O psicólogo Roger Machado entrou em campo na tarde de 28 de junho. Terminado o último treino antes da partida contra o Santos, o técnico convocou Everton para uma conversa reservada e, ainda dentro do gramado, exigiu que ele se assumisse definitivamente como titular.
"Aceita que dói menos", disse Roger, ao perceber que, para o cearense, seria mais cômodo transferir aos jogadores mais experientes a missão de decidir os jogos.
A partir daí, nem a sombra de cascudos, como Bolaños ou Bobô, desviou Everton da trajetória que o tem convertido em um dos jogadores mais importantes da campanha do Grêmio no Brasileirão.
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Se tem marcado poucos gols, é decisivo na criação deles, como nas partidas contra o Santos e no Gre-Nal. Descoberta de Jorge Veras, outro cearense que atou como atacante do Grêmio, Everton, 20 anos, consome o tempo vago com sessões de tatuagens.
Já são 18 espalhadas pelo corpo, cada uma ao custo médio de R$ 1 mil. Na sexta-feira, quando falava com, Zero Hora, lembrava que ainda precisava concluir uma na panturrilha direita.
Em qual jogo Roger fez a frase "aceita que dói menos"?
Na semana daquele jogo contra o Santos (vitória do Grêmio por 3 a 2, na Arena). Na véspera do jogo, ele me chamou para conversar e disse que eu tinha de assumir um protagonismo que era esperado. Me chamou no campo mesmo.
Qual sua reação quando ele o chamou para conversar?
Na hora, pensei: "O que ele quer falar comigo? Ou vem bronca ou alguma instrução (rindo)". De noite, fiquei pensando na conversa, procurei absorver as informações que ele me passou para aproveitar ao máximo.
Naquela partida, você criou as jogadas para os dois primeiros gols (Giuliano e Douglas). Acredita que tenha entrado em campo mais confiante após a confirmação do treinador?
Sem dúvida. Quando eu cheguei em casa, fiquei pensando na conversa que tive com ele. E procurei aceitar mesmo, ver o que tinha me passado e procurar fazer da melhor maneira possível.
E como havia sido atuação na partida anterior (derrota por 2 a 0 para o Atlético-PR, em Curitiba)?
Nossa equipe não rendeu o esperado. Minha atuação, individualmente, foi ruim. Me cobrei por falta de atitude. Faltou atitude de minha parte de partir para cima, de tentar algo diferente, algo que já estou acostumado a fazer.
Jogadores que sobem da base costumam ser muito cobrados. Isso não atrapalha a tentativa de obter um rendimento mais regular?
A expectativa criada em cima das promessas é muito grande. O torcedor quer nos ver o mais rápido das as respostas. E sabemos que não é assim. Jovem demora um tempo para se adaptar ao profissional. O futebol é totalmente diferente do que estávamos acostumados na base. Acho que a torcida tem que ter paciência.
No que você acha que melhorou de 2015 para cá?
Minha parte tática, sem dúvida, evoluiu bastante. Roger nos ensina a não ser marcadores de laterais e, sim, de setor. Ocupar os espaços do campo. Procurar os atalhos. Nisso agreguei bastante. Não podemos correr errado.
Há muita diferença entre atuar na base e no profissional?
É muito diferente. Nesta semana, estávamos lembrando que, na base, fui artilheiro com 33 gols. Sem dúvida, lá é muito mais fácil. Faltava experiência para os zagueiros. No profissional, já são mais malandros, já conhecem os atalhos.
É muito impactante para um jovem jogar diante de um estádio lotado?
Dá um frio na barriga. Principalmente no último Gre-Nal, quando nossa torcida estava muito no alto e sentimos que era preciso dar uma alegria a ela. Na base, a gente jogava em Eldorado para 20 pessoas. Na Arena, são milhares. E ficam muito perto. Dá até para ouvir o que eles falam quando a gente vai pegar uma bola que sai fora do campo.
Quando zagueiros mais velhos veem um garoto como você pela frente tentam desestabilizá-lo?
Tentam, sim. Principalmente na Libertadores. Chegavam mais forte nos jovens, pisavam no pé, davam soco. A gente procurava deixar de lado e só focava no jogo. São malandros, têm catimba.
Qual o zagueiro mais difícil que você já enfrentou?
Acho que o mais bandido foi o do San Lorenzo, o Caruzzo, se não me engano. Houve até um episódio com o Sheik, quando ele jogava no Boca (na decisão da Libertadores de 2012). Ele era bem chato mesmo, pisava no pé, falava coisas no ouvido.
E aqui no Brasil? Qual o pior marcador?
Aqui o futebol é bem diferente. Não há nenhum que tente intimidar.
A atuação no Gre-Nal serviu para que você acreditasse definitivamente em seu potencial?
Sem dúvida. Depois do Gre-Nal, minha confiança aumentou bastante. Perdi o medo de fazer as coisas dentro de campo porque um companheiro mais velho pode reclamar.
A torcida reconhece o jogador que se entrega em campo. Mas valoriza aquele que faz gol. Você não está sentindo falta de marcar?
Claro que eu sinto a falta de gol. O último foi contra o Coritiba (dia 29 de maio, vitória por 2 a 0 na Arena). Isso acaba prejudicando um pouco. A ansiedade, às vezes, toma conta e a gente erra um lance ou outro. Mas é preciso manter a tranquilidade para ser mais efetivo nas próximas vezes.
Você se considera um velocista?
Sou mais veloz no terço final do campo, no mano a mano. Na resistência de velocidade, ainda tenho de melhorar um pouco.
Jorge Veras, seu conterrâneo, fez história aqui no clube. Serve de inspiração para você?
Serve. Por ser um conterrâneo. Foi alguém que me orientou muito quando vim para cá. Falei com ele um dia desses por telefone. Prometi visitá-lo quando for a Fortaleza.
Vocês sentem a pressão por títulos?
Sentimos, sim. A torcida pede. Sabemos que o jejum é muito grande para um clube de expressão como o Grêmio.
E é possível prometer?
Prometer é difícil. O campeonato brasileiro é o mais equilibrado.
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