O Inter precisava descansar. Uma das constatações da comissão técnica é de que o time diminuía o ritmo no segundo tempo. Por isso, tinha dificuldades para segurar resultados ou repetir desempenhos empolgantes. Um exemplo foi no último jogo de Antônio Carlos Zago no Beira-Rio, contra o ABC. Depois de criar quase 10 oportunidades nos primeiros 45 minutos – e só fazer um gol –, não teve pernas para manter a supremacia e permitiu o empate nos momentos finais.
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Por isso, a reunião de quatro dias no Hotel Vila Ventura teve alimentação e sono regulados. A nutricionista Fernanda Sanfelice também ficou hospedada em Viamão e tratou de cuidar do cardápio dos jogadores. Era o momento de regular refeições, repor nutrientes e garantir energias. O horário era comandado pelo homem da segurança, Osmair Pereira da Silva, um dos mais antigos funcionários do Inter. Seu Osmair, como ficou conhecido, era o guardião do relógio. Ai de alguém que não estivesse no quarto às 22h30min, quando ele cruzava pelos corredores para confirmar que todos estavam de luz apagada.
O almoço e a janta tinham um ritual: só poderiam comer quando todos estivessem presentes no refeitório. Se alguém chegasse atrasado, era vaiado. A fome cobra seu preço. Para sair da mesa, a mesma coisa: só depois da última garfada do último faminto havia a liberação.
É que as refeições faziam parte também de outro processo, o de conhecimento. Sasha foi quem revelou isso:
– Durante os lanches, o almoço e a janta, o Guto (Ferreira, técnico) conversa bastante com a gente. Temos uma harmonia boa, ele vem na mesa, brinca com todo mundo. Isso, com certeza, vai ter um ganho lá na frente
O Inter precisava treinar. Jogar terças e sábados tirou qualquer possibilidade de criar alternativas táticas, aprimorar técnicas e ensaiar jogadas. O time treinava no Power Point, como definiu o vice de futebol Roberto Melo.
Por isso, os quatro dias se transformaram em cinco trabalhos nos campos de Copa do Mundo do resort de Viamão. A primeira questão a ser resolvida era corrigir erros. Guto Ferreira e comissão técnica esmiuçaram as falhas da equipe nos jogos anteriores e trataram de arrumar. Tudo foi explicado aos jogadores.
Depois, outro foco foi encontrar soluções ofensivas, principalmente para as partidas em casa. Em duelos contra adversários retrancados, que apostam em uma estocada esporádica para conseguir o resultado, a bola parada pode ser decisiva. Assim, houve repetições à exaustão de treinos de faltas e escanteios. Tanto na questão da movimentação quanto nas cobranças diretas. O tempo, pela primeira vez disponível, ajudou a encontrar espaço para este tipo de aprimoramento.
Para os goleiros, houve um "acréscimo". Alisson Becker se juntou no confinamento. De férias da Roma, o ex-camisa 1 do Inter e titular da Seleção de Tite aproveitou a semana para colocar os treinos em dia. Junto a Danilo Fernandes, Marcelo Lomba e Daniel, aprimorou trabalho de força e explosão, além da parte física na academia, sob o comando do preparador de goleiros, Daniel Pavan.
Enquanto isso, Guto Ferreira e os auxiliares André Luís, Odair Hellmann, Maurício Dulac, Alexandre Faganello orientavam defesa, meio e ataque. Marcação, recuperação e triangulação. Cabeceio, assistência e finalização.
Uma das vantagens da concentração no meio da temporada, no fim das contas, é justamente essa. Diferentemente dos dias normais, em que os atletas se apresentam, fazem tratamento, sobem para o gramado, treinam, tomam banho e vão embora, o período de confinamento deixa o jogador pensando exclusivamente em se aprimorar. Os compromissos em casa, os eventos sociais, as compras ficam em segundo plano.
O Inter precisava se integrar. Da pré-temporada em janeiro, no mesmo Vila Ventura, ao período sem jogos, a página de figurinhas do Inter mudou consideravelmente. Cláudio Winck, Edenilson, Cuesta, Danilo Silva, Carlinhos, Mossoró, Juan, Carlos, Sasha, Joanderson, Cirino e Pottker não estavam, por diferentes razões, naquele primeiro período de confinamento. Nem Guto, André e Faganello. Nem o preparador físico Valdir Nogueira Júnior, o Juninho.
O próprio Guto Ferreira havia dito que o período em Viamão serviria para aumentar a convivência. E, de fato, isso não faltou. Os horários sem treino e sem descanso foram aproveitados.
Sem muitos sorrisos durante os treinos e até mesmo à beira do campo nos jogos, Guto Ferreira mostrou um lado divertido até mesmo para os repórteres. Ao avisar que começaria a parte fechada do treino, disse que o trabalho seria tão secreto que nem adiantava colocar câmeras escondidas:
– Os snipers (atiradores de elite) vão derrubar os drones.
Ping-pong, o tênis de mesa de amadores, movimentou comissão técnica na área de convivência. Apostas em fazer gol nas travezinhas menores chutando a mais de 35, 40 metros agitavam os jogadores. Claro, tinha a turma do videogame. Febre entre a gurizada, as partidas de Fifa 17 garantiram as risadas da turma da base. Os quatro recém-promovidos Mossoró, Iago, Joanderson e Juan dominaram os confrontos.
Mas, curiosamente, foi outro "esporte" o que mais intrigou. Lembram do Uno, aquele jogo de cartas excelente para as tardes de chuva no litoral, que dá a vitória a quem descartar todas as suas cartas primeiro? Não lembram? Ok, explicamos: trata-se de um jogo de cartas de 1 até 9 com quatro cores de cada: vermelho, azul, verde e amarelo. Quem descartar todas as cartas primeiro, ganha. Mas até chegar ao fim, você pode fazer com que o adversário ao seu lado compre, troque ou distribua cartas.
As partidas eram animadas, e na quarta-feira à noite, chamaram a atenção até de quem não entendia nada do que rolava naquela mesa. Depois de um churrasco oferecido aos atletas, comissão técnica e direção, D'Alessandro, Danilo Fernandes, Klaus, Sasha, Marcelo Lomba, Edenilson, Uendel e Rodrigo Dourado travaram um dos duelos mais animados da concentração. A cada carta com o símbolo +4 (que obriga o adversário a pegar quatro cartas – e consequentemente dificulta sua vitória), gritaria e gargalhadas dominavam o ambiente.
Nico López, que já tinha viralizado um vídeo pedalando uma bicicletinha de café em hotel em São Paulo, antes do jogo contra o Corinthians, se juntou a Edenilson e D'Alessandro entre os mais animados e agitadores da concentração. Mas nada disso, desta vez, foi divulgado nas redes sociais. Mesmo a galera do Instagram dessa vez conteve as publicações.
Em Viamão, o Inter se fechou. E agora, descansado, treinado e integrado, tenta definitivamente embalar rumo ao retorno à Série A.
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