O recomeço do Inter passará pelos pratas da casa. O presidente Marcelo Medeiros e o vice de futebol Roberto Melo têm as categorias inferiores como origem no Beira-Rio. Ambos passaram pela direção da base antes de assumirem o vestiário profissional. E por isso, também, apostaram em Antônio Carlos Zago como treinador. No Juventude, o técnico paulista construiu uma ponte larga e fortificada para revelar jogadores do clube. No Alfredo Jaconi, metade do elenco de Zago era formado por jogadores do clube. E o Inter pretende se reconstruir justamente pela base. Nos últimos anos, no Beira-Rio, o Inter fez valer o seu hino, revelando nomes como Nilmar, Rafael Sobis, Alexandre Pato, Luiz Adriano, Juan, Walter, Sandro, Taison, Leandro Damião, Oscar, Alisson, entre outros. Jogadores que, negociados, também fizeram construções e reconstruções de equipes coloradas.
Agora, quatro caras novas compõem o Inter de Antônio Carlos. São eles, o volante Charles, o atacante Diego, o zagueiro Léo Ortiz e o lateral-esquerdo Iago. Dessa turma de 2017, Charles parece despontar como o primeiro a receber chances no time de cima. Diego, que chegou a atuar com Celso Roth no ano passado, vem logo em seguida. Ortiz e Iago, ainda com contratos de curto prazo com o Inter, parecem ficar um pouco atrás na largada da temporada. Zero Hora apresenta um pouco da história do quarteto e de como cada um dos novos pratas da casa chegou ao Beira-Rio.
Leia mais:
Inter vence o Ceará e se classifica às oitavas da Copa São Paulo
Virose e pancada no tornozelo tiram Nico López e Valdívia das atividades do Inter
Confira:
Diego Gonçalves
A maturidade que fez com o Inter se interessasse pelo entroncado atacante de 1m82cm de altura e boa imposição física, no comando de ataque da Portuguesa, em agosto do ano passado, foi a mesma que credenciou Diego a subir ao time profissional em definitivo – mesmo na fogueira de 2016.
Diego cresceu na dor da Série C com a Portuguesa. Aos 22 anos, teve o batismo de fogo comandado por Celso Roth. O atacante foi convocado para entrar aos 15 minutos do segundo tempo, na derrota do Inter para o Palmeiras, no Allianz Parque. Era preciso reverter o placar de 1 a 0 para que o time não voltasse à zona de rebaixamento – o que não aconteceu. Ainda assim, o atacante de movimentação foi um dos poucos a se impor e a chutar a gol.
– Ele é assim, tem um bom nível de força e definição, sem contar o grau de maturidade. Joga pelos lados e é muito inteligente. Sob o comando de Zago, vai crescer ainda mais – acredita Ricardo Colbachini, treinador que trabalhou com o atacante, logo na sua chegada a Porto Alegre para a equipe sub-23.
Se hoje comemora o fato de a "figurinha" do filho estar entre o grupo principal no site oficial do Inter, a mãe de Diego, Maria Vilma Santos Gonçalves, 48 anos, lembra que nem sempre foi fácil conduzir o atacante ao sonho de ser jogador. Vocação, segundo ela, trazida desde a barriga:
– Estava grávida na conquista do Tetra pelo Brasil. A cada jogo, achava que ele nasceria, de tanto que chutava. Cresceu em meio a bolas de futebol pela casa. Eu não podia andar com prato na mão em casa, porque sabia que certamente ele quebraria sem querer com a bola – recorda a dona de casa. – Chegamos a pensar em tirá-lo do futebol com 13 anos, por conta das notas, mas ele se recuperou. Passou pelo futsal, pelo society e pelo campo. Hoje, graças a Deus, está no radiante no Inter. Nos disse que dará o máximo nesse ano – finaliza a mãe do atacante, desde a praia do Guarujá, onde Diego nasceu.
Em tempos de desistências de contratos no Beira-Rio, Diego tem vínculo com o Inter até 23 de outubro de 2019. E multa rescisória para o Exterior também de praxe e astronômica: 60 milhões de euros.
Charles Rigon
Xará de Aránguiz, Charles tem a altura Rodrigo Dourado, o pulmão de Guiñazu e o coloradismo de um associado. O volante, que chamou a atenção de Paulo Roberto Falcão e foi guindado pela primeira vez aos profissionais justamente pelo eterno camisa 5, agora pertence ao time de Antônio Carlos Zago. O volante de 20 anos e de 1m87cm, também joga como lateral-direito. Aliás, foi nessa função que ele recebeu o convite para trocar o Santo Ângelo pelo Inter.
– Fomos a um jogo do Santo Ângelo, pela Segunda Divisão estadual, a fim de assistir a um volante, que havia sido bem recomendado. Mas, no jogo, quem apareceu mesmo foi o guri da lateral-direita – conta Jorge Andrade. – Trouxemos o Charles, ele começou a treinar na lateral, mas disse que era volante de origem e que havia jogado improvisado. Passou a jogar de volante e não saiu mais. Ele corre muito, é bom marcador, rouba muitas bolas e tem grande qualidade por cima. Além disso, é torcedor colorado, a família toda é de colorados, lá de Santiago. É um cara de muita entrega – acrescenta o dirigente da base.
Em uma certa tarde de agosto de 2016, Falcão tentava contornar a crise técnica do Inter no Brasileirão. Observou Charles em um treino e decidiu que a maturidade daquele volante poderia ser a primeira de muitas mudanças que estariam por vir. Charles seria titular no Inter 2x2 Fluminense, o último jogo de Falcão como treinador do Inter. Uma lesão, porém, tirou Charles do jogo.
– Soube dele e pedi para dar uma olhada. Gostei. Colocaria ele no jogo contra o Fluminense, achava que era a hora. Começaria a colocar a minha cara no time. Viemos então de Belo Horizonte (derrota para o Cruzeiro, por 4 a 2), e soube que havia sido detectado um problema na perna dele, uma lesão muscular. Mas ele seria titular – entrega Falcão.
Tem contrato até 24 de abril de 2019 e multa rescisória proibitiva até para os ricos: na casa dos 60 milhões de euros.
Iago Borduchi
Iago joga posição mais ingrata do Beira-Rio: a lateral-esquerda. Nascido em Monte Azul Paulista, ele chegou ao Beira-Rio quatro anos atrás, ainda bem jovem, aos 15 anos, e com a experiência de ter disputado uma Copa São Paulo de Juniores. Foi observado no time do Monte Azul – o clube que é dono dos direitos econômicos do meia Douglas, do Grêmio – e desejado pelo Inter.
– Iago se destacou na equipe do Monte Azul. Tinha apenas 15 anos, mas já demonstrava um futebol maduro para a idade. O contratamos por empréstimo e, depois, acabamos adquirindo os seus direitos – afirma Jorge Andrade. – É um jogador com uma qualidade técnica muito boa, que chega bem à área e que tem um grande equilíbrio entre apoiar e marcar – atesta Andrade.
Iago é considerado um jogador bem mais promissor do que foram Geferson (emprestado ao Vitória) e Artur.
– Ele tem um potencial muito grande, com grande qualidade no apoio. Vai amadurecer muito com o trabalho sob o comando de Antônio Carlos Zago. Precisa ainda completar a formação, mas tem qualidade no cruzamento e bons fundamentos – exalta o técnico Ricardo Colbachini.
É possível que o torcedor colorado demore um pouco para comprovar todas essas qualidades do lateral. Além da aposta da direção no experiente Uendel, contratado ao Corinthians e elogiado pelo técnico da Seleção Brasileira, Tite, Artur ficou no elenco principal e tem mais rodagem do que Iago. Mas, talvez o que atrase o "surgimento" de Iago, 19 anos, seja a falta de um contrato longo, que tira a segurança do Inter em escalá-lo: o seu vínculo ainda é de amador e vai somente até o mês de agosto. Um período curto, caso o lateral brilhe.
Léo Ortiz
O clã Ortiz está de volta ao futebol profissional. Se nos anos 1980, Ortiz pai (nascido Luís Fernando Roese Ortiz) chegou a trocar as quadras de futsal pelos gramados, atuando pelo Grêmio de Rubens Minelli, de Valdir Espinosa e de Juan Mujica, agora, o seu filho, Leonardo, ou Léo Ortiz, é uma das caras novas que trocaram o CT de Alvorada pelo Parque Gigante. O zagueiro de 21 anos e de 1m85cm de altura será uma das opções de Antônio Carlos Zago para o longo 2017 colorado.
– Léo começou a jogar bola no futsal. Atuava como fixo, lá atrás, e aprendeu a ter noção de espaço, a tomar decisões rápidas e a sair jogando – conta Ortiz pai.
Por ironia, Léo joga no time das vítimas de Ortiz: os zagueiros. Ortiz foi um dos maiores goleadores da seleção brasileira de futsal (campeã do mundo em 1992), além de ter sido bicampeão mundial de clubes. Em 1997, foi ele, ao lado de Manoel Tobias, quem comandou o timaço do Inter na conquista do Mundial contra o Barcelona, no Gigantinho.
– Quando ele era guri, brincávamos nos corredores de casa. Eu tentava fazer o gol, ele me marcava. Léo tem um senso de antecipação muito bom, e o futsal o ajudou a aprimorar ainda mais essa qualidade – diz Ortiz, a respeito do ex-capitão do time sub-20.
Com o pai trabalhando como coordenador técnico das categorias de base do Inter, Léo sempre se mostrou relutante em trocar as quadras pelos gramados do Beira-Rio. Participava das peladas com as comissões técnicas da base. Com 13 anos, sempre era chamado para compor time. Convites não faltaram para que ele calçasse as chuteiras no clube, até que um dia, aos 16 anos, Léo, enfim, decidiu pendurar os tênis.
– Léo teve de passar por adaptações: atuou como meia, como lateral e como volante. Até os 17 anos ele era o volante dos juvenis. Mas como tinha muita qualidade para sair jogando, foi puxado para trás, para a zaga. E se encontrou. Léo tem uma definição de jogada, um bom bote e cabeceio. Além disso, ganhou corpo – afirma Jorge Andrade, gerente-executivo das categorias de base do Inter.
Ortiz, porém, tem uma fragilidade: um contrato de formação, que vai somente até o final do ano.
* ZHESPORTES