Argel aproveitou a vitória do Inter por 1 a 0 no Gre-Nal 408 para falar. E falou muito: em uma longa entrevista coletiva, o técnico colorado fez questão de dizer que foi o trabalho feito após a derrota para a Chapecoense, muito mais do que a motivação, que ajudou a equipe a vencer o Grêmio no clássico do Beira-Rio. O comandante vermelho também destacou que não se abala com as cobranças feitas após os maus resultados fora de casa.
– Nossa equipe deixou para o Gre-Nal para fazer a melhor exibição sob o meu comando. Já tínhamos feito boas partidas contra o Corinthians, campeão Brasileiro, e o Vasco. Mas hoje foi um jogo importante e decisivo, e nós com muitos desfalques. Isso mostra a força do grupo – disse o treinador.
Questionado se considerava o trabalho especial de motivação feito para o jogo – com a presença de familiares dos atletas colorados na preleção – importante para a vitória, Argel respondeu que foi nos treinos que buscou a vitória.
– Futebol não é só motivação, e mostramos isso. Só falam em motivação, e assim você não ganha. É dedicação. Não vejo ninguem falar das ausências... falam de todos os times, mas aqui não. Todos os dias eu trablho. Os jogadores entenderam. Aqui tem dedicação, tem comando – explicou.
Confira a íntegra da coletiva do técnico:
Nossa equipe deixou pro Gre-Nal para fazer a melhor exibição sob o meu comando. Já tínhamos feito uma boa partida contra o campeão brasileiro, CAP, Vasco, maior goleada. Mas hoje, um jogo importante e decisivo para nós – neste momento que todos são decisivos – e você vem sem Valdívia, Sasha, Réver, desfalques, isso mostra a força do grupo. Futebol não é só motivação, e hoje mostramos isso. Tivemos envolvimento, qualidade, jogamos melhor que o adversário. Conseguimos aliar a juventude e a experiência. Fomos quem mais finalizou, posse de bola parelha, mais passes. Nossa equipe soube envolver, pressionar. Em um momento tinha posse mais alta, em outra deixou o time sair. O que deixa mais satisfeito é que fizemos uma grande partida: ganhamos do nosso rival e convencemos. Acho que o placar poderia ter sido um pouco mais elástico. Conseguimos fazer uma grande exibição, e além do resultado tivemos uma grande atuação individual e coletiva.
O Anderson pediu para sair. Ele estava no limite do limite. Uma coisa que tem ser levada em conta é você jogar quinta-feira em Chapecó, que era pra começar 19h30min e começou 20h30min, com campo pesado. Os jogadores correram muito e tiveram muita atitude. Tivemos problemas quando o Juan foi expulso e isso nos prejudicou bastante. Claro que isso leva uma carga de desgaste. O Anderson jogou os 90 minutos lá e pesou a perna. Foi uma decisão dele de me comunicar que ele estava exausto fisicamente, senão não teria por que tirar. Ele fazia uma partida belíssima, armando, roubando, marcando. Fez tudo que a gente pede para ele fazer. Saiu por questões físicas.
O Anderson é titular do Inter. Desde o dia que a gente assumiu só tem desafio. Problema em cima de problema. Se você analisar estes nove jogadores, eram titulares na Libertadores. E mesmo assim o grupo dá uma prova de competência. O Anderson foi buscando sua posição a cada jogo. Hoje ele fez uma partida muito boa, como fez em Chapecó e contra o Palmeiras. Hoje ele é titular, e acho que ano que vem vai estar melhor. Ele podia ter feito um gol no primeiro tempo e outro no segundo, mas vem bem principalmente na entrega dele. Era um desafio recuperar o Anderson, e ele pode crescer muito mais se fizer uma pré-temporada bem feita.
O que eu acho mais engraçado é que só falam em motivação, que correram por mim, e só assim você não ganha. Minha responsabilidade, desde que cheguei... no segundo turno só estamos atrás do campeão, desde o dia em que pisei aqui. Esta é minha responsabilidade, com os mesmos jogadores. Cinco pontos a frente do maior rival, 31 pontos contra 40 do Corinthians. Não é só motivação, carinho, é dedicação. Não vejo ninguém falar das ausências, falam de todos os times, mas aqui não. Todos os dias eu trabalho. Os jogadores entenderam. Tem dedicação, tem comando. Por mais que as pessoas pensem que você cobra mais forte no treino, você tem de cobrar. Eu tenho uma forma de cobrar. Cheguei no Inter pelo meu trabalho. Não é só motivação. Tive que trabalhar no São José e ganhar do Inter, no Figueirense e ganhar. Você tem de ganhar na parte técnica e na parte física. Tem uma diferença grande jogar em casa na quinta e jogar em Chapecó. Me perguntaram na sexta se o Inter estava com um misto de cansaço e desmotivação. Eu estaria preocupado se a gente chegasse rindo após a viagem. A gente sabia que precisava buscar uma recuperação no campeonato. Não fizemos mais que a nossa obrigação. Quando pensam que a gente vai cair, a gente levanta. Concordo que a gente não está jogando um futebol vistoso, mas se estivessemos bem, seríamos líderes do segundo turno. É muito sangue, suor e lágrimas para chegar aqui.
Quando a gente perde um jogo, não faz tempestade em copo d'água. E não faz fogos quando vence. Se alguém tirou o Inter da briga, não fomos nós. O futebol não é como começa, mas como termina. Ainda não bateu o sino. Ano passado o Inter foi à Libertadores no último minuto do último jogo. A gente sempre procura manter a tranquilidade. Detesto esta palavra "pilhado", é quem não tem equilíbrio. Meu time teve equilíbrio. Caiu uma fatura muito grande no meu colo, por tudo que aconteceu no primeiro clássico. Não era minha, mas eu tinha obrigação de pagar, e foi paga. Estávamos com a faca entre os dentes. Li tanta coisa na imprensa, tantas colunas, positivas e tanta bobagem negativa. Eu vi uma coluna antes do Gre-Nal, do David Coimbra, que sintetizava bem o que aconteceu. Ele teve o discernimento e imparcialidade de escrever.
Um clássico, da grandeza e da dificuldade, e o nosso rival vem muito bem, terceiro colocado. A gente alternava a marcação alta, as vezes em segunda linha. O mais importante que eu vejo na parte tática foi trazer o Lisandro pra ficar em cima do Walace e o D'Alessandro em cima do Ramiro. Isso deixou o Vitinho como um atacante. Aí, sim, a gente não deixava os dois volantes jogarem. Foi uma coisa estratégica. Hoje em dia os volantes precisam jogar. Quando não tinha, eles precisaram rifar a bola, e foi o que aconteceu. A gente trabalhou, estudou, o adversário conhece a gente e a gente conhece eles. A parte tática que o Lisandro fez passa às vezes despercebida dos outros. Claro que, no final da partida, pelo desgaste, o adversário veio para cima, a gente mudou novamente. D'Alessandro correu muito, foi no limite da sua capacidade.
Eu volto a dizer para vocês. Tenho a humildade de reconhecer que em alguns momentos a gente não consegue jogar bem. Mas o adversário também tem qualidade. Não é só o Inter que jogou mal. A gente tem que ter clareza para pensar nestas coisas. Não dá para pensar ainda no Fluminense. Acabamos de sair de um clássico. Temos que sair de cabeça erguida em Porto Alegre, curtir. Os jogadores têm tido um comportamento profissional. E não foi só neste jogo: contra o Corinthians também. Quando a gente falou que está vivo, estamos juntos com o São Paulo. Mais vivos do que nunca. Ainda tem duas partidas. Neste momento, a gente tem que recuperar todo mundo. Passamos pela cobrança, subestimaram nosso trabalho, dos jogadores, e hoje eles deram uma mostra do seu trabalho. Nem eles sabem se vão ficar, nem eu sei se vou ficar. Você pode ter contrato, mas isso não importa. Todo dia contratam alguém, e isso não me importa. Temos uma diretoria competente, um vice competente, e eles que vão avaliar. Não é matar o peru na véspera. Com calma, tranquilidade, fazendo nosso trabalho. Disse quando cheguei: o alvo seria eu. Estão batendo em mim. Mas quanto mais batem, mais forte eu fico.
Se os jogos são perigosos? Totalmente. Ninguém joga para não valer nada. O Corinthians hoje era campeão brasileiro. Não concentrou, tinha jogadores de férias, e venceu por 6 a 1. Temos um respeito muito grande. O Fluminense é time grande. É um jogo que vale três pontos, como valia na primeira rodada. Temos que trabalhar, buscar, e o mais importante é que o time está vivo. Isso me deixa satisfeito, feliz, me dá convicção de que o trabalho está sendo bem feito. O trabalho é duro, todo mundo, e a gente tem uma força muito grande no vestiário. A gente acredita que está vivo e pode voltar à Libertadores. Quando a gente trabalha por este sonho, pode sonhar.
Primeiro que não posso falar que comigo teria sido diferente. Sou responsável do Cruzeiro para a frente. Eles sentiram na pele. Eu fui jogador, a gente sabe que a cobrança é muito grande, tamanha a grandeza do Inter. A partir daquele momento, deixei bem claro aos jogadores que em momento algum a gente pensou em devolver o 5 a 0. Qualquer vitória vale o mesmo. Os três pontos eram o importante. Se a gente não fizer o nosso resultado, não adiantava os outros. Mas a gente entende os jogadores, e é mais do que justa a comemoração. Alguns deles poderiam estar pensando no Racing, no Peñarol, não sei aonde. Eles estão comprometidos com o clube, com a diretoria, jogando com a faca na dente. Claro que as vezes você perde, ganha, empata, mas se cobra tanto profissionalismo e a gente não falou com ninguém. A gente não contratou ninguém. A obrigação era colocar o Inter na Libertadores. As pessoas esquecem, mas quando a gente chegou o Inter estava há quatro pontos do Z-4, e falavam que a gente ia brigar para não cair. A responsabilidade caiu pra mim, e eu peguei. Se a gente tem condições, a gente tem que sonhar. E sempre o próximo jogo é o mais importante.
A gente não está encerrando o ano até chegar o último jogo do campeonato. Você pegar uma equipe andando, depois do Gre-Nal, depois do que houve, sem tempo para trabalhar. E você buscar uma condição, os jogadores assimilarem o nosso trabalho... Não sei trabalhar de outra forma do que no dia a dia. Sempre trabalhei e ganhei mais do que perdi. Treinador nenhum do futebol mundial consegue dar padrão de jogo emt rês meses. Você vai oscilar, faz parte, porque você tem de conviver com lesão. Você tem um jogador importantíssimo e, por um azar danado, ele vai para a seleção e volta com uma lesão no joelho. Mesmo assim, a gente consegue buscar dentro do grupo a solução. E isso sempre passa pelo treinador. Eu vivo o futebol 24 horas por dia. A gente procura dentro do grupo, conversa, dialoga. A comissão técnica tem liberdade pra falar, os jogadores também têm, da parte tática e técnica. O sucesso de um é o de todos. E não entendo a ansiedade de saber se vou ficar ou não. Você pode ter contrato: o que mantém treinador no Brasil é resultado. Nem Mourinho nem Guardiola nem Sampaoli. O que mantém é resultado. Contrato serve pra ser cumprido e ser rescindido. Não importante se é gordo, magro, se veste a roupa do clube. A gente vive de resultados. E consigo viver isso muito bem. Foi a profissão que eu escolhi, e me preparei para isso.
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