até aí, tudo bem. O Palmeiras campeão com Cuca e com Felipão também jogava assim. Saída com bola longa, um centroavante dando uma casquinha na frente, e os meias e extremos aproveitando para infiltrar e finalizar. Mas a diferença desses Palmeiras para o Inter é a qualidade dessa bola longa.
Por si só, o "chutão" é sempre uma loteria. A probabilidade de a bola voltar ao adversário é muito grande. Contra o Palestino, 27% dos passes do Inter foram longos. Ou seja, mais de um quarto dos passes foram "balões". E ninguém usou mais esse recurso que o goleiro Marcelo Lomba: foram 13, sendo que apenas quatro funcionaram (31% de aproveitamento).
Outros jogadores que abusaram desse recurso foram Dourado, Cuesta e Zeca. Se o volante foi quem teve melhor aproveitamento (50%), o zagueiro argentino teve apenas 25% de acerto, sendo que nenhum desses foi no ataque. Já o lateral teve 45% de aproveitamento, e de duas bolas em direção à área do Palestino, acertou uma e errou outra (50%).
Para um time que tem jogadores que precisam de espaço para correr, realmente o melhor é o Inter jogar de forma reativa e chamar o adversário para o seu campo. Isso o Colorado vem fazendo bem. O que falta é um pouco mais de intensidade defensiva na pressão ao portador, "morder" mais quando o adversário tem a bola. E tentar recuperar essa bola mais perto do gol do adversário, como fez em 2018.
Contudo, ao mesmo tempo, é fundamental ter jogadores que tenham a qualidade da bola longa. E, hoje, talvez apenas D'Alessandro domine esse fundamento com qualidade. Para um time que precisa de espaços, pede-se dribladores. O Inter tem Nico e Neilton. Acredito que, tendo um bom passador longo junto ao tripé de volantes e mais esses dois dribladores na frente, o Inter encaixe melhor seu modelo de jogo. Apenas uma ideia.