Ex-jogadora do Grêmio, Jéssica Silveira, de 26 anos, teve que largar o futebol em 2017, quando sofreu uma ruptura de ligamento no joelho direito e não realizou a cirurgia necessária para o caso. Alegando que o clube não prestou a assistência médica devida, ela fez um desabafo em suas redes sociais na segunda-feira (28), contando que há dois anos convive com as dores provocadas pela lesão. Após a repercussão, o Grêmio afirmou que custeará o tratamento.
A lesão aconteceu em outubro de 2017, enquanto Jéssica treinava, e até hoje não foi tratada. O clube, que diagnosticou o problema, não custeou a recuperação dela, que hoje é vendedora.
O trauma de Jéssica — não só físico, mas também psicológico — começou a ganhar repercussão nas redes sociais. Em um longo texto, ela relatou que, "em busca do sonho, a maior das desilusões aconteceu" em outubro de 2017.
À reportagem, a ex-atleta, contou os detalhes da lesão. O Grêmio treinou no campo sintético do estádio Passo D'Areia, do São José, na Zona Norte de Porto Alegre. A então lateral-direita tentou recuperar um cruzamento, mas acabou torcendo o joelho. O diagnóstico, assinado pelo médico Ricardo da Rocha Gobbo em papel timbrado do departamento médico do Grêmio, apontou rompimento completo do ligamento cruzado anterior e indicou "necessidade de reconstrução cirúrgica".
— Fiz uma ressonância magnética, e a lesão foi diagnosticada. Fui orientada a realizar fisioterapia para manter a musculatura em dia enquanto a cirurgia era solicitada. Entre outubro e dezembro de 2017, foi o que fiz, mas em 2018 não recebi mais nenhum retorno quando procurava o departamento médico. Estava fragilizada e fiquei sem condições psicológicas de correr atrás (da cirurgia) — lamentou Jéssica.
Na época da lesão, o Grêmio ainda estruturava o departamento de futebol feminino. Jéssica participou da peneira que deu origem ao grupo vice-campeão do Gauchão daquele ano, vencido pelo Inter. Na época da lesão, a sede da modalidade, que hoje é em Gravataí, no Vieirão, ficava no Bairro Cristal, na Zona Sul da Capital, e a atleta recebia R$ 220 para ajudar nos gastos com transporte até os treinos.
Sem o apoio do Grêmio, Jéssica procurou o SUS para realizar a cirurgia, mas ainda não tem previsão de quando sairá da fila de espera. Sem poder jogar, ela ficou desempregada e enfrentou dificuldades para encontrar emprego. Hoje, a ex-atleta tem dificuldades para realizar tarefas simples do dia a dia como vendedora.
— É muito difícil subir e descer escada, meu joelho sai do lugar. É uma dor horrível, mas já me acostumei a sofrer com ela porque não sei quando vai acabar. Trabalho pilotando moto para vender produtos e seguidamente meu joelho incha, inflama — contou.
Consultado pela reportagem, Iúra, diretor do departamento feminino gremista, admitiu que orientou a ex-atleta a procurar o SUS na oportunidade e afirmou que o Grêmio procurará Jéssica para oferecer ajuda após saber que ela ainda não se recuperou.
— Achei que a situação estava resolvida, pois a atleta não nos procurou mais. Mas, agora, em contato com o presidente Romildo, já fui autorizado a resolver. Na época, o responsável fui eu. Então agora vamos entrar em contato com ela para oferecer toda a assistência necessária — disse.
Evolução da lesão pode levar a uso de prótese
Na medicina, não há consenso sobre o tempo apropriado de intervalo entre o tipo de lesão de Jéssica e a cirurgia. Mas, segundo o especialista em traumatologia esportiva Fábio Krebs, no caso de atletas, os procedimentos não costumam demorar mais de um mês para serem realizados.
—É muito difícil de estabelecer prazos. Porém, normalmente os atletas de alto rendimento recebem tratamentos instantâneos que propiciam a realização da cirurgia em prazos curtos. O departamento médico de um time profissional se mobiliza em um primeiro momento para que o atleta comece a perder edema (inchaço), e ganhar mobilidade articular, por exemplo, para facilitar a condição da cirurgia. Em alguns casos, há edema no osso, o que retarda a operação. Mas dificilmente o tempo entre a lesão e a cirurgia foge do intervalo entre os primeiros dias e três semanas nestes casos — afirmou Krebs.
O médico ainda alerta que a não realização da cirurgia associada a movimentos cotidianos pode gerar danos à cartilagem do joelho e também desgaste nas articulações. Os problemas podem levar à necessidade de uma prótese no local.