Nessa Torre de Babel que é a Copa do Mundo não interessa se você fala o neerlandês ouvido nas ruas de Bruxelas ou o inglês ensinado nas escolas de Toronto, ou ainda o francês que pode ser falado em Quebec e em cidades belgas, ou ainda um dialeto de um vilarejo remoto. Há regras no futebol que transpõem os diferentes vernáculos. Entre esses regulamentos universais, um diz que a bola pune. O Canadá foi punido em seu retorno ao torneio após 36 anos. Apesar do vigor e da superioridade, o time da América do Norte sucumbiu para a Bélgica, pela primeira rodada do Grupo F, nesta quarta-feira (23).
Os canadenses cometeram o pecado do desperdício no Estádio Ahmad Bin Ali. Apesar de criar chance atrás de chance, foram derrotados por 1 a 0 por um adversário mais experiente e que aproveitou aquilo que produziu. O Canadá volta a campo no próximo domingo (27), às 13h, contra a Croácia. Já a Bélgica, líder da chave, duela contra o Marrocos, no mesmo dia, mas mais cedo, às 10h.
Quando as duas equipes foram para os vestiários no intervalo, o representante europeu tinha conseguido apenas quatro arremates. O adversário havia disparado 14 vezes contra o gol de Courtois. O goleiro do Real Madrid foi peça-central para traduzir a língua oficial da partida.
Com sete minutos, a Bélgica estava na marca do pênalti, após a bola bater na mão de Carrasco. Estrela mor dos Canucks, Alphonso Davies partiu para a cobrança. Seu chute fraco, no canto inferior direito, encontrou os braços de jogador de vôlei do goleiro belga. No decorrer do jogo, Courtois faria, pelo menos, mais um par de defesas que garantiram a vantagem para os Diabos Vermelhos, que cometeram os seus pecados, mas evitaram o desperdício.
A qualidade técnica fez a diferença. Não importasse quantas chances caíssem nos pés do centroavante David, ele não conseguia convertê-las. Ora era prensado. Ora a bola ia para fora. Ora parava no goleiro. Mesmo que Batshuayi não seja um Lukaku, ausente por lesão nas duas primeiras rodadas, foi o suficiente para os primeiros três pontos serem computados para a exaltada Geração Belga.
Nos instantes finais do primeiro tempo, Alderweireld, do campo de defesa, encaixou um lançamento nas costas da defesa. O centroavante do Fenerbahçe teve maior competência para colocar a bola na rede do que seu adversário.
Mesmo com maior qualidade, a Bélgica entendeu que seria difícil atingir as expectativas que recaem sobre ela nesta Copa, ao menos na estreia. Tentando se expôr o mínimo possível, controlou o jogo na metade final. Ainda assim, passou por alguns sustos, sempre controlados por Courtois.
O Canadá chutou mais de 20 vezes a gol, contra cinco do adversário, mas ainda falta falar a língua do gol na Copa do Mundo — são quatro jogos e nehuma rede balançada. Ao final do jogo, a Bélgica traduziu em suas ações o que é preciso para vencer uma partida de futebol.
Copa do Mundo - Grupo F
BÉLGICA
Courtois; Dendoncker, Alderweireld e Verthongen; Castagne, Tielemans (Onana, INT), Witsel e Carrasco (Meunier, INT); De Bruyne, Eden Hazard (Trossard, 16’/2T) e Batshuayi (Openda, 32’/2T). Técnico: Roberto Martínez
CANADÁ
Borjan; Johnston, Steven Vitória e Miller; Hoilett (Larin, 12’/2T), Hutchinson (Koné, 12’/2T), Eustáquio (Osorio, 36’/2T)e Laryea (Adekugbe, 28’/2T); Buchanan Jonathan David e Davies.Técnico: John Herdman
Gol: Batshuayi, aos 43 minutos do primeiro tempo
Cartões amarelos: Meunier e Onana (B); Davies e Johnston (C)
Arbitragem: Janny Sikazwe (Zâmbia), auxiliado por Jerson dos Santos (Angola) e Arsenio Marengula (Moçambique). VAR: Juan Soto (Venezuela)
Local: Estádio Ahmad Bin Ali, em Al Rayyan